A Imortal Yuna Nate

Glass: 001

— Francamente, seu pamonha, essa sua rota poderia ser um pouco melhor cheirosa, não podia? Tem certeza que não há um outro caminho mais higiênico?

A situação em que a guria e eu nos encontrávamos não era uma das mais agradáveis, realmente. Naquele momento, o local onde caminhávamos pacientemente se encontrava em um ponto abaixo das ruas de Nova Saitama, abaixo até mesmo da rede de esgoto daquela cidade em ascensão. O lugar era um longo túnel estreito em uma longa linha reta, cujo caminho à nossa frente estava sempre tomado pela escuridão. Não que aquela via subterrânea não tivesse um sistema de iluminação. Ela tinha. Porém, as duas lâmpadas presas à média altura em cada parede só acendiam assim que nos aproximávamos delas, e ao nos afastarmos, se apagavam. Se as lâmpadas gêmeas fossem mais próximas umas das outras, o caminho se iluminaria para nós antes de que as anteriores se apagassem, mas, acredito que o arquiteto daquele túnel não fosse um dos mais sagazes do ramo. Com um espaço de um pouco mais de trinta metros entre uma lâmpada e outra, as coisas complicavam um pouco.

Claro, a escuridão nunca foi um grave problema para Yuna e muito menos para mim. Ela, sendo uma hanyou, e eu, sendo um shikigami, temos na visão a capacidade de enxergar bem no escuro, quase como os felinos. Especificamente eu, por ser um lobo, líder de alcateia, conseguiria me locomover com segurança na escuridão somente usando minhas habilidades olfativas. Contudo, aquele longo túnel em linha reta era envolto por algo que ia além de sua penumbra.

O odor de um poderoso feitiço de selamento parecia reduzir drasticamente o poder dos circuitos mágicos em nossos corpos.

Um feitiço contra propriedades mágicas, se posso latir de maneira simples.

Pode parecer um pouco paradoxal, mas existe.

E, sem nossa base de mana funcionando adequadamente, nos tornamos automaticamente dependentes das fontes de luz.

Por isso minha raiva com o projetista daquele túnel permanece até hoje.

— Não há, guria, não há. Pelo menos, não um que eu conheça. Deveria estar me agradecendo, aliás. Se não fosse eu, dificilmente você conseguiria chegar ao seu objetivo. Esta seria uma missão impossível para você.

— Hmph, se Tom Cruise conseguiu fazer seis filmes com esse título, acho que não seria um problema de fato.

— Não é com os filmes que estou comparando!

Se colocássemos Yuna dentro da franquia de longas de ação norte-americano, é bem provável que os filmes se tornariam bem mais curtos do que são, e também que se tornariam bem mais violentos.

Hollywood não necessita de mais filmes como John Wick.

Talvez colocá-la na franquia Deadpool fosse mais inteligente.

— Ainda por cima, o caminho é gigante. Não acredito que a chefe planejava usar isso aqui como rota de fuga emergencial. Digo, veja o quanto já andamos. A passagem praticamente dá na divisa da cidade. E com esse feitiço bloqueando nossa mana, Império das Pulgas, você acabou se tornando um tanto obsoleto.

— Tsc, fico feliz com a parte em que me toca, guria. Só não me lembro de tê-la permitido usar esse apelido idiota novamente. Pensei que esse apelido estivesse proibido enquanto estou morando com você e a guria-aranha. Ou melhor, deveria ser proibido para todo o sempre.

— Hmm, não me lembro de ter te chamado por nenhum apelido.

— Não fique simulando demência!

— Añ, você falou igual a Ieda? Mais que fofo!

— Não, saia! Tire suas mãos de mim!

Em um subterrâneo túnel estreito, sem meus circuitos mágicos funcionando adequadamente, não havia muito o que fazer ao que Yuna realizou. Se ajoelhando ao meu lado e abraçando meu pescoço peludo, a guria esfregou seu rosto em minha bochecha canina, produzindo sons esquisitos com seus lábios cerrados. E como já estava preso por seus braços, não havia mais nada a se fazer além de esperar que ela parasse. Com sorte, o lado bobo e afável da Assassina de Youkais não se aflorava tanto comigo a ponto dela permanecer com aquele ato detestável para um lobo, líder de alcateia, como eu.