24

233 14 2
                                    

Eileen

- Porque me estás a contar isto agora?

- A minha mãe foi agredida e está internada. É grave Christian. Fez-me prometer que não iria á prisão visita-la, daí estar em Benidorm. - Ele afastou-se, atento a mim.

- Percebo o lado dela, vocês são tão próximas, ia ser horrível para ambas. No entanto, é ainda pior não se verem...

Concordei, apenas com um aceno.

- E então? Queres ir a Portugal?

- Sim. Quero ir vê-la. Estou a sufocar longe dela, sem saber sequer se vai recuperar. É uma merda toda a impotência que sinto.

- Vou contigo. Vamos ver a tia. Quando quiseres Eileen, não te vou deixar continuar a passar por tudo sozinha. - Olhei para ele vendo o brilho intenso nos seus olhos. - Devias de me ter contado assim que chegaste.

Assenti, sabendo que estava certo.

- Mas não é isso que importa. Estou aqui. - Ele murmurou baixo, encostando-se a mim. - Que posso fazer por vocês?

- Nada primo. Vou também encontrar-me com a advogada e tentar reduzir a pena.

Encolhi os ombros.

Comecei a contar-lhe melhor a situação em que estava a minha mãe. Queria que estivesse a par de tudo, agora que sabia a verdade.

Sentia um alívio enorme por lhe ter contado. A sua reação foi inesperada.

Mesmo sabendo que não ia disparar comigo, após saber de um assunto tão delicado, esperei que ficasse mais magoado e desiludido comigo, no entanto, aconteceu o oposto.

Toda a disponibilidade para estar comigo.

- Quando queres ir?

- Sexta assim que sair do estágio. E como tenho a audiência marcada para segunda, temos que voltar no Domingo.

Expliquei.

- Conta comigo. Como queres fazer?

- Posso pedir ao meu pai que nos leve ao aeroporto. Vens ter cá a casa e vai buscar-me, ainda não sei bem. Tenho que ver os voos... E onde vamos ficar.

- Tratamos disso tudo ainda hoje, se quiseres.

- E os teus pais? Christian, ninguém sabe. Quis manter segredo aqui, ok?

Ele encolheu os ombros.

- Só sabia eu e o meu pai. Agora sabes tu e o Ander. E quero que se mantenha assim... - Ele mudou drasticamente a sua expressão.

E eu percebi facilmente o porquê. Foi tão natural mencionar que o Ander sabia, que nem me apercebi da pessoa com quem falava. Ou do impacto que lhe podia causar.

- Ele sabe e eu não? Foda-se, mas que raio tens com ele, para ele saber?

- Relaxa Christian.

Afastei-me, cansada de discussões.

- Estava a tentar saber o que se passava entre vocês, quando me ligaram da prisão a informar que a minha mãe foi internada.

Ele manteve-se em silêncio, mas claramente as suas expressões denunciavam-no.

E o quanto me odiava de momento.

- Não consegui esconder. Foi péssimo. - Ficou novamente em silêncio. - Christian... Conta-me o que se passou ou então lida com o facto de ter falado com ele e de sermos amigos.

- Tu lá sabes. Nem me quero chatear. Voltando ao assunto que realmente importa... Vamos ver os voos ou não?

Respirei fundo.

Acabei por ir buscar o computador e por dizer ao meu pai que era seguro estar connosco, pois a reação não foi tão drástica.

O homem assim o fez, ajudando-nos a procurar estadia e até a marcar a viagem.

Peguei ambos os bilhetes.

- E os teus pais, sobrinho? Como vais explicar que tens bilhetes para Portugal assim sem mais nem menos?

Ele olhou para mim.

- Posso contar a verdade?

- Preferia que mais ninguém soubesse, mas eles estão no direito de saber. Só por favor, não me façam perguntas. - Ele percebeu o meu lado e ficou menos um problema.

Pouco mais de duas horas e estava tudo combinado com Christian e com o meu pai. Fui levá-lo até ao seu carro.

- Obrigada por compreenderes Chris. Devia de te ter contado antes, desculpa.

- Não penses mais nisso.

- Claro que penso. - Segurei no braço dele, quando abriu a porta do carro. - Sabes que és o irmão que nunca tive e o quanto gosto de ti. Eu fui parva apenas, desculpa.

O rapaz pousou a mão na minha, puxando-me para um abraço familiar. Afagou o meu cabelo e murmurou um eu também.

Percebi que correspondia ao que havia dito.

- Vai descansar. E qualquer novidade liga-me a contar, está bem? - Assenti.

- Obrigada por seres impecável.

BALANCE ➛ ARON PIPER Onde histórias criam vida. Descubra agora