Yoongi - 1988

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Minha alimentação nunca esteve tão irregular como agora. É claro, era apenas de minha responsabilidade se eu resolvera me tornar uma espécie de justiceiro só para tentar reduzir a minha culpa. Bem, era o ônus que eu deveria aceitar por me tornar uma pessoa com princípios novamente.

Eu precisava ser esperto: sempre que eu percebia algo parcialmente ilegal acontecendo, eu já deveria estar preparado para caçar. Além de tudo, eu também tive que aprender a brigar. No auge dos meus mais de 130 anos, eu cheguei ao ponto de precisar aprender a brigar. Foi necessário, já que eu precisava ganhar um pouco de tempo até que eu pudesse separar um criminoso de sua vítima, e desse à vítima tempo para fugir e não se traumatizar com o que veria em seguida. Foi algo interessante, já que eu descobri que eu era mais forte do que eu pensava que era, e com isso comecei a alimentar um sentimento deveras irônico: o de tornar um criminoso a vítima do dia.

No entanto, não existia previsão alguma de quando aconteceria, então havia semanas em que eu me alimentava por até três vezes; enquanto um determinado período eu passei mais de 15 dias sem uma gota de sangue sequer em minha boca. Eu precisava estar no lugar certo, na hora certa.

Era fácil encontrar um lugar para passar o dia, e ninguém mais me incomodava com olhares esquisitos devido às minhas roupas "adaptadas", já que eu só precisava de uma máscara cirúrgica para que ninguém dirigisse sua atenção a mim. Eu precisava admitir, que se não fosse pelo fator da alimentação, minha vida seguia bem mais tranquila do que ela já fora.

A cidade movimentada, o barulho e o amontoado de luzes nas principais ruas enchiam minha cabeça de informação, e eu amava aquilo. Eu me sentia muito sortudo por poder presenciar tudo aquilo, mesmo não podendo aproveitar plenamente de tudo que a capital poderia me oferecer.

Foi durante um desses devaneios que eu senti algo acontecendo não muito longe dali. As ruas agitadas poderiam enganar, mas eu sabia que passava das 2 da manhã no momento em que eu ouvira alguém dizendo "não" várias vezes seguidas, a alguns quarteirões de onde eu estava.

Cortei caminho por alguns becos menos frequentados e lá estavam eles. Uma jovem garota prensada contra a parede. Roupas caras, bolsa e sapatos igualmente. O homem que não a deixava ir embora também não era um dos mais necessitados que eu já havia atacado antes.

A garota pedia por favor, e dizia que já estava cansada disso. Eu aguardei por mais uns segundos e ele a pegou pelo braço com muita força, jogando-a no chão logo em seguida. Era só disso que eu precisava.

Não anunciei minha chegada, pois eu usava em meu favor a escuridão da noite e minha habilidade em ter passos silenciosos. O homem era vários centímetros maior do que eu, mas a minha força não se comparava a dele. Eu facilmente tirei sangue de seu nariz com um soco, e o impacto o fez recuar.

- Mas que porra é essa?! Junghee, quem é esse cara? - O homem esbravejou, tentando entender o que havia acabado de acontecer.

- Eu não sei, eu não o conheço! Eu juro! Não o machuque, Sungho...

A garota chorava, encolhida no chão. Eu gritei para que ela fosse embora, e, ainda rastejando pelo beco, eu a vi se afastar. Ótimo. Agora ele era todo meu.

Sungho estava decidido a resistir, o que não era nada mal, já que fazia um tempo desde a última vez que eu tive um desafio. Ele se levantara, seu rosto cheio de sangue. Minha máscara não estava mais cobrindo meu rosto, e eu não precisaria dela agora. Eu instintivamente lambi meus lábios, apenas imaginando a refeição que eu teria em alguns segundos.

- De onde você surgiu, seu filho da puta? Aquela garota é minha! - Sungho gritou e logo veio em minha direção.

Eu deixei que ele me levantasse contra a parede, pois sabia que ele ficaria perigosamente próximo a mim. E então eu só teria que me inclinar em sua direção. Eu mostrei minhas presas e pude acompanhar seu semblante mudando em uma fração de segundo. No segundo seguinte eu já o tinha como vítima. Seu corpo cedeu e logo eu estava sobre ele, no chão. Ele gritava de dor, mas ninguém iria ouvi-lo ali. Quanto mais eu bebia seu sangue, mais fraco ele ficava, e logo suas palavras perdiam o sentido. Eu podia não estar mais escolhendo minhas refeições a dedo, mas a sensação que permanecia depois de eu ter matado um homem como ele parecia compensar todos os anos em que eu senti culpa.

Depois de terminar, eu me preocupei também em camuflar as marcas das minhas presas no pescoço de Sungho. E como eu faria isso? Deixando marcas piores, é claro. Ninguém precisava suspeitar que criaturas como eu estavam a solta, colocando em risco a vida de "cidadãos de bem" como Sungho.

Eu estava completamente absorto em minhas ações, tornando aquela a dilaceração perfeita, e quando parei por um segundo para observar o meu trabalho, eu levei o meu primeiro susto em décadas.

- O-obrigada... Isso foi... foi incrível... Muito obrigada...

A jovem estava encolhida, ainda no chão daquele beco. Sua voz fraca me pegou com a guarda baixa, e eu me apressei em marchar em sua direção. Eu precisava manter contato visual para poder entrar em sua mente, mas sua cabeça baixa atrapalhou meu objetivo.

- Você não vai fazer nada comigo, não é? Eu sempre soube que Sungho tinha algumas conexões meio suspeitas... mas eu nunca tive nada a ver com ele nesse sentido, você entende?

Eu não fazia ideia do que ela estava me falando, e não fazia questão alguma de saber sobre a vida que aquele homem levava.

A garota finalmente me mostrou seu rosto e olhou bem no fundo de meus olhos. Por um momento eu me esqueci que pretendia manipulá-la, e ela voltou a falar:

- Eu não tenho ninguém. Meu nome é Yeon Junghee. Qual é o seu?

Por que é que eu ainda estava lá? Eu já havia matado a minha fome, não havia razão alguma pra eu fazer parte disso.

Virei minhas costas e andei com passos pesados para longe dali, sabendo que Junghee me seguiria por um bom tempo.

my typeOnde histórias criam vida. Descubra agora