Eileen
- Porque me estás a contar isto agora?
- A minha mãe foi agredida e está internada. É grave Christian. Fez-me prometer que não iria á prisão visita-la, daí estar em Benidorm. - Ele afastou-se, atento a mim.
- Percebo o lado dela, vocês são tão próximas, ia ser horrível para ambas. No entanto, é ainda pior não se verem...
Concordei, apenas com um aceno.
- E então? Queres ir a Portugal?
- Sim. Quero ir vê-la. Estou a sufocar longe dela, sem saber sequer se vai recuperar. É uma merda toda a impotência que sinto.
- Vou contigo. Vamos ver a tia. Quando quiseres Eileen, não te vou deixar continuar a passar por tudo sozinha. - Olhei para ele vendo o brilho intenso nos seus olhos. - Devias de me ter contado assim que chegaste.
Assenti, sabendo que estava certo.
- Mas não é isso que importa. Estou aqui. - Ele murmurou baixo, encostando-se a mim. - Que posso fazer por vocês?
- Nada primo. Vou também encontrar-me com a advogada e tentar reduzir a pena.
Encolhi os ombros.
Comecei a contar-lhe melhor a situação em que estava a minha mãe. Queria que estivesse a par de tudo, agora que sabia a verdade.
Sentia um alívio enorme por lhe ter contado. A sua reação foi inesperada.
Mesmo sabendo que não ia disparar comigo, após saber de um assunto tão delicado, esperei que ficasse mais magoado e desiludido comigo, no entanto, aconteceu o oposto.
Toda a disponibilidade para estar comigo.
- Quando queres ir?
- Sexta assim que sair do estágio. E como tenho a audiência marcada para segunda, temos que voltar no Domingo.
Expliquei.
- Conta comigo. Como queres fazer?
- Posso pedir ao meu pai que nos leve ao aeroporto. Vens ter cá a casa e vai buscar-me, ainda não sei bem. Tenho que ver os voos... E onde vamos ficar.
- Tratamos disso tudo ainda hoje, se quiseres.
- E os teus pais? Christian, ninguém sabe. Quis manter segredo aqui, ok?
Ele encolheu os ombros.
- Só sabia eu e o meu pai. Agora sabes tu e o Ander. E quero que se mantenha assim... - Ele mudou drasticamente a sua expressão.
E eu percebi facilmente o porquê. Foi tão natural mencionar que o Ander sabia, que nem me apercebi da pessoa com quem falava. Ou do impacto que lhe podia causar.
- Ele sabe e eu não? Foda-se, mas que raio tens com ele, para ele saber?
- Relaxa Christian.
Afastei-me, cansada de discussões.
- Estava a tentar saber o que se passava entre vocês, quando me ligaram da prisão a informar que a minha mãe foi internada.
Ele manteve-se em silêncio, mas claramente as suas expressões denunciavam-no.
E o quanto me odiava de momento.
- Não consegui esconder. Foi péssimo. - Ficou novamente em silêncio. - Christian... Conta-me o que se passou ou então lida com o facto de ter falado com ele e de sermos amigos.
- Tu lá sabes. Nem me quero chatear. Voltando ao assunto que realmente importa... Vamos ver os voos ou não?
Respirei fundo.
Acabei por ir buscar o computador e por dizer ao meu pai que era seguro estar connosco, pois a reação não foi tão drástica.
O homem assim o fez, ajudando-nos a procurar estadia e até a marcar a viagem.
Peguei ambos os bilhetes.
- E os teus pais, sobrinho? Como vais explicar que tens bilhetes para Portugal assim sem mais nem menos?
Ele olhou para mim.
- Posso contar a verdade?
- Preferia que mais ninguém soubesse, mas eles estão no direito de saber. Só por favor, não me façam perguntas. - Ele percebeu o meu lado e ficou menos um problema.
Pouco mais de duas horas e estava tudo combinado com Christian e com o meu pai. Fui levá-lo até ao seu carro.
- Obrigada por compreenderes Chris. Devia de te ter contado antes, desculpa.
- Não penses mais nisso.
- Claro que penso. - Segurei no braço dele, quando abriu a porta do carro. - Sabes que és o irmão que nunca tive e o quanto gosto de ti. Eu fui parva apenas, desculpa.
O rapaz pousou a mão na minha, puxando-me para um abraço familiar. Afagou o meu cabelo e murmurou um eu também.
Percebi que correspondia ao que havia dito.
- Vai descansar. E qualquer novidade liga-me a contar, está bem? - Assenti.
- Obrigada por seres impecável.
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BALANCE ➛ ARON PIPER
Teen Fiction'O frio da tua alma, apagou a chama que há em nós'