my type

Yoongi

Eu poderia dizer que aquela semana rendera mais do que todo o último mês. Eu nunca escrevera tanto. Eu nunca produzira tanto. E nada disso me causou cansaço algum. Minha mente estava a mil. Eu até lidei com muita burocracia sem resmungar nem ao menos uma vez. Olhar para Hoseok todos os dias voltara a ser algo que trazia vida ao meu dia.

As coisas pareciam ter voltado aos eixos com ele. Pelo menos para mim. Ele deveria, a essa altura, estar confuso com a mudança repentina no meu modo de abordá-lo, mas ele também estava diferente. É claro que Hoseok ainda tinha razões para suspeitar que eu fizesse parte de um esquema de tráfico de órgãos, e eu não o culpava. Mas logo as coisas ficariam claras entre nós.

Pelo menos eu estava mais tranquilo, sabendo que não estava mais sendo chantageado. O medo de ser traído era uma coisa que eu carregava desde que comecei a prosperar com aquela empresa. Eu tinha muito a perder. Se alguém descobrisse sobre mim, seria difícil eu conseguir viver em paz naquele país novamente.

Eu deveria ter feito como Taehyung. Desde o dia em que eu o transformara, ele havia preferido o trabalho interno. Sem muitos chamarizes. Sem muita glória. Esse era o meu fraco. Eu sempre quis ser grande, mas não pude me tornar conhecido. Eu pensava que me manter como uma figura misteriosa bastaria, mas a criação dessa "figura mítica" me colocava numa corda bamba. As pessoas se intrigavam demais com toda aquela história. Por vezes eu pensava em desistir e jogar tudo para o alto, mas eu cheguei a um ponto em que eu havia me apegado demais a todo o dinheiro que aquele tipo de vida me trouxera.

Já fazia um tempo que eu estava em meu estúdio, terminando os últimos ajustes em uma música que havia sido encomendada apenas para a próxima semana, mas a inspiração não podia esperar. Eu havia virado a noite trabalhando, e logo eu ouviria Hoseok chegando em meu apartamento. Ele passaria pelos cômodos principais e iria direto para meu quarto e ficaria furioso ao não me encontrar lá. E então, o segundo lugar em que ele me procuraria, seria...

- Yoongi-ssi! Você não passou a noite no estúdio, passou? - Hoseok perguntou, irritado porém cauteloso.

- Talvez sim. Talvez não.

Eu nem ao menos me movera para encará-lo. Mesmo assim, pude sentir sua frustração. Ele saiu de meu estúdio e eu me levantei, seguindo-o até a cozinha. Antes que ele pudesse colocar a mão em uma das coqueteleiras dentro do refrigerador, eu o parei, segurando seu braço.

- Você não precisa mais fazer isso se não quiser. As coisas já ficaram constrangedoras demais; se você preferir ficar longe disso, eu vou lhe poupar dessa tarefa.

Hoseok pareceu parar de funcionar por alguns segundos. Ele ergueu uma de suas sobrancelhas ao olhar para minha mão segurando seu braço e logo se distanciou da geladeira.

- Mas... Junghee disse que eu devo...

É claro. Ele seguiria fazendo aquilo mesmo acreditando que eu fizesse parte de uma seita, apenas para manter seu emprego. Ou para não me aborrecer. Eu preferia cogitar a segunda opção. Hoseok sempre me pareceu ser uma boa pessoa. Eu me lembrava de sua primeira semana trabalhando comigo; ele trazia seu almoço de casa e comia em algum lugar onde eu seguramente não o veria comendo; provavelmente se sentindo mal por eu não poder colocar farelo algum de comida em minha boca.

Eu reconhecia que eu perdera minha cabeça com ele, mas eu tive meus motivos.

- Esqueça isso. Ultimamente eu me lembro muito bem de que preciso tomar isso diariamente.

Ele tentou desvendar qual era o meu propósito com aquela declaração, mas Hoseok nunca adivinharia que isso era por sua causa. A cada vez que eu inspirava e sentia seu cheiro dentro de minha casa, eu me lembrava exatamente de cada um dos anos nos quais eu não bebera uma gota sequer de sangue fresco.

- Bem, então eu... eu já vou para o meu escritório analisar o briefing da nossa última reunião com os-

- Você pode vir ao estúdio um minuto? Eu preciso lhe mostrar algo antes.

- Sim, sim, é claro. - Hoseok respondeu prontamente, assentindo com a cabeça.

Ele me seguiu de volta ao estúdio, onde eu mostraria a ele a música que eu passei a noite produzindo enquanto pensava apenas nele.