— Ei, guria, tem alguém se aproximando. O cheiro não me é estranho, aliás. Por acaso está esperando alguém?
— ......
— Ei, guria. Está dormindo?
Noite do dia 27 de março.
Aparentemente, se meus olhos caninos não estavam enganados, Yuna acabou tirando um cochilo no meio do estudo de um caso de ataque virtual que ela aceitara naquele mesmo dia de manhã. Sentada em sua poltrona, recostada elegantemente no estofado, o rostinho angelical da guria permanecia resoluto até mesmo dormindo. Diferente da maioria das vezes em que fica na ACSI, ela estava devidamente trajada. Um short jeans curto e uma camiseta cropped com a estampa de uma pizza de calabresa na altura de seu peito. E claro, imagino que não seja necessário latir que seu famigerado gorro cinza estava sobre sua cabeça.
Suas pernas estavam esticadas em cima de sua mesa, cruzadas uma sobre a outra, exibindo seus pezinhos de bailarina para qualquer um que entrasse pela porta da frente. Ao lado de suas pernas, um notebook ligado e uma caneca de café vazia.
Para mim, um lobo, líder de alcateia, é intrigante como os seres humanoides conseguem adormecer em posições tão irregulares.
Para ser sincero, eu também estava tentando cochilar naquele momento, mas não estava tão cansado como a guria para cair nos braços de Morfeu tão facilmente. Ou melhor, talvez Yuna não estivesse realmente cansada, só estivesse cochilando por preguiça mesmo, o que era o mais provável.
Meu corpo canino estava deitado mais ao lado direito da mesa da guria, com meu focinho apontando na direção da entrada principal. Eu estava completando meu terceiro dia na Agência de Combate Sobrenatural e Inteligência, mas já havia demarcado todos os pontos que seriam de meu domínio na casa.
É algo necessário quando não se sabe o tempo que passará no local.
Desde que me deixou com a guria, meu mestre não deu mais sinal de vida.
— Toc, toc! Yuna! Está aí?
A voz era incomum para meus ouvidos caninos, mas o cheiro de quem estava batendo na porta não me era inédito. Ergui meu focinho e farejei com maior precisão, ainda permanecendo deitado.
Hmm, de fato, eu conhecia aquele odor.
Era de um humano, mas não era do projeto de agente da Mythpool.
Se não me falha minha memória canina, a última vez que senti aquela fragrância humanoide foi uma vez, alguns anos atrás, nas roupas casuais da guria.
Ao que ele perguntou por Yuna, seu punho bateu três vez em sequência na porta da frente. E como, segundo meu olfato misticamente aprimorado, aquele do lado de fora da ACSI não era uma ameaça, eu decidi tomar as rédeas daquela agência e lati para que entrasse.
— Está aberta, guri. Só não faça tanto barulho.
O senti meio hesitante ao ouvir minha voz, mas, no fim, ele abriu a porta sutilmente e colocou o rosto para dentro antes de qualquer coisa.
Ele me observou.
O cheiro de medo começou a transbordar de sua pele.
Mesmo assim, corajosamente, o guri terminou de empurrar a porta e adentrou no recanto do samurai. Sem olhar para trás, fechou a porta que acabara de abrir da forma mais silenciosa que conseguiu.
— É... olá. — O guri se curvou, me cumprimentando. — Eu sou Eduardo. Muito prazer. Eu sou o...
— Mensageiro. A guria já me contou sobre você.
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A Imortal Yuna Nate
FantasyYuna Nate trabalha como assassina de aluguel em sua agência, ACSI, e quase sempre está com problemas financeiros. Certa noite, em uma missão na floresta Aokigahara, a Assassina de Youkais acaba reencontrando um velho companheiro, dando início a uma...