Eileen
- Vais ficar chateado comigo?
Interrompi o imenso silêncio que nos abraçou, desde o almoço até deixar-me perto do edifício onde estagiava novamente.
Virei o corpo para o rapaz, já sem o cinto colocado. O mesmo desligou o carro, embora o lugar onde tinha parado não fosse o melhor. Só ligou os quatro piscas, como precaução. Fiquei a olhar para ele.
Esperava uma resposta, qualquer coisa.
- Fala com ele, não quero ser eu a contar-te o que se passou. És prima dele. Se ele não quiser falar, eu conto, ok?
- Tudo bem. Desculpa ter falado do assunto, só não gosto destas confusões.
Balançou a cabeça.
- Obrigada pelo almoço Ander.
- Não tens que agradecer. Se precisares de falar, manda-me mensagem e vamos ao parque fumar uma. - Piscou o olho.
Mostrei-lhe um sorriso, saindo por fim do carro. Voltei para o meu escritório, onde voltei a afogar-me nos pormenores do caso, que por nós esperava dentro de dois dias.
Não podia fazer má figura. E assustava-me não estar à altura de todos os outros.
leerojas.
A tua história👀 1829
Prestes a terminar mais um dia no escritório e com todas as ideias bem trabalhadas na minha mente, dediquei-me ao telemóvel.
Estava cansada.
Reparava no crescimento de seguidores e interações que tinha nas redes sociais. Comecei a notar desde que os meus amigos partilharam histórias onde me identificaram. A maioria dos novos seguidos e gostos eram de pessoas que o meu primo também seguia.
Pensava bastante em Christian. E no quanto começava a detestar estar afastada dele. Pensei em contar o que se passava realmente comigo e a ideia parecia horrível.
No entanto, tencionava falar com ele. Queria ir a Portugal, mas não sozinha.
Acabei por enviar mensagem.
elchicoguapo
Estás por aqui?
Queria falar contigo. É importante... Achas que nos podemos encontrar?Deixei a mensagem, começando a arrumar os arquivos e o próprio escritório.
De seguida, despedi-me dos meus colegas e caminhei para o meu carro. Ao entrar no Ibiza, recebi a resposta do Christian.
Rapidamente me apressei a ler.
elchicoguapo
Se for para falar do teu amigo, não, obrigado
Qual foi a parte do importante que não percebeste?
Pronto
Estás onde?A ir para casa. Podes ir lá ter?
O Christian concordou.
Levei pouco tempo a chegar á minha casa, reparando no carro do meu pai. Achei bastante estranho, visto que não me tinha avisado que ia chegar mais cedo a Espanha.
Entrei em casa, vendo-o com Constança. Acabou por ir buscá-la á escola, que me aliviou, era muito na minha cabeça.
Mostrei-lhe um sorriso forçado, conversando um pouco com Constança. Quando o Christian chegou, pedi que a pequena fosse para o quarto e deixasse os adultos conversar. Assim foi, pois ela terminava os trabalhos de casa.
- Vais contar?
- Tem que ser. Quero ir a Portugal e não quero ir sozinha. O Christian merece saber, afinal, ela é tia dele.
Observei-o a percorrer o jardim exterior.
Quando entrou, estranhou a presença do seu tio, devido ao facto de saber que estava fora em negócios. Cumprimentou-o, olhando depois na minha direção, notoriamente chateado. Era um assunto que teria de esperar.
- Preciso de te contar uma coisa e espero que não fiques chateado... Mais chateado comigo. - O rapaz arqueou a sobrancelha.
- Vou deixar-vos sozinhos.
O meu pai dirigiu-se para a cozinha. Acabei por me sentar no sofá, muito nervosa.
- O que se passa?
- Christian, não te contei o verdadeiro motivo por estar cá. Quis esconder, aliás, não queria só falar do assunto, eu acho.
- De que assunto? Estás a deixar-me nervoso!
Sentou-se á minha frente.
- A tia está presa. - Disparei apenas, reparando no quão confuso ele ficou. - Durante estes anos em Portugal a viver com o meu padrasto... Não foi nada fácil.
Em silencio, esperava mais pormenores. Senti que estava a enrolar bastante e que não sabia o que lhe dizer ao certo.
- Ele agredia-a. E muito. Bebia todos os dias e insinuava-se a mim. - Expliquei. - Era álcool a um nível assustador, quase matou a minha mãe e tentou abusar de mim e até da Constança. Ela pegou numa arma e salvou-nos.
Estupefacto com o que havia dito, o Christian levou as mãos á cabeça.
- Desculpa não ter contado. Por favor, não fiques chateado comigo. Nem penses mal da tia ou julgues... Ela salvou-nos. Podia já não estar aqui Chris...
- Se ela não o tivesse morto, eu próprio o matava. - Rosnou, bastante irritado. - Percebo o que aconteceu, como podes achar que não? E porque merda não contaste logo? Porra Eileen, era suposto confiares em mim.
- Não se trata de confiança. Estou perdida ainda Chris, não está a ser nada fácil. Tem sido um inferno para mim.
Balancei a cabeça, mantendo as lágrimas nos olhos, embora fosse complicado. O meu primo acabou por se sentar a meu lado, beijou o meu rosto e puxou-me para um abraço.
- Não tem que ser mais.
- A Constança presenciou tudo... Ela tem quatro anos. Assistiu ao próprio pai a bater na mãe, na irmã e a morrer.
- Nem consigo imaginar o horror que foi.
Encolhi os ombros, acabando por suspirar.
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BALANCE ➛ ARON PIPER
Подростковая литература'O frio da tua alma, apagou a chama que há em nós'