Ao ouvir três batidas na porta já aberta de minha sala, interrompi a redação daquele longo relatório e levantei meu olhar. Lá estava Minji.
Ela estava impecável, como sempre: seus cabelos acobreados caíam por seu ombro esquerdo, sobre o paletó que conseguia ser profissional e ousado ao mesmo tempo, numa cor verde pastel não tão comum em um escritório. Ela realmente era a minha pessoa preferida por ali. Talvez apenas pelo fato de ela não me achar esquisito, como todos na empresa. Eles não tinham culpa, afinal, assim como Yoongi-ssi, eu precisava usar aquela máscara a todo momento que eu ousasse me socializar. Mas eles não deveriam ser tão maus assim. Eu podia sentir a hostilidade todas as vezes que eu me aproximava de algum deles.
Desde criança eu sempre fora sensível a isso, e me parecia que depois que... bem... depois de ter entrado nessa vida... meu sexto sentido havia ficado ainda mais aguçado. O que era ótimo para o cargo que Yoongi-ssi me dera, mas péssimo para alguém vivendo o tempo todo em minha cabeça.
Yoongi-ssi era uma pessoa boa. Ele não pensava isso de si, mas eu sempre fora muito grato a ele. Ele me dera um bom emprego, horários flexíveis para que eu me ocupasse preferencialmente quando não houvesse sol e, desde o princípio, me ajudara com a minha alimentação. Mesmo que ele se sentisse culpado pelo que tenha feito comigo, eu já o havia perdoado há muito tempo. Mas para Yoongi-ssi as coisas não eram tão simples. Ele mesmo havia me dito, um dia, que olhar para o meu rosto quase todos os dias e ver minhas presas era o que o deixava repleto da culpa que ele deveria sentir por todo o tempo. Eu sempre discordei, é claro; ele jamais deveria ser castigado daquela maneira. E eu me sentia mais culpado ainda, pois eu não queria ser o motivo de ele se sentir daquele jeito. Eu só precisava que ele ficasse bem. E trabalhar para ele me dava, de certa forma, essa sensação gratificante. Querendo ou não, eu estava ligado a ele. Yoongi-ssi havia me criado, e no momento em que nossos olhares se encontraram pela primeira vez depois que eu acordara daquele longo (e um tanto traumatizante) sono, eu só sabia que a minha missão dali pra frente seria servi-lo para sempre.
- Taehyung-ah! Eu posso entrar um pouco? - Minji perguntou, sorridente como todas as vezes que eu a via.
- É claro! Eu... bem... sente-se!
Eu me apressei em colocar todos aqueles papéis em algum lugar que não fosse entre nós, e indiquei a cadeira onde ela poderia se sentar.
- Você sabe que eu não posso ficar por muito tempo, mas é que eu sinto tanta falta das nossas conversas! Parece que você é o único nesse lugar que me entende...
Minji se sentou à minha frente e tocou meu pulso. Suas mãos eram delicadas e... quentes...
Eu sorria por debaixo da máscara, mas ciente de que ela não poderia ver isso, espremi meus olhos para demonstrar aquilo mais explicitamente.
- Você deveria aparecer mais, Minji. Como andam as coisas lá embaixo?
- Ah, você sabe. Às vezes eu me canso de carregar essa responsabilidade de ser a "cara" dessa empresa. - ela respondeu, dando de ombros em tom de brincadeira.
Nós dois rimos juntos, e logo Minji já emendou mais algumas perguntas:
- Como está a sua saúde? Você sabe que sempre que passamos dias sem nos esbarrarmos um no outro, eu só consigo me perguntar se você está cuidando bem de si mesmo. Você tem passado bem?
Ah, sim. Eu precisava passar por aquela encenação, também. Minji se preocupava com a doença fictícia que eu e Yoongi-ssi tínhamos. Ela tinha muita pena dessa minha "condição", já que a maioria de nossos planos nunca haviam acontecido justamente por causa das minhas inúmeras limitações.
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my type
RomanceJung Hoseok chegou a um momento de sua vida em que ele não deveria mais se contentar com o razoável. Essa era a ideia que Jiwoo, sua irmã, tinha sobre seu irmão caçula, mesmo sabendo que ele não pensava o mesmo. E foi com isso em mente que ela reso...