02

3.4K 78 7
                                    

Eileen
Dois meses mais tarde

Ansiava por terminar o estágio.

Mordiscava a ponta do lápis, enquanto analisava mais um caso de violência doméstica, para o estágio que havia começado há três dias, embora estando bastante empenhada.

Graças aos contactos do meu pai e ao seu estatuto, conseguiu colocar-me numa firma de advocacia em Benidorm. Estava entusiasmada, pois era uma forma de concluir a licenciatura e ajudar a enterrar bandidos.

Comecei a universidade em Portugal, no curso de Psicologia. No entanto, optei por algo muito mais específico, entrando na mente sombria de um assassino, no comportamento.

Embarquei numa aventura pela Psicologia Criminal, estudando os vários comportamentos obscuros e controversos.

Em Espanha, fui capaz de recomeçar os estudos e em simultâneo, conseguir um estágio numa advocacia, onde conseguia praticar tudo o que tinha aprendido e estudado. Embora, ser algo bastante meu também.

Tinha aulas três dias por semana e nos restantes dois, estava na firma de advogados. A dificuldade, era conciliar os estudos do curso e os casos que me eram atribuídos.

Alguns já resolvidos, outros mais recentes.

Após anoitecer, apercebi-me que estava sozinha no escritório. Novamente perdida num caso, deixei de ter noção das horas.

Tinha sido assim, desde que comecei.

Foram somente três dias e ainda assim, anoitecia lá fora e eu continuava perdida numa imensidão de palavras. Não tentava agradar os meus chefes, pelo contrário. Apenas mantinha a minha cabeça ocupada.

E dessa forma, o tempo passava mais rápido. O que me fazia perder a noção do mesmo. Percebi que eram quase sete da noite.

Passaram duas horas.

Assim que entrei no carro, apressei-me a ligar para o telemóvel da minha casa.

Ouvi a voz doce da pequena.

- Mana, onde estás? Já está muito tarde outra vez! - Reclamou, embora preocupada. - Estas a chegar, não estás?

- Desculpa bebé, a mana esqueceu-se das horas mais uma vez. Mas sim, estou a ir.

- E ainda agora começaste!

Protestou de novo.

- Tens razão! Mas também, só falta amanhã e depois estou em casa contigo! - Disse-lhe, para a deixar mais animada.

Assim aconteceu.

Conversei um pouco com ela até chegar a casa, sabendo que ficava nervosa quando não estava por perto. Ainda mais, quando passava a hora e eu não dava qualquer sinal. Fosse por causa da faculdade ou agora, do estágio.

Ao chegar a casa, fui recebida por um abraço forte. A Constança esticou os braços, para que a pegasse ao colo.

Assim o fiz, sentando-me com ela no sofá.

- Como correu o teu dia?

- Bem! Os meninos parecem simpáticos. Agora percebo o porquê de me teres ensinado a falar espanhol e inglês desde bebé.

- Continuas uma bebé, sua tolinha. - Brinquei, dando-lhe um beijo no rosto.

Uma longa conversa sobre o seu primeiro dia de escola se desenvolveu, até ouvir o meu pai a entrar na sala de estar. Olhei para ele, vendo-o com o telemóvel na orelha.

- O que queres jantar?

Encolhi os ombros, pois não sabia.

- A Olívia está a preparar alguma coisa, vou ter que sair, mas volto cedo! - Assenti. Logo, o meu pai pegou na pasta e saiu de casa.

- Vou tomar banho e pousar as coisas. Vai dizer á Olívia o que te apetece papar!

- Sim!

Saltou do meu colo, correndo para a cozinha.

Enquanto isso, aproveitei para subir para o quarto e deitar-me na cama. Estava cansada, os meus olhos doridos de tanto ler.

Olhei para o teto do quarto, sentindo todos os pensamentos a quererem surgir. Algo que tinha lutado muito para que não acontecesse. Apesar de estar tudo tão fresco para mim. Só de fechar os olhos, as imagens apareciam.

Não estava a lidar com a situação, apenas a evitá-la ao máximo. Dois meses depois, parecia que nada tinha acontecido.

Estava a viver a minha vida ainda melhor que em Portugal, enquanto a minha mãe confinada a um quarto de psiquiatria, após ter morto um homem que abusava dela e tentou fazê-lo com a filha, em legítima defesa.

Como era nojenta a lei em Portugal.

Passei a mão no rosto, impedindo-me de afogar no acontecido. Era um caminho sem volta, uma noite de pesadelos e gritos.

Acabei por tomar banho, escovar o cabelo e por hidratar a minha pele morena.

- Menina Eileen, vem jantar?

Ouvi do outro lado da porta, após Olívia ter batido na madeira clara com calma. Deixei que afastasse a porta.

- Diga á Constança que adormeci, por favor. Só quero mesmo estar em silêncio.

Balançou a cabeça, fechando a porta.

Detestava mentir á minha irmã, mas não me sentia capaz de lidar com a sua energia e muito menos com a carência que tinha por mim, após o que vivemos naquela casa.

Compreendia perfeitamente, mas o cansaço era demasiado. Só precisava de dormir.

(...)

A little introduction

BALANCE ➛ ARON PIPER Onde histórias criam vida. Descubra agora