Eu odiava os dias em que eu tinha que ir à empresa. Eu poderia me considerar como um viciado em trabalho pelas últimas duas décadas, mas para mim trabalho é algo que se deve fazer em casa. Todos os dias passava pela minha cabeça como eu deveria ser grato a Junghee por me ajudar com horários e ajustar o cronograma de todos os funcionários para que eu pudesse visitar o prédio somente após o pôr-do-sol. Na verdade, eu devia a ela a mais profunda gratidão por se juntar a mim quando nenhum de nós dois tinha nada. Ela continuou trabalhando comigo por todos esses anos e, desde aquele incidente em Seul, nós superamos vários nãos e chegamos mais longe do que qualquer um em nosso ramo.
Era bizarro pensar que logo ela não estaria mais comigo, depois de tantos dias trabalhando em meu apartamento e ouvindo todas as minhas reclamações e frustrações. A parte criativa e a produção musical cabiam somente a mim, mas eu já havia perdido a conta de quantas vezes a sua presença fora essencial para que eu não perdesse a cabeça e jogasse tudo para o alto quando o assunto era "negócios". Tratar desses assuntos era algo que me desagradava profundamente, mas eu entendia que era necessário.
Também era necessário dar um descanso à pobre Junghee. Ela tinha sua família para cuidar, e eu não queria, em hipótese alguma, tirar isso dela. Foi árduo convencê-la, mas após alguns meses de aborrecimentos, concordamos que ela não se aposentaria totalmente. Seu cargo como diretora permaneceria intacto, porém as funções que lhe tiravam as noites de sono seriam delegadas a um novo empregado. Alguém mais jovem e que não fizesse ideia do transtorno em que estaria se metendo, de preferência.
Hoje seria o dia em que finalmente eu daria a palavra final nisso. Junghee selecionara os candidatos e, com a minha ajuda (mesmo que remotamente), nós selecionamos os finalistas no mesmo dia. Alguns candidatos haviam chamado a minha atenção desde o princípio, e era aliviador saber que eu iria enfim conhecê-los.
Optei por roupas que revelassem pouquíssimo de mim, sempre com uma máscara cobrindo meu nariz e boca, além de um boné que não deixasse meus cabelos expostos. Meu intuito era não chamar a atenção, mas eu creio que por vezes eu atingia o efeito oposto.
Entrei pelos fundos do prédio, e em poucos minutos eu já estava no décimo-quinto andar (onde seria conduzida a última reunião) sem que ninguém me perturbasse.
Eu havia pedido para que os funcionários organizassem uma das salas de reuniões para que a disposição dos móveis ficasse um pouco menos intimidadora para os candidatos, e, feliz com essa nova distribuição, eu procurei o meu lugar para me sentar ao lado de Junghee.
- Chegou cedo, Yoongi! Está tão ansioso quanto eu? - Ela me perguntou, dando pequenas cotoveladas em meu braço.
- Você sabe que sim. - Eu respondi, muito baixo, e pela sua expressão eu soube que ela enxergava meu meio-sorriso mesmo debaixo da máscara.
Apenas um vidro nos separava da sala de espera, e eles não podiam nos ver de lá. Aproveitei para usar meu tempo para analisá-los por alguns segundos. Haviam duas mulheres e três homens aguardando ser chamados. Eu poderia ter tomado meu tempo para observar cada um deles na ordem em que estavam sentados, mas um deles chamou a minha atenção antes dos demais. Algo nele não parecia estar certo.
Ele era quase tão magro como eu. Um pouco mais alto. Cabelos castanhos e um rosto comprido. Talvez o problema fosse com as suas roupas. Ele usava um terno cinza calculadamente ajustado, e sua camisa não era tão básica como as que os demais candidatos usavam. Era isso. Talvez ele nem fosse um dos candidatos. Talvez ele já fizesse parte do quadro de funcionários, mas eu me perguntava por que é que eu não me lembraria de um rosto tão marcante.
- Junghee, quem é o cara sentado bem ali no meio? - Perguntei a ela, inclinando meu rosto.
- É o número 47, você se lembra? O que durou mais de uma hora na sabatina do Taehyung-ssi. Eu diria que ele é um dos candidatos mais fortes. Taehyung até disse que o garoto é quase incapaz de mentir.
Ergui uma sobrancelha e o observei por mais algum tempo. Que bom que ele havia se saído tão bem. Se ele fosse realmente contratado, não seria nada desagradável ter de olhar para seu rosto constantemente, dentro da minha própria casa.
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my type
RomanceJung Hoseok chegou a um momento de sua vida em que ele não deveria mais se contentar com o razoável. Essa era a ideia que Jiwoo, sua irmã, tinha sobre seu irmão caçula, mesmo sabendo que ele não pensava o mesmo. E foi com isso em mente que ela reso...