Eileen
Abraçados num silêncio, os nossos olhares conversavam. Comecei a ficar impaciente, todo o suspense dava comigo em maluca.
- Fala de vez!
- Nada demais. Ele esqueceu-se de quem me começou a orientar quando tive uns problemas na escola e agora olha para mim como se fosse um criminoso. - Disse por fim.
- Sabes que isso não faz qualquer sentido. Não pode ser porque andas a vender.
- O teu primo é uma criança Eileen e quando as coisas fogem do controle dele... - Mostrou uma expressão indecifrável.
- Ele o quê?
- Não puxes o assunto, chavala. O assunto não te vai trazer nada de bom.
- Estamos a falar do meu primo.
Revirei os olhos, bastante chateada com a falta de palavras da parte do Ander.
Sentia-me ainda mais curiosa.
No entanto, fomos interrompidos pelo feito da Constança. A rapariga correu na minha direção com o meu telemóvel nas mãos. Disse que era a terceira vez que tocava.
Agradeci-lhe, olhando para o ecrã. Não conheci o número, o que me deixou pensativa. Pedi que ela fosse para casa.
- A mana já vai, ok? Obrigada doida.
A Constança ficou a olhar para o Ander, muito tímida e este apenas acenou para ela.
Antes de ligar de volta, recebi outra chamada do mesmo número. Desculpei-me ao Ander por estar a interromper a conversa e atendi. Ouvi a gravação do outro lado.
E ao perceber de onde era, fiquei sem chão.
Senti-me perder a noção de onde estava, todo o meu corpo ficou petrificado. Engoli a seco toda a gravação, aceitando a chamada.
Respirei fundo, mantendo-me calma. Ou então apenas tentei fazê-lo.
- Tu estás bem?
Encarei Ander.
Os seus olhos preocupados observavam.
- Boa noite, estou a falar com Eileen Rojas? Fala a Ferreira, guarda prisional. - Lambi os meus lábios.
- O que aconteceu á minha mãe? - Disparei, era inevitável não perguntar por ela.
- Há possibilidade de passar...
- Não estou em Portugal. Apenas diga-me o que se passou, por favor. - Pedi, receosa.
- Lamento então dar-lhe esta notícia por chamada, mas a sua mãe sofreu um acidente e está internada desde a noite anterior. - Foram palavras suficientes para deixar de a ouvir. Um nó deu-se na minha cabeça.
- Como assim um acidente?
- Foi encontrada na sela, bem... Foi um golpe profundo, mas a operação correu bem. - Como assim um golpe profundo?
- Golpe profundo? Está a dizer-me que foi atacada? - Ouvi silêncio do outro lado. - Não há qualquer proteção nesse sítio! Ela nem merecia estar aí! - Elevei o tom de voz.
- Lamento menina Eileen. Vou pedir ao hospital para entrar em contacto consigo. - As suas palavras pouco eram ouvidas.
Desliguei a chamada.
Lágrimas subiram aos meus olhos. Porquê? Ela não merecia nada disto.
Aquele lugar não era, de todo, para a minha mãe, que apenas protegeu as suas filhas. A falta de justiça era repugnante.
- Eileen? O que se passa?
Senti a sua mão no meu braço, captando a minha atenção. Afastei o seu toque, revivendo aquela noite novamente. Sentia-me dormente, pela expressão de Ander, não estava a assistir a uma reação muito bonita.
Levei as mãos ao rosto, afastando as lágrimas, a minha irmã não me podia ver nervosa, muito menos a chorar.
- O que aconteceu? Fala comigo.
O seu tom de voz suavizou, perante o estado em que em encontrava. Ao olhar para ele, volto a sentir o meu corpo, que tremia. Encostei-me só muro gelado da vivenda, com Ander parado á minha frente.
Escondia-me dos olhares curiosos de Constança, que ás vezes espreitava pela cortina da nossa sala, onde estava.
- Ninguém sabe.
- Fala comigo. Estás tão nervosa Eileen, estás a deixar-me assustado! - Confessou.
- Preciso de ficar sozinha, ok?
- Achas? Não te vou deixar assim! Ainda te dá uma merda grave e não tens ninguém. - Olhou para mim, pousando a mão no meu braço. - Até posso ficar calado. Só aqui.
Assenti, baixando a cabeça.
Tornava-se difícil manter a história em segredo, principalmente neste momento. Após a chamada que havia recebido.
E na presença de alguém. Agradecia por não ter sido com o Christian, ele conhecia-me bem e ia acabar por me persuadir. Até porque, cada vez era mais complicado esconder o assunto. O conforto na presença dele, com os rapazes, era um sentimento bastante familiar.
- Estás a tremer. - Senti ambas as suas mãos nos meus braços. Sentia-o bastante perto. - Eu acho que devias entrar.
- A Constança não me pode ver assim
Sequei novamente o rosto ás mangas do casaco que usava, suspirando frustrada.
- Queres que ligue ao Christian?
- Não! Não preciso de discussões. E não quero que ele saiba o que se passa. - Respirei fundo e ganhei coragem para o encarar. - Desculpa, não devia de ter dito nada.
Ele mostrou-se confuso.
- Mandar-te mensagem, falar do Christian. É mais fácil de ninguém estiver perto. - Divaguei, sem saber o que pensar.
- O que é mais fácil? Não te conheço, nem tu a mim Eileen, podes contar-me.
- Sem te conhecer?
- Já deu para perceber que não queres que as pessoas mais próximas de ti saibam o que quer que estejas a esconder. - Murmurou calmo. - E não é o meu caso.
Presa na intensidade do olhar dele, começava a ponderar seriamente contar-lhe.
- E claramente precisas de falar.
(...)
😐😐
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BALANCE ➛ ARON PIPER
Teen Fiction'O frio da tua alma, apagou a chama que há em nós'