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Eileen

Sentados numa zona mais calma e desabitada da praia de Poniente, conversava com Ester. Os anos passaram, a rapariga estava diferente.

Muito mais crescida. Com a cabeça no sítio certo, embora continuasse a beber como se não houvesse amanhã. Era algo característico deles, desde que me lembro. E da escola frequentada, do grupo de amigos e mentalidades.

Nunca fomos próximas, pois passava pouco tempo em Espanha. E há cinco anos atrás, eles não se conheciam. A maioria pelo menos, visto que o Samuel e o Nano cresceram connosco, ao fim da rua. O Christian tornou-se logo próximo deles e eu fui arrastada, tornando-me bastante próxima também.

Não tinha razões de queixa. Sempre fui muito protegida pelos três. Afugentavam os meninos que se interessavam por mim, mas de resto, as memórias eram positivas.

- Como podes ver amorzinho, não te menti. Já podes parar de me castigar?

Balancei a cabeça, divertida.

Encostada a um muro de cimento, pois toda a estrutura onde nos encontrávamos era feita por e de cimento. Muito isolada da praia, um pouco mais obscura que o normal.

Lembrava-me das confusões com os miúdos ao início. As brigas eram sempre neste espaço, tal como a venda de droga.

E onde muitas pessoas paravam para fumar.

Relembrava o que tinha feito na noite anterior, suscitando uma enorme vontade de fumar, mas não o queria fazer diante do meu primo. Queria manter-me discreta.

Perdida entre conversas aleatórias, tirei o telemóvel do bolso das calças. Deslizava o dedo pelo ecrã, até que vozes ecoaram pelo espaço. O meu olhar percorreu toda a estrutura, pois não imaginava quem podia la estar.

Até que senti o meu rosto a aquecer, ao reconhecer o capuz preto da noite anterior. Os nossos olhares cruzaram-se por instantes, até o ter deixado de encarar.

Respirei fundo, vendo-o a sentar-se com os seus amigos num dos cantos opostos. Tentava apenas disfarçar o olhar.

Podia vê-lo melhor.

Mesmo ao entardecer, a luz existente era mais que suficiente para reparar nas feições suaves e bonitas dele. Olhos num tom de mel, lábios um pouco avermelhados e a pele clara.

Usava um piercing e uma argola pequena. Tal como na noite anterior, roupa preta e capuz. Os seus dedos seguravam uma ganza.

E eu fiquei extremamente... Curiosa.

E com uma vontade imensa de fumar. Porém, o meu primo chamou por mim.

- Estás em que mundo?

- Estava distraída. - Comentei, tentando manter a expressão minimamente convivente e nada atrapalhada. - Que se passa?

- Estamos a combinar ir jantar, vens?

- Não me leves a mal, mas quero muito ir para casa. Amanhã trabalho cedo.

Eles compreenderam e entretanto o Christian levantou-se, afirmando que estava na altura de me levar para casa. E também, que estava com fome e precisava de jantar.

Agradeci a boleia, sendo que Nano veio connosco no carro, para que o meu primo fosse com companhia para o restaurante.

Acenei-lhe, esperando que se afastasse.

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A tua história

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Descia a rua, após terminar de jantar e de arrumar a cozinha. A Constança, adormeceu ao fim de uns minutos, dando-me liberdade para, finalmente, sair sozinha.

Sem os meus amigos. Sem apressar para estar em casa junto com a mais nova. Apenas tempo para mim, o que tanto precisava.

Procurava uma zona pouco movimentada e um pouco mais escurecida ali perto.

- Procuras alguém?

Aterrorizada, embora sem ter feito qualquer reação, olhei para trás. Segurava um saco preto atado, típico de lixo de uma casa, olhando com atenção para mim. E um tanto animado, talvez por me ter conseguido surpreender.

Balancei a cabeça, negando o que havia perguntado. Honestamente, tudo o que menos procurava eram pessoas.

- Pensei que quisesses algo mais.

- Ainda nem usufrui do que comprei. - Disse-lhe, como se fosse a conversa mais normal para se ter á porta de uma casa.

- Como não? Estavas lá no spot.

Encolhi os ombros, sem resposta.

- Honestamente, fiquei curioso... Se és amiga do Nano, porque não lhe pediste? - Fez-me um curto sinal para que o seguisse.

Atravessámos a estrada, de modo a levar o lixo para o contentor mais perto.

- Eles não sabem.

Mordisquei os meus lábios, ao reparar que tínhamos começamos a descer a rua, como se o rapaz me conhecesse. Ou ele a ele. No entanto, acabei por o acompanhar.

- Não sabia que tinhas voltado para cá. Já te tinha visto algumas vezes por aí. - O seu olhar, tão penetrante, captou o meu.

- Estou a viver com o meu pai.

- Algum assunto em particular?

- Não, só trabalho. Uma boa oportunidade para seguir o meu curso. - Expliquei-lhe, omitindo a maior razão por estar em Espanha.

- São dez da noite, ninguém vai aparecer. - Ele garantiu, sentando-se no baloiço.

Estávamos num parque esquecido, atrás das vivendas onde morávamos. Era realmente uma ideia assustada permanecer ali. Reparei que ele estava completamente confortável, fazendo-me pensar inúmeras coisas.

Como a ideia dele ser um psicopata.

- Porque me estás a olhar assim?

- Hum... É que... Não comprei mortalhas. - Foi a melhor desculpa para esconder aquilo que os meus pensamentos diziam.

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