Eu creio que, a partir daquela noite, o pensamento que menos ocorreu eu minha cabeça foi trabalho. Ao invés disso, eu me perguntava se Hoseok havia chegado bem em casa. Se sua irmã teria aceitado bem recebê-lo naquele estado. E também se ele conseguira ter uma boa noite de sono para poder acordar bem na manhã seguinte.
Eu esperava que sim. Inclusive, eu havia cogitado enviar uma mensagem a seu telefone pessoal naquele fim de semana, mas pensei que não seria agradável atravessar esse limite por enquanto. Talvez eu poderia parecer muito pegajoso. Mesmo eu tendo mergulhado fundo nisso, apostando todas as minhas fichas em Hoseok, eu não queria que ele me enxergasse daquela maneira.
Em todos esses anos, nunca passaria pela minha cabeça que eu seria tão descuidado assim. Eu havia me relacionado com algumas pessoas ao longo dos anos, mas nunca fora algo duradouro. Entre humanos e vampiros, eu acho que em 166 anos eu não poderia nem ao menos encher os dedos de duas mãos. Meus relacionamentos com imortais sempre acabavam em brigas, e as poucas vezes que ousei me envolver com humanos, bem... o resultado era sempre a morte.
A única pessoa que conseguiu sair ilesa era Junghee. É claro que logo percebemos que não éramos compatíveis romanticamente, e isso pode ter sido o que salvou sua vida. Eu também não poderia dizer que ela saíra completamente ilesa, já que no período em que eu me adaptava a minha nova maneira de me alimentar, eu precisei beber seu sangue uma vez ou outra. Mesmo assim, não pude evitar o incidente de 1999; algo que me trazia culpa até os dias atuais.
Talvez eu estivesse tendo uma crise de identidade. Tão velho, decidindo jogar tudo para o alto e viver o presente. No entanto, talvez eu fosse capaz de levar melhor esse relacionamento agora, afinal, foram muitos anos de amadurecimento até eu chegar àquele ponto. E lá estava eu, um vampiro maduro, escolhendo qual roupa eu deveria usar hoje para que Hoseok me notasse como um parceiro em potencial. Era uma pena que eu não pudesse checar meu visual no espelho, visto a quantidade de esforço que eu estava colocando naquela atividade.
Decidido a mostrar um pouco de pele, dispensei meus compridos moletons e coloquei uma camiseta escura. Também repensei minhas calças, dando uma chance a um jeans que se ajustasse mais ao meu corpo. Quanto a meus cabelos, não havia nada que eu pudesse fazer. Desembaracei os fios e torci para que eles estivessem pelo menos razoáveis. Quando Junghee ainda estava comigo, era ela quem arrumava meus cabelos por mim. Hmm. Talvez eu pudesse delegar essa função para Hoseok, em breve.
Ainda em meu quarto, ouvi a porta da frente sendo destrancada e, casualmente, fui ao seu encontro. Sem usar uma máscara.
- Bom dia, Hoseok. - Eu disse, cauteloso, ansioso por sua reação.
- Bom... dia... - ele balbuciou, enquanto me olhava da cabeça aos pés. Ótimo.
Nós dois nos dirigimos à cozinha, onde eu tirei da geladeira duas coisas: uma coqueteleira para mim e um pacote de papel pardo, que entreguei a Hoseok.
- O que é isto? - Ele perguntou, franzindo seu rosto inteiro.
- Eu não sabia o que você preferiria comer, então resolvi pedir algo simples. Aí dentro tem um sanduíche de atum e uma vitamina de frutas. Você gosta?
Hoseok checou o conteúdo do pacote, ainda desconfiado, enquanto eu aquecia a minha refeição.
- Muito obrigado, Yoongi-ssi!
Revirei os olhos para indicar meu descontentamento com o modo como eu ainda estava sendo tratado, mas, lá no fundo, eu adorei vê-lo sorrindo para mim. E eu adorei que eu o fizera sorrir.
Sentei a sua frente e pude perceber que, enquanto comia, ele discretamente me encarava quando eu levava minha coqueteleira aos lábios. Ele nunca me vira me alimentando antes.
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my type
RomanceJung Hoseok chegou a um momento de sua vida em que ele não deveria mais se contentar com o razoável. Essa era a ideia que Jiwoo, sua irmã, tinha sobre seu irmão caçula, mesmo sabendo que ele não pensava o mesmo. E foi com isso em mente que ela reso...