Disparando a trezentos quilômetros por hora, eu persegui o shikigami em seu bastão voador pelas ruas sinuosas daquela região residencial de Osaka, que seguia em uma linha reta lá no céu. Ele não se deslocava tão veloz para que fosse um problema para mim caçá-lo, mas estando em pleno ar, sem obstáculos em seu caminho, uma diferença de distância se criava entre nós, por mais que medíocre, a cada esquina que eu dobrava e a cada nova rua que precisava percorrer. Mesmo assim, nenhum obstáculo que fosse me faria perdê-lo de vista.
E a figura dourada não demorou para notar minha persistência.
Então, ao que ele se aproximou da estrada que cruza o Rio Furu, o shikigami diminuiu sua altitude, ficando rente ao asfalto, e aumentou sua velocidade inclinando levemente seu corpo para frente, acelerando contra os veículos na contramão.
Hmph, patético.
Fazendo o que fez, ele praticamente se entregou às minhas presas caninas.
Segundos depois da figura baixar sua altitude, eu invadi a mesma estrada, deslizando com minhas quatro patas para o meio do tráfego movimentado e também acelerando entre os carros atrás do shikigami.
A inocência daquele que voava no bastão dourado foi o que me entregou a vitória naquela competição de velocidade. Não ter considerado que eu poderia aumentar ainda mais minha agilidade foi um erro imbecil daquele shikigami.
Ao que a figura dourada já estava passando por debaixo da ponte e por cima do Rio Furu, eu coloquei minha existência acima da velocidade do som, fazendo com que toda a realidade à minha volta ficasse em câmera-lenta.
Com isso, chegar ao shikigami foi realizado em um mísero segundo.
Eu lancei meu corpo canino e o atropelei pelas costas, o jogando para fora de seu bastão voador e consequentemente para frente na estrada.
Tanto eu quanto ele caímos e rolamos no pavimento, ele mais distante, claro, e eu mais próximo de seu bastão dourado, que parou de flutuar e caiu no chão.
— Hmph.
— Tsc.
Igualmente em mesma destreza, o shikigami e eu nos colocamos de patas e pés no solo, e encaramos um ao outro emanando hostilidade.
— Vai pagar pelo o que fez com meu mestre. Como shikigami que também é, sei que me entende. Não é nada pessoal.
— Não sou tão ligado a quem me invocou, inugami. Não somos tão parecidos.
Essa voz...
Se minha memória canina não falha, o dono dessa voz...
— Hã?
De súbito, a figura dourada mexeu seu braço, estendendo-o na direção do bastão ao chão e fazendo com que sua arma voasse de volta para sua mão. Em seguida, movimentou seu corpo para tomar sua posição de combate.
— Quem é você, guri? Sua voz não me é estranha.
— Minha voz? Hmph, sou somente um familiar, como você. Nada mais nada menos do que isso.
— E agora? Desistiu de fugir e vai me encarar como se deve?
— Eu quem irei enfrentá-lo, seu pamonha!
O som de pneus cantando no asfalto ecoou mais às minhas costas, instantes antes da voz da guria chegar aos meus ouvidos de lobo, líder de alcateia.
Como meu instinto não me deixava arriscar tirar meus olhos da figura dourada, só pude escutar o barulho de porta batendo e os passos tranquilos daquela que detêm o título de Assassina de Youkais a colocarem ao meu lado.
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A Imortal Yuna Nate
FantasyYuna Nate trabalha como assassina de aluguel em sua agência, ACSI, e quase sempre está com problemas financeiros. Certa noite, em uma missão na floresta Aokigahara, a Assassina de Youkais acaba reencontrando um velho companheiro, dando início a uma...