Como lobo, líder de alcateia, eu não sou o maior fã de interromper uma linha de ação e voracidade em níveis surpreendentes até mesmo para mim, mas existem algumas informações que devem ser passadas para que as senhoras e senhores entendam o porquê de termos partido para aquela usina de vento em Fukushima.
Para isso, precisamos rebobinar os eventos para a manhã do dia 29 de março.
Para quatro dias no passado.
— Ei, seu pamonha, você viu algum secador por aí? Eu não me lembro onde o coloquei da última vez.
Como deveria ser, embora aqueles últimos dias tenham sido confusos e cansativos, aquela manhã de primavera era constituída por um céu límpido e um clima agradável. Meu corpo canino se encontrava estendido ao chão da sala e escritório da Assassina de Youkais, em sua agência sobrenatural, a ACSI, quando a guria abriu a porta que levava à cozinha e ao banheiro com um empurrão.
Logo que se apresentou, ela lançou aquela fatídica questão para mim, como se eu fosse um prestativo mordomo de alguma espécie nova de super-heroína.
— Phew...
— O que foi, Ulim? Não me escutou, é?
A guria nem ao menos estava direcionando seus olhos para mim. Ela havia acabado de sair de um longo banho e estava concentrada demais em enxugar sua orelha esquerda do que qualquer outra coisa. Seu longo cabelo negro ainda estava molhado e pingando, o que a fez surgir na sala somente vestindo uma calcinha branca com ornamentos, cujo tom quase se camuflava em sua pele. Ela também estava sem seu famigerado gorro cinza, o que era raro mesmo quando saía do banho, e suas orelhas de lobo estavam à mostra para o mundo, se projetando como chifres no alto de sua cabeça.
— Eu escutei, guria. Mas acha mesmo que um lobo, líder de alcateia como eu, tem a responsabilidade de saber a localização de um artefato tão trivial? Já é ultrajante que tenha me perguntando algo como isso.
— É ultrajante você ter utilizado "trivial" para se referir a um secador de cabelo. Se ainda não entendeu, seu pamonha, está morando em uma casa de mulheres agora, então, precisa saber a importância de uma peça indispensável como essa.
— Eu até creio na importância de um secador de cabelo para você, guria. Até porque, essa coisa aí parece uma cortina pendurada em sua cabeça. No entanto, se esse item é tão importante assim, por que não o procurou antes de entrar em seu quase interminável banho?
Continuando com seu processo de secagem enquanto eu formulava minha curiosa questão, Yuna começou a enrolar todo seu cabelo acima de sua cabeça e depois a envolve-lo em sua toalha com maestria, deixando apenas duas mechas soltas, caindo sobre seu peito, para calculadamente cobrir as mamas de seus seios nus.
— O que é? Acha que eles cresceram?
— Não estou os olhando por conta disso. Só acho incrível como se atentou ao detalhe de usar as mechas para cobri-los pelo menos um pouco. Criou algum bom-senso, imagino.
— Não é como se eu tivesse algum problema em deixá-los à mostra, Ulim, e sabe muito bem disso. Só que cobri-los desta forma parece ser bem mais sensual e sentir o cabelo úmido sobre meus mamilos é um tanto quanto relaxante.
— Hmph, você não bate bem da cabeça...
— Eu vou ver se está lá no quarto.
Ignorando meu comentário sobre sua sanidade mental, a guria passou por mim dando um passo por cima de meu corpo com seus pés de bailarina e indo na direção da escada. O som de seus passos sobre os degraus ecoou como se quisesse indicar o quão próximo de seu destino ela estava. Um pouco depois disso, o barulho começou a vir de seu quarto, como batidas de gavetas e até de moveis sendo arrastados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Imortal Yuna Nate
FantasíaYuna Nate trabalha como assassina de aluguel em sua agência, ACSI, e quase sempre está com problemas financeiros. Certa noite, em uma missão na floresta Aokigahara, a Assassina de Youkais acaba reencontrando um velho companheiro, dando início a uma...