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Eileen

Acordei num sobressalto.

O meu peito estava dorido devido aos batimentos cardíacos acelerados. Toda a minha pele estava suada e os meus olhos derramavam lágrimas impagáveis.

Sentei-me na cama, juntando os cabelos no cimo da cabeça, onde os enrolei e prendi com o elástico que usava sempre no pulso.

Destapei-me, levando as mãos ao rosto. Estava exausta de sonhar com o acontecido. Ver a cara da minha mãe e relembrar tudo o que me havia pedido naquela visita, matava-me aos poucos e cada vez parecia ser pior.

Começava até a sentir-me culpada pelo que fiz, por prometer honrar o que queria. Como podia não ir visita-la há um mês?

Ela salvou a minha vida.

Está a pagar por um crime, embora sendo em legítima defesa e eu só me sentia uma egoísta e ingrata por lhe ter virado as costas. A culpa era um sentimento tão consumidor.

Levantei-me da cama, procurando acalmar-me, visto que o meu coração acelerava ainda mais e a um ritmo assustador.

Abri a janela do quarto, recebendo uma brisa fresca e refrescante. Pousei ambas as mãos nas bochechas, secando as lágrimas. Suspirei, num misto de emoções agonizante.

Reparei que alguém estava no exterior da minha casa. Passava pela mesma com algo nos lábios, que captou a minha atenção.

Usava um capuz preto, umas calças igualmente da mesma cor. Atenta á pessoa, reparei que um segundo indivíduo se aproximava. Fizeram um cumprimento com as mãos e uma troca com os dedos, o que me fez desconfiar.

Depois, o que se havia aproximado simplesmente acenou e entrou num carro mais á frente da minha vivenda.

Era muito óbvio que tinha acontecido.

E o que viajou pela minha mente, levando-me a calçar uns chinelos e a descer as escadas.

Peguei na minha carteira, saindo com todo o cuidado e silêncio de casa. Percorri o jardim da vivenda, chegando ao portão. Ao abri-lo, avistei ambos os lados, procurando-o.

Este, olhava-me aterrorizado.

- Desculpa, desculpa. - Sussurrei.

Nada me disse, começando simplesmente a afastar-se. Desesperada e receosa, alcancei-lhe a mão, para que parasse de andar.

- Então miúda, queres alguma coisa?

- Na verdade... Quero sim. - Entreguei-lhe uma nota de dez. - Qualquer coisa.

- E achas o quê? Tenho cara de quem vende cenas dessas? Estás louca? - Olhou em redor, a desconfiar de mim.

- Procuras alguém?

Ele soltou-se de mim, apontando o seu dedo na minha cara, muito nervoso.

- Olha chavala, não sei o que pensas ou se te foram dizer algo, mas eu não vendo. - Elevou o tom de voz, segurando com força o meu braço, apanhando-me de surpresa.

- Larga-me filho da mãe, vi-te pela janela do meu quarto! - Soltei-me brusca, empurrando-o para longe. - Aquele quarto.

Apontei para a única luz acesa.

- Não tenho a culpa que sejas um descuidado e que te deixes apanhar assim.

Revirei os olhos, vendo-o mais agitado.

- O que é que queres em troca de ficares calada e não comentares com ninguém? - Segurou-me pelo braço de novo, levando-nos para o escuro, devido aos candeeiros da rua.

- Só quero o que tens. Foi esse o motivo que me fez sair de casa ás três da manhã.

Após acalmar-se e perceber que não era nenhum esquema orquestrado pela polícia, ele largou o meu braço.

Suspirou pesado, embora aliviado.

Percorreu o meu corpo com o olhar, percebendo que não lhe tinha mentido. Estava, no meio da rua, apenas com uma t-shirt pouco abaixo das coxas e uns chinelos.

- Queres quanto?

- Dez. Não sei bem quanto é aqui, mas em Portugal era o bastante. - Balbuciei, visto estar nervosa com a situação.

Começava a cair em mim.

Como assim tinha saído ás três da manhã de casa, para abordar um dealer a vender á porta da minha vivenda, sem o conhecer? Podia ter corrido muito mal.

O rapaz tirou um dos sacos, dentro do maior e entregou-me, aceitando o dinheiro. Engoli toda a coragem a seco.

- Obrigada.

- Tem cuidado chavala, está brincadeira podia ter-te saído muito errado.

Lambi os meus lábios.

- Achas que podes arranjar-me uma talha e um filtro? - Mordi os meus lábios, com os nervos á flor da pele. - Por favor.

Arqueou a sobrancelha. Pela sua expressão, ele estava divertido com a situação.

Abriu a pequena bolsa de novo, tirando uma mortalha e um filtro. Entregou-me num gesto muito lento e com um olhar penetrante. Peguei nos dois, colocando junto ao saco que me havia acabado de entregar.

- Precisas de mais alguma coisa? - Balancei a cabeça. - Tens a certeza que sabes o que estás a fazer? E o tens em mãos?

Assenti, sem conseguir formular palavras.

- Tem uma boa noite.

- Igualmente. E obrigada.

O rapaz acenou-me, desaparecendo pela noite cerrada. Apressei-me a voltar para a vivenda ao sentir as minhas pernas trémulas. Chocada, fui diretamente para o meu quarto.

Sentei-me na cama com o saco de erva. Não a queria desiludir, mas precisava de descansar. E era o único que podia resultar.

Tal como antes.

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