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Eileen

Soltei o fumo lentamente.

Observava os passos lentos que traziam Ander para minto de mim. Senti um nó na garganta, o cenário era mais fácil na minha mente.

Agora que estava tão perto de o confrontar, não sabia bem o que lhe dizer.

A verdade é que nunca me fez mal. Ou algo que me deixasse desconfortável. Não o conhecia, de todo, no entanto, tornava-se fácil recorrer a ele, a uma palavra de conforto.

- Aqui estou.

- O Christian contou-me o que aconteceu. - Os seus olhos encontraram os meus. - Quis saber a tua versão da história.

Um sorriso sarcástico surgiu no rosto dele.

- Claro que contou. - Acendeu uma ganza. - Se já sabes, o que importa?

- Importa que não te estou a julgar, Ander. Deve ter sido difícil para ti. Quer dizer, ter uma overdose e perder uma pessoa...

- Podes parar Eileen. Não preciso da tua pena, nem de lições de moral.

Franzi a sobrancelha.

Não estava a conseguir perceber a sua reação um pouco bruta. A minha ideia não era julgar e muito menos ter pena dele. Só queria entender o que aconteceu e o porquê de se ter perdido ao ponto de quase perder a vida.

Mordisquei os meus lábios, desviando o olhar do Ander. Não sabia o que lhe dizer e ele muito menos sabia.

- Ele era importante para ti?

- Não da forma como o Chris achava. Nunca nos envolvemos. Apenas fumávamos juntos, já que mais ninguém alinhava.

- Fumar é uma coisa. Outra, foi onde vocês se decidiram meter. Nunca o trai, embora ele não querer saber. - Encolhi os ombros. - Já passou, aprendi a viver com isso. Se ele não aprendeu, não tenho culpa disso.

Balancei a cabeça.

- Precisas de mais alguma coisa?

- Ander! Estás a agir assim comigo porquê? Eu não concordo com o que aconteceu, mas não te estou a julgar.

- Não vai demorar. Era o que o Chris queria.

- Deixa-te de merdas, o meu primo não queria que viesse falar contigo. Se estás a insinuar que me vou afastar de ti ou algo do género, só vai acontecer por tua causa.

Levantei-me, terminando de fumar. Levantou-se logo a seguir, encarando-me. Senti os dedos dele a procurar pelos meus.

- Desculpa, só não esperava esta conversa.

- Que mais se passa? Pareces agitado. - Fiquei á frente dele, respirando fundo.

Precisava de ter calma.

- Cenas familiares, nada demais.

- Vou ignorar o quão insensível foste, voltar a sentar-me e recomeçar esta conversa. - O canto dos seus lábios curvaram.

Acabou por se sentar também, partilhando o que fumava comigo. Ouvi-o suspirar frustrado, fazendo-me encara-lo. Reparei então no quão perdido o seu olhar estava.

Parecia estar a pensar no assunto com o qual o havia confrontado há uns minutos.

- Não há muito para te contar. Estava perdido e perdi a noção das coisas. - Olhou para mim. - O que queres saber?

- Nada Ander, não te preocupes.

O silencio instalou-se de novo.

- Nunca quis que chegasse ao ponto de a perder, foi horrível acordar e vê-la ao meu lado completamente pálida. Os olhos abertos, secos e ainda a agulha no braço. Eu nunca o fiz, nem sabia que ela o fazia.

Encarei-o, surpreendida por estar a falar no assunto por incentivo próprio, sem que fossem as minhas perguntas.

Ele olhou para mim, bastante frágil.

- Tínhamos feito uma festa. Acabamos a dormir no mesmo quarto, mas nada aconteceu e eu adormeci com ela viva. A última memória que tenho dela, é o boa noite que me deixou ao entrar para a casa de banho.

- Ander...

- Foi então que adormeci. E quando acordei na tarde seguinte, ali estava ela...

- Porque te deixaste levar com a culpa?

- De que me servia denegrir a imagem de uma pessoa que jamais se podia defender? Eu nunca tive uma overdose. Só acharam que sim.

- Como assim?

- Não percebo a tua dúvida. O teu primo contou-te a versão que todos pensam. E eu não vou mudar a história. - Encolheu os ombros. O rapaz parecia muito afetado. - Já passou, ok? E tu, não mexas no passado.

- Ainda assim, não consigo entender.

- Precisas de o fazer?

Encolhi os ombros, sem saber que resposta era suposto dar-lhe de momento.

O silêncio predominou. Apenas o vento ligeiro se fazia ouvir, levantando algumas folhas. Senti o meu corpo a arrepiar-se também.

- Desculpa ter falado do assunto.

- Percebo porque o fizeste. Eileen, acho que te precisas de manter longe de mim.

- Que conversa é essa?

- O teu primo nunca vai aceitar. Ele gosta mesmo de ti e vai querer proteger-te sempre e eu não estou para mais confusões com ele. - O Ander levantou-se.

- Acho que ainda sou eu a comandar a minha vida Ander e não o Chris. E eu não quero que te afastes de mim. Ou afastar-me.

- E vais viver bem contigo própria sabendo que o Chris fica desiludido contigo?

- Ele vai ter que se habituar á ideia que não tenho cinco anos e que posso escolher os meus amigos. Com quem quero estar. - Disse-lhe, um pouco mais firme do que esperava, ficando até surpreendida comigo.

Acabou por respirar fundo, derrotado.

(...)

Este beef 😤

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