— É inacreditável a sua capacidade de tornar as coisas mais difíceis, seu pamonha. Para ser honesta, eu estou desanimando de subir ao palco como a estrela do show toda vez. Não acha que está na hora de me salvar um pouco também? Achei que fosse um defensor da igualdade de gênero.
— Justamente por ser um defensor da igualdade de gênero, Yuna, que não vejo nenhum problema em ser salvo por você desse tipo de situação. E a única coisa inacreditável aqui é o seu timing para surgir ao meu resgate. Ah, e como vai você, Ulim?
— Hmph, não vou tão mal, guri. Só não sei se posso dizer o mesmo de você. Parece que sofreu algumas lesões.
Tudo bem, "lesões" é um termo bem carinhoso para o estado em que meu braço esquerdo e meu joelho direito se encontravam. Não havia a necessidade de ser um especialista em estrutura óssea para saber que meu braço estava triturado por dentro, e que meu joelho estava com a articulação do avesso. A dor era aguda, mas nada que um shinigami não conseguisse se acostumar. Só depois de um bom tempo que me tornei um deus da morte, eu fui me acostumar com a capacidade regenerativa de meu novo corpo. Agora, paus e pedras podem ferir minha carne e danificarem meu esqueleto, mas minha habilidade regenerativa cuidará de tudo.
Porém, confesso, existe um certo desconforto em sentir os ossos se reconstruindo e se arrastando de volta para suas devidas posições.
E para quem assistia também não deveria ser muito agradável.
Diante de meu corpo sentado no asfalto liso de Shibuya, Tóquio, enquanto meus ossos de vassalo das leis da morte se autoconsertavam devagar, Yuna Nate me observava de lado, em um ponto mais elevado, por conta de estar montada nas costas de espessa pelagem cinza de seu animal de estimação, Ulim.
Ele era um lobo, líder de alcateia. E também um inugami, e consequentemente um shikigami.
— Urgh...
— Hmm...
Eu gemi o mais discretamente que fui capaz quando a articulação de meu joelho se moveu em círculo sob minha pele para retornar ao seu lugar de direito. Mas Yuna não deixou passar aquele detalhe.
— Esse bicho te deu uma surra e tanto, não é? Já sabe o porquê de estar atrás de você?
— Nunca sei o porquê estão atrás de mim. Eu não sonego impostos e não passo a vida focado em criar protestos nas redes sociais.
— Por que esse último deveria ser perseguido por uma criatura no meio da madrugada, seu pamonha? Por pior que seja, não é crime falar mal dos peitos de uma personagem 2D, mesmo que isso lhe faça parecer alguém frustrado sexualmente.
— Pelo menos você concorda que é um pé no saco.
— Pois é, nisso não consigo discordar de você. Agora, Ulim, o que temos aqui? O que é essa criatura que nos perturba?
Tirando seus olhos azul-escuros de minha pessoa e se voltando para o seu outro lado, Yuna observou a monstruosidade estatelada no meio da rua como um tapete. Ulim, buscando uma resposta paras as questões lançadas por sua dona, farejou o ar sutilmente com o seu focinho.
— Bem, guria, aparentemente... não, é uma certeza, essa criatura é um shikigami.
— Um shikigami, é? Já estava estranhando a paz desses últimos cinco dias. Mas, que seja. Acho que você o nocauteou, Ulim.
— Mas ele ainda está vivo, guria.
— Hmph.
Ajeitando sua postura e passando uma perna por sobre seu inugami particular, aquela que detêm o título de Assassina de Youkais desceu das costas do lobo, ainda mantendo seus olhos focados no monstro jogado no chão. Ao tocar seus pés no solo e acariciar Ulim rapidamente, Yuna retornou sua atenção para mim, me olhando primeiro sobre o ombro, antes de se virar por completo em minha direção.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Imortal Yuna Nate
FantasyYuna Nate trabalha como assassina de aluguel em sua agência, ACSI, e quase sempre está com problemas financeiros. Certa noite, em uma missão na floresta Aokigahara, a Assassina de Youkais acaba reencontrando um velho companheiro, dando início a uma...