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Eileen

O tempo parecia ter abrandado.

Sentada no baloiço há pouco mais de uma hora, terminava de fumar. Tinha o coração em pânico, visto que estava cada vez mais perto de ver a minha mãe.

Depois destes meses. Depois das cirurgias a que foi submetida e todo o sofrimento. Passei o dia a informar-me sobre o seu estado, tal como sobre o próximo passo com a advogada. Voltar para a cadeia não estava nos nossos planos, ela não podia voltar para lá.

Podia ser atacada de novo.

A única solução era a pulseira e ficar em casa, se bem, que não tínhamos uma morada. Largar tudo em Espanha seria muito complicado. Tive a ideia de a trazer para cá.

Talvez ficar pela casa do meu pai. No entanto, as coisas não iam ser nada fáceis. Suspirei, sem saber para que lado me virar.

Queria tanto ajudá-la.

- Eileen? Por aqui? - Assustada, olhei para cima e reconheci o Ander. - Desculpa! Estavas mesmo distraída.

- Sim, estava com a cabeça noutro lado. - Disse, ainda a acalmar-me.

Reparei nos rapazes que o acompanhavam.

- Podemos juntar-nos a ti?

- Claro que sim. - Encolhi os ombros. - Estava a acabar de fumar. - Levantei a mão, mostrando-lhe o objeto apagado.

- Percebi que sim. - Olhou para os amigos, que se sentaram nos baloiços. - Estes são o Omar e o Guzman. - Acenaram-me, levando-me a fazer o mesmo de volta. - Eileen.

- Já ouvimos falar de ti.

- Eras a rapariga que estava a olhar para o Ander da janela. - Relembrou-nos Guzman e os nossos olhares cruzaram-se.

- Culpada. O vosso amigo não é nada discreto, para quem trabalha numa esquina.

Ander sabia exatamente a que me referia.

- Então tu és a tal chavala que o salvou? - Eles olhavam-me atentos. Tal como para Ander. - A sorte que te saiu, puto.

- Até parece.

Uma longa conversa á volta da falta de necessidade do trabalho extra do rapaz surgiu e rapidamente percebi que Guzman não era nada a favor disso. Concordava com ele, visto que de todos, era o que tinha mais cabeça.

Depois, apercebi-me que eram grandes amigos e que Omar só se juntou mais tarde. Pela forma que os dois primeiros falavam, era notória toda a confiança e lealdade que os unia.

- Eileen, como estás?

O rapaz sussurrou, enquanto os dois amigos se distraíram com os telemóveis.

- Mais ou menos.

- Como está a situação da tua mãe?

- Estagnada. Acordou hoje, finalmente. Mas está muito confusa e não se lembra de nada. Se tudo correr bem, amanhã já estou.

- A sério? Vais a Portugal? - Assenti. - Tenho a certeza que vai gostar de te ver. - Forcei-lhe um sorriso, confortada pelas suas palavras. - E vais sozinha?

- Não, contei ao Christian.

Encolhi os ombros, respirando fundo.

- Ele ficou um pouco magoado, mas concordou facilmente. Aliás, nem esperava o contrário. Só devia de ter contado antes.

- Ainda bem Eileen, fico mais descansado por teres o teu primo contigo. - Assenti, sabendo da situação entre ambos. - Vai correr tudo bem, tu tens de ficar calma e viver um dia de cada vez, ansiedade da cabo de ti.

- Eu sei, já há muitos anos que é assim.

Continuamos a conversar, até que tomei a iniciativa de ir para casa. O Ander ofereceu-se a caminhar comigo.

Agradeci a sua disponibilidade e aceitei, visto que era bastante tarde. Enquanto isso, o Omar e o Guzman acabaram por vir também. Assim, Ander não voltava sozinho.

- Fica bem Eileen, qualquer coisa podes contar comigo. - Murmurou baixo.

- Obrigada. Assim que souber alguma coisa, se quiseres, posso dizer-te. - Parei junto ao portão e virei-me para ele.

- Se quiseres, agradeço.

Assenti, despedindo-me dos três.

Entrei então em casa, apressando-me a subir as escadas para o meu quarto. Porém, ouvi um chiar de uma porta, captando a minha atenção, encontrando a minha irmã.

Estranhei que estivesse acordada. Era perto da uma da manhã. Muito tarde.

- O que fazes acordada?

- Eu sabia que não estavas no teu quarto e ouvi a porta de casa. - Explicou. - Andas estranha. O que se passa?

- Só trabalho fofinha, está tudo bem. - Baixei-me perto dela. - E tu? O que tens?

Encolheu os ombros.

- Não gosto que passes os dias longe de mim. E vão ser logo três. - Resmungou, cruzando assim os seus braços. - Quero ir.

- Não podes Constança... Vou com a equipa do trabalho... - Menti, suspirando.

- Mas... Eu ficava no quarto.

- Doida, não pode mesmo ser. Mas a mana compensa quando voltar! - Exclamei, de modo a anima-la. - Agora vai dormir, amanhã tens a escola e vais estar cansada.

Acabei por ir deita-la na cama, conversando mais um bocadinho. Começou a ficar cansada e não demorou muito a dormir.

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