Capítulo 04

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Acordei ao lado de Beth com diversas buzinas de carro ao nosso lado, estávamos em um lugar muito movimentado.
Ela era uma mulher tão bondosa, não merecia estar naquela situação.

- Já acordou bela adormecida? - Perguntou, arrumando seus pedaços de pano.

Eu apenas dei risada de sua alegria. Ela estava na rua, sozinha, e mesmo assim continuava alegre, um exemplo de pessoa.

- Se apresse, hoje iremos andar bastante.

- Ah sério? - Perguntei, com uma certa preguiça.

- Sim! Vou te mostrar um lugar que irá gostar bastante. - Começou a andar com o papelão em suas mãos. - Você não vem?

- Estou indo! - Exclamei.

Beth tinha uma certa idade mais era rápida. Seus passos eram largos, enquanto os meus eram muito curtos.
Também era uma ótima conselheira, e me contou sobre tudo de sua vida. O tempo ao seu lado passava rápidamente feito um trem-bala.

- Meus pés estão doendo! - Exclamei, com os meus pés machucados.

- Já estamos chegando! - Disse, se virando para trás. - Aqui, use esses chinelos.

Eram chinelos feitos com pedaços de papelão e panos velhos. Não exitei em usar, estava sentindo uma enorme e insuportável dor.

Quando olhei para o lado, avistei vários moradores de rua, inclusive crianças brincando e saltitando ao lado de seus pais, que também moravam na rua. Todos eles pareciam estar felizes e sua alegria contagiava quem passava por ali.

- Chegamos. - Beth colocou seu pedaço de papelão no chão.

- É...lindo! Eles parecem estar muito felizes.

- E estão. Essas pessoas aprenderam a lidar com seus probelmas, e são mais fortes do que você pensa.

- Queria voltar à ser uma pequena criança. - Olhei para algumas menininhas brincando com pedaços de copos plásticos. - Não me importava com nada, apenas pensava em brincar, correr, pular. Mal sabia que hoje, iria estar aqui, sem rumo, sem família. - Abaixei a cabeça, e fui surpreendida por um dos braços de Beth que me rodearam.

- Nós somos sua família agora. - Olhou em meus olhos e deu um sorriso contagiante. - Enquanto eu arrumo essas coisas, que tal você ir conversar um pouco com o pessoal? Irá ver que eles são pessoas ótimas!

- É claro! - Dei um sorriso.

Saí andando e vendo várias pessoas que estavam na mesma situação que eu. E me dei conta de que elas eram felizes com a simplicidade. Qualquer coisa que ganhavam faziam à festa. Vi um pequeno garoto ganhando um pedaço de bolo de uma mulher que estava passando, e seu sorriso ficou de orelha à orelha. Na mesma hora ele correu até seus amigos para dividir aquela pequena fatia de bolo, e todos eles comemoravam por ter o que comer.

- Que cabelo bonito! - Senti pequenas mãozinhas passearem por meus fios de cabelo e me deparei com uma garotinha atrás de mim.

- Olá princesa! - Me abaixei, ficando de sua altura.

Seus olhos eram azuis assim como os meus, e sua pele, rosada e clara, como a minha. Éramos muito parecidas.

- Você é muito bonita! - Deu um sorriso.

- Obrigada! Você também é linda! - Passei minhas mãos por seu rosto angelical.

- Fez uma nova amiga, filha? - Uma mulher e um homem se aproximaram dela.

- Sim mamãe! Essa é a...- Deu uma pausa em sua fala.

- Larissa! - Terminei a frase por ela.

- Muito prazer Larissa, eu me chamo Rosa. E esse é meu marido, Jairo. - Me comprimentaram. - Ah é claro, essa é a nossa filha, Amélia.

- É um prazer conhecer todos vocês. - Dei um sorriso. Conversar com todos eles faziam eu esquecer de todos os meus problemas.

- Você é bem nova, quantos anos tem? - Rosa perguntou.

- Eu tenho 18 anos.

- O que aconteceu? Porque está na rua? - Jairo interrompeu.

- Vejo que já fez novas amizades! - Beth se aproximou, fazendo com que eu não conseguisse dizer o que havia acontecido comigo.

Até que eu preferi não dizer nada, pois se não começaria à chorar na hora.

- Conhece a vovó Beth? - Amélia abraçou às pernas de Beth.

- Conheço sim, é um doce de pessoa!

- Tem razão. Beth é como se fosse uma mãe para nós! - Jairo a abraçou juntamente com Rosa.

- Eu amo todos vocês, meu filhos que a vida me concedeu! - Beth nos abraçou.

Era nítido o amor que ela sentia por eles e por todos.

- Vovó Beth, sua amiga é muito linda. - Amélia interrompeu, fazendo todos rirem.

- Ela é sim Amélia. Tanto por dentro quanto por fora. - Beth olhou em meus olhos e sorriu.

- Precisamos ir agora. Foi um prazer conhecer você. - Rosa sorriu.

- Adorei conhecer vocês também! - Sorri devolta como despedida.

- Vamos filha! - Jairo gritou por Amélia.

Ela então, com seu vestidinho amarelo e sujo, foi até seus pais, que estavam de mão dadas e refletiam o amor em seu olhar.
Era tão bom sentir aquela conexão entre todos, nunca havia sentido aquilo antes.

- Sabia que iria gostar. - Beth disse, andando em círculos. E eu, a acompanhei.

- E como! - Gargalhei.

Nos sentamos em um banco de madeira e começamos a conversar sobre diversos assuntos.

- Eu tenho uma filha igual à você. - Disse, olhando para o céu escuro.

- Tem? Como ela é?

- Não me refiro à aparência, e sim ao jeito. Vocês duas são idênticas.

- Então, quer dizer que você me tem como uma filha? - Perguntei, olhando em seus olhos.

- É claro que sim. Quando te vi passando, sozinha e com fome, meu coração amoleceu, e eu tinha que fazer algo. - Sorriu. - Você só reclama bastante né?

- Lógico que não! - Me fez gargalhar.

- Eu achava que ela iria ser à primeira pessoa que iria cuidar de mim quando adoecesse.

- Quem?

- Minha filha. - Suspirou. - Mas quando eu mais precisei, ela não estava lá. - Percebi que uma lágrima escorreu de seu rosto, pela primeira vez.

- Ei Beth? Fique calma. Eu estou aqui com você. - A abraçei com todas às minhas forças.

Queria poder retribuir tudo o que ela tinha feito por mim, mais não conseguia achar um jeito.

- O que eu posso fazer para te retribuir? - Perguntei, olhando para o céu estrelado.

- Como assim, retribuir?

- Você já fez tanta coisa por mim, eu queria poder te dar algo de valor.

- Quando sair dessa, ajude outras pessoas que estão na mesma situação que nós Larissa. Eu ficarei muito feliz. - Seus olhos brilharam.

Eu sorri novamente e deitei-me sobre seus ombros, pegando no sono ali mesmo.

- Boa noite minha princesinha. - Acariciou meus cabelos e deixou seu queixo rente a minha cabeça.

Era muito bom sentir a presença de Beth, parecia que minha mãe estava ali comigo, naquele mesmo instante.

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