Capítulo 26

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À casa de meu pai, esse era o lugar que eu queria fazer o que estava pensando.

Fiz o mesmo percurso no qual fazia quando tinha o meu antigo carro que trabalhei tanto para tê-lo, e quando cheguei, fiquei surpresa.
Minha antiga casa parecia estar abandonada. Estava caindo aos pedaços, e completamente suja, cheia de panfletos jogados em sua garagem.
Estacionei meu carro em frente ao portão e desci, observando todos os detalhes que eu havia me esquecido.

A garagem com suas gramas verdinhas que eu costumava brincar, agora estava ressecada e alaranjada, sem uma gota d'água.
A estátua do garotinho de cabelos encaracolados que ficava cuspindo água encima da fonte, agora estava totalmente acinzentado, e não derramava água nenhuma sobre o gramado seco.
Às paredes que tinham tons alegres e claros, onde vários passarinhos faziam ninhos e cantarolavam, estavam sujas e marrons, com lodo em volta, o que atraía vários insetos.
E por fim, a casa onde meu pai habitava cantarolando e rindo quando eu era uma criança, agora estava vazia, sem nem se quer uma voz, apenas o sopro do vento.

Posicionei minhas mãos sobre à velha porta de madeira que rangiu ao ser aberta, e coloquei meus pés para dentro, sentindo-me em casa novamente, mais não feliz como era antes.
Os móveis permaneciam no mesmo lugar, mais os eletrdomésticos já não estavam mais lá, provavelmente teriam roubado ou vendido.
Não soube até hoje o que aconteceu com meu pai, e pretendia não querer saber. Sei que isso pode parecer meio imaturo, mais depois de tudo o que ele fez comigo eu não conseguia imaginá-lo como pai, e sim como um monstro.

Subi às escadas e cheguei ao banheiro, que ainda possuía aquela enorme banheira que eu amava tomar banho, não sei o porque de não terem à levado.

Abri a torneira e deixei às águas caírem  dentro dela. E enquanto se enchia, parei na frente do espelho, amarrei meus cabelos em um coque despojado, e fiquei me observando por um tempo.

Uma mulher tão nova, já com a vida arruinada. Eu precisava fazer aquilo para por um fim em tudo, já não estava aguentando mais por tudo o que estava passando. O meu coração desde que minha mãe foi embora quebrou-se em pedacinhos.
William preencheu uma parte de meu coração e me fez sentir à mulher mais amada do mundo. Mais nada fazia com que à outra parte ficasse intacta como antes, e agora, que eu tinha acabado de ver aquela cena, ele ficou completamente vazio, sem sentimentos algum. À única coisa que eu conseguia sentir era dor.
Eu não queria me matar, queria matar apenas minha dor e meu passado que todos os dias me condenava.

Meus olhos encheram-se de lágrimas, e quando olhei para o lado a banheira já estava cheia.
Fechei à torneira, apanhei uma navalha afiada que já estava em meu bolso, e entrei para dentro da água, que estava bem quente.

Me sentia à mulher mais insuficiente do mundo, e não desejava essa sensação para ninguém.
Não é preciso bater para machucar, eu sofria com vários outros probelmas.
A palavra forte dói, o silêncio dói, um desprezo dói e a indiferença dói.
Às pessoas que olhavam para mim sempre me viam sorrindo e alegre, eu nunca questionava nada, e sempre topava tudo. Mais ela estava ali, a dor estava bem ali. Ninguém me conhecia o bastante, só viam a superfície, e não a profundidade.
Estava cansada fisicamente e esgotada emocionalmente. Me sentia tão idiota ao ponto de sentir culpa pelas pessoas que me machucavam.

- Me perdoe por tudo. - Passei às mãos por minha barriga, pensando em meu bebê.

E finalmente, começei à entrar em ação. Esse seria o meu fim.
Apanhei à navalha que estava em minha mão direita, e delicadamente passei-a por meu pulso, deixando apenas a marca. Estava tentando tomar coragem para fazer aquilo.
Mais perdi o medo rápidamente,  apertando à navalha com força, e quando fui posicioná-la em meu pulso, fui interrompida por uma luz muito forte, que me fazia ter dificuldade para enxergar o que estava acontecendo.

Coração RestauradoOnde histórias criam vida. Descubra agora