Silver: 004

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— Guria, é você quem está fazendo isso?

— Certamente que não, seu pamonha. Por que eu estaria fazendo isso?

O céu azul e límpido daquela manhã de primavera, de um momento a outro, começou a ser tapado por nuvens cinzas de inverno. O vento soprava como em um aviso sobre uma tempestade se aproximando. O ar era frio, muito parecido com o que Yuna produzia, o que me fez duvidar se realmente não era a guria quem estava causando aquele fenômeno.

Eu não tive coragem de perguntar novamente.

Até porque, sua feição confusa já me servia como uma resposta definitiva.

Ela não estava me pregando uma peça ou algo do tipo, eu tinha certeza.

— Mas, se não é você, então...?

De repente, o dia ensolarado se transformou em uma manhã invernal, cujo céu, coberto por nuvens cinzas, parecia um disco por sobre Nova Saitama.

O vento gélido, que vinha de uma direção fixa, começou a se mover de maneira circular, chicoteando com força para o centro daquela planície onde um dia foi a sede da AAA. Era como se toda friagem do mundo estivesse se fundindo naquele ponto.

Se não Yuna, só haveria uma outra alguém capaz de realizar um feito como aquele.

Cogitando essa hipótese, a guria rapidamente se virou, assustada de antemão com a simples ideia de que ali, naquela planície redonda, estaria surgindo aquela que foi morta por suas próprias mãos, e que lhe permitiu conquistar o título de Assassina de Youkais.

Sua ancestral youkai.

Sua própria mãe.

Yuki-onna, a Mulher da Neve.

Porém, ao se voltar para o centro daquele terreno abandonado, nada foi encontrado além de correntes de ar levantando poeira e se chocando em uma redoma espiral.

— O que diabos está acontecendo?

— Esta é a grande questão, guria.

Subitamente, uma presença se formou no meio daquela redoma de poeira e vento. Yuna não notou tão rápido quanto eu, mas meu olfato canino não vacilaria na hora H tão facilmente.

Eu conhecia aquele cheiro.

Eu havia o memorizado recentemente, aliás.

E então, os ventos cessaram, como fios de macarrão sendo sorvidos de uma vez. Após isso, a redoma de ar e pó se desfez, explodindo em um poderoso vendaval. Poderoso o suficiente para fazer a guria e eu protegermos nossas vistas por um segundo. E quando voltamos a observar o local, lá estava ele.

Para o alívio total de Yuna, não era sua falecida mãe.

Mas, talvez, aquele que estava no centro daquela planície poderia ser pior.

Como da primeira vez em que nos vimos, não muitas horas antes, o homem loiro de olhos azul-claros trajava-se em um uniforme totalmente branco de mágico de circo. Apesar de, em suas mãos e pés, tanto seu par de luvas quanto seu par de sapatos eram beges, assim como seu chapéu-coco em sua cabeça. Segurando em sua mão esquerda, uma bengala negra de cabo prateado que nós já conhecíamos o suficiente para não subestimá-la.

Aquele homem, responsável pela lavagem cerebral de Ieda Arakune, se apresentou para nós em um reencontro fatídico.

— Inquietante, não? Slim Shady, Dr. Dre. Vejo que vieram resgatar Eminem bem rápido. Admiro o oportunismo e companheirismo de vocês.

— Tsc. Corta essa, seu pamonha. O que você quer aqui? Minha parceira já não está mais sob sua feitiçaria pélvica.

— Oh, que expressão indelicada você utilizou, senhora Slim. Imagino que utilizou a palavra pélvica por conta de eu ter a enfeitiçado com esta minha bengala aqui, não foi?

A Imortal Yuna NateOnde histórias criam vida. Descubra agora