Capítulo 18

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- Não vou poder ir hoje, estou com uma insuportável dor de cabeça! - William disse, se jogando no sofá.

Iríamos ver Beth novamente, mais ele dizia que estava com a cabeça doendo. Então eu resolvi pegar o carro e ir para lá sozinha, não poderia deixar de ver à minha mãezinha, ela estava me esperando.

- Já estou indo. - Gritei para William na janela do carro.

Ele então saiu correndo pela porta e veio até mim.

- Tome cuidado. - Me deu um selinho como despedida.

- Pode deixar. - Sorri, e saí com o carro.

Assim que cheguei, desci do carro e fui diretamente para às ruas. Não estava levando nada naquele dia, pois saí com pressa. Mas chegando lá, não encontrei Beth, e o meu coração começou a bater mais forte.

- Olá, bom dia. - Falei à uma moradora de rua. - Você sabe onde está à Elizbeth?

- Bom dia. - Olhou em meus olhos. - Eu não sei onde ela está.

- Obrigada. - Saí, a procura de Beth.

O desespero já começou a aparecer, e o meu coração parecia que iria sair pela boca. Ela sempre ficava no mesmo lugar, algo estava errado, muito errado.

Foi quando eu me deparei com uma roda de pessoas próximas à um banco de madeira ao lado da rua, e fui correndo conferir o que estava acontecendo.

- O que aconteceu? - Entrei na frente de todos.

E, quando consegui observar o que era, não consegui acreditar.
Beth estava caída no chão, com seu corpo ensanguentado. Em suas mãos ainda estava intacto um pedaço de pão, que provavelmente ela iria dividir com alguém.
Os seus cabelos brancos estavam bagunçados, e sua touca de lã, jogada no asfalto.

Na mesma hora começei à chorar sem parar, e fui até ela.

- Oh minha mãezinha, porque você? - Olhei para os céus.

Eu estava sem chão, e o meu coração havia se despedaçado mais uma vez. Poderia ter à visitado mais vezes, porque não fui todos os dias? Não aproveitei enquanto ela estava conosco, e agora nunca mais iria ver o seu sorriso que melhorava meu dia, não poderia escutar os seus conselhos que sempre me faziam refletir sobre à vida, e não sentiria mais o seu toque acolhedor.

- Porque? - Começei à entrar em prantos. - Porque você? Porque não me levaram em seu lugar? - Gritei, com o rosto cheio de lágrimas.

Elizabeth havia me ensinado tudo. Foi ela que me acolheu quando estava nas ruas sem rumo algum. Me lembro até hoje de sua imagem sentada no chão enquanto eu estava passando em sua frente, faminta. Então ela me ofereceu um pedaço de pão que havia ganhado naquele dia. A partir daí, criamos um laço inseparável. Quer dizer, apenas à morte nos separou.

Agora, estava sem nenhuma mãe. Eu jâ tinha superado os meus traumas e sofrimentos, mais no momento em que vi Beth deitada sobre o asfalto, inconsciente, parecia que tudo havia voltado. A angústia que eu sentia em meu peito juntamente com um vazio enorme estava devolta.
Porque às pessoas boas sempre vão primeiro? Porque?
Eu nunca irei esquecer o que ela fez por mim. Todos os seus conselhos, o seu sorriso, o seu toque, ficarão guardados em meu coração para sempre.

- Não me deixe. - Segurei forte em suas mãos, ajoelhada ao seu lado.

Beth havia me ensinado tudo, menos à viver sem ela. Todos nós já deveríamos estar acostumados com à morte, mais nunca estamos preparados. E quando menos pensamos, somos pegos de surpresa. Eu sempre amarei Beth, sempre. Irei falar dela para todas às pessoas reconhecerem à mulher que ela era.

- Bom dia, com licença. - Um policial enconstou suas mãos em meu ombro. - Você é o que dela?

- E-eu...- Limpei às lágrimas de meu rosto.

- Filha. - Um morador de rua me interrompeu. - Todos nós éramos filhos de Beth. Todos nós que morávamos na rua éramos ajudados por ela. - Começou a chorar. - Mesmo tendo pouco, Beth nunca deixava de nos ajudar. Às vezes deixava de comer para dividir sua comida entre nós. - Deu uma pausa, enquanto uma roda de pessoas formava sobre sua volta. - Elizabeth Morgan precisa ser reconhecida por todos. Ela era uma heroína que não usava capa, mais sim uma áurea invisível para todos.

Todas às pessoas que estavam lá começaram a aplaudi-lo, enquanto eu não conseguia soltar das mãos de Beth.

- Eu te amo infinitamente mãezinha. - Suspirei fundo. - Olhe por mim de lá de cima. - Entreguei-a para um policial que iria leva-lá.

Essa era a última vez que eu iria vê-lá, a última vez que iria tocá-lá. Partia meu coração só de saber que eu nunca mais poderia ver o seu sorriso quando estava triste.

Entrei dentro do carro com à cabeça abaixada, e sentei-me no banco. Mais não consegui controlar à tristeza e raiva que estava sentindo naquele momento. Raiva de quem teria feito aquilo com Beth, que parecia ter sido atropelada.

- Porque! Porque não me levaram no lugar dela?! - Bati à cabeça fortemente no volante, juntamente com vários socos direcionados à ele. - Porque tinha que ser justamente ela?

Respirei fundo tentando controlar à mistura de sentimentos dentro de mim e saí com o carro, entrando em uma rodovia. Mais não estava conseguindo me segurar, minha cabeça não parava de repetir às imagens de Beth me dando apoio e me ajudando em tudo o que pôde. Então começei à acelerar, mais sabia do risco que estava correndo. Porém eu não queria saber de mais nada naquela hora, apenas sumir desse mundo terrível e cruel.

E, já com à velocidade alta, eu insistia em pisar no acelerador. Meu rosto já estava cheio de lágrimas, e eu sentia uma raiva enorme dentro de mim, ao mesmo tempo um vazio em meu peito.

Mas, quando menos percebi, já era tarde de mais. Tentei freiar para evitar o dano, mais não consegui, a velocidade estava mais alta do que permitida. Bruscamente bati de frente com um carro que estava em média velocidade, e apenas senti o meu corpo sobrevoar pela frente de meu carro, quebrando o vidro em pedaços.
E assim que bati minhas costas sobre o vidro do outro carro, não vi mais nada.
Esse era o meu fim, e eu finalmente iria me encontrar com Beth.

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