Sand: 001

35 3 0
                                    

— Se transformar em um shinigami não o ajudou em nada, não é, seu pamonha? Já é a terceira vez em trinta dias que eu preciso aparecer para tirar o seu da reta. Impressionante.

— Por que você está reclamando? Ninguém pediu a sua ajuda. Você quem surge do nada nos momentos de tensão. E como você consegue cair do céu desse jeito? Por acaso você voa e não me contou?

Dia 15 de abril. Horário desconhecido.

Dada as circunstâncias daquele lugar, talvez nem fosse mais dia 15.

Naquela realidade, o tempo e espaço eram mais confusos do que no Mundo dos Shinigamis. O dia durava vinte minutos, e a noite durava cinco. E a transição acontecia em um piscar de olhos, como o acender de uma lâmpada de LED.

A situação em que eu me encontrava por ali era um tanto quanto complicada, mas não chegava a ser um tremendo risco de vida como Yuna estava fazendo parecer. Para ser sincero, eu tinha o combate em pleno controle, só estava com certa dificuldade de vencê-lo. Aquela dimensão era composta por um interminável deserto, cujo céu amarelo-esverdeado dava impressão de estarmos dentro de uma grande caixa de vidro. E as dunas ao meu redor, que não me deixavam saber para onde seguir, estavam tirando minha concentração da batalha.

É complicado enfrentar dois porcos-espinho gigantes sem ao menos saber se é possível voltar para casa.

Um pouco desanimador, eu diria.

Contudo, quando a Assassina de Youkais veio do alto, como um anjo rebelde em decadência, a chama da minha esperança se reacendeu em meu coração de deus da morte. Ela pousou à minha frente, no momento exato em que um dos porcos-espinho rolava furioso para me triturar. A areia saltou até os joelhos de Yuna ao que ela aterrissou e não demorou para a hanyou golpear com seu punho firme aquela bola de espinhos, rebatendo-a para longe de nós.

E então, ela me olhou por cima do ombro. E disse o que disse sobre aparecer ao meu resgate.

— É claro que eu não voo. Impossível não ter notado a força das minhas pernas mesmo as olhando tanto toda vez que nos encontramos. Eu o vi prestes a morrer do alto de uma duna e saltei para o seu resgate. Seja melhor agradecido por isso. Lembre-se que se morrer como shinigami, será apagado da existência.

— Tsc, eu já sei disso, Yuna. Não precisa ficar me lembrando toda vez.

— Mas eu lembrarei. Não é de depois de morto que você vive brincando em serviço.

— Já entendi, já entendi. Não precisa iniciar um sermão em um momento como este. Que saco, até parece que você está preocupada comigo.

— E-Eu? Preocupada com você, seu pamonha? Hmph, francamente. Não pense besteiras só porque tenho um ótimo senso de humor, está bem?

— ......

Às reclamações de Yuna, eu decidi exercer meu direito de ficar em silêncio, o que pareceu ser funcional para que ela parasse de falar um pouco. É certo, como ela observou, que seu senso de humor é realmente ótimo. Yuna podia ser bastante realista, mas não era do tipo de pessoa negativa, o que considero um ponto positivo. Por outro lado, esse seu senso de humor extrapolava alguns limites permitidos pelas leis vigentes neste país e até mesmo da quarta parede, e acredito que o silêncio era a melhor arma contra seus stand-ups improvisados.

Assim que fiquei calado, nossa querida Assassina de Youkais deixou de me olhar por sobre o ombro e voltou sua atenção para o que estava acontecendo ao nosso redor, posicionando suas mãos na cintura para dar início a sua análise.

A cortina de cabelos negros de Yuna não me deixava ver muito bem, mas tinha certeza de que ela estava vestindo o mesmo traje que da última vez em que nos encontramos, em Shibuya, contra o shikigami de argila. Um uniforme de basquete branco, com seu nome sobre o numeral 23 estampados em laranja na parte da frente de sua roupa. Como de praxe, suas pernas alvas estavam despidas, exibindo um kanji misterioso em sua panturrilha direita. Em seus pés, um par de tênis de basquete branco e laranja. Já em sua cabeça, seu famigerado gorro cinza como sempre.

A Imortal Yuna NateOnde histórias criam vida. Descubra agora