Capítulo XXIV [PARTE UM]

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A P R I L


HUNTER NÃO ME PROCUROU DEPOIS DA AULA. Eu também não fui tola o suficiente para ir atrás dele. Nós não discutimos novamente, sequer trocamos olhares. Agimos o tempo todo como completos estranhos. Não me surpreendi quando ele foi embora ao lado dela. Eu já estava esperando por aquele desfecho — o pequeno show que Hunter protagonizou mais cedo havia deixado uma mensagem bem clara: vai se foder, April Wright.

Quer dizer, porra. Se Hunter queria provar alguma coisa para mim, ele estava se saindo muito bem.

De verdade, eu me sentia péssima. Os barulhos rotineiros do vestiário soavam abafados e distantes aos meus ouvidos, como se eu estivesse submersa em água. Desabotoei a saia e desci o zíper sem pensar. Meu estômago estava embrulhado. Não conseguia afastar da minha mente aquela cena. O sorriso dele, a forma como ela o tocava — parte de mim sabia que aquilo não era um jogo. Enquanto eu me lamentava, Hunter provavelmente já devia ter fodido aquela garota de cinco maneiras diferentes. Não importava se ele fazia aquilo para me atingir ou se fazia porque tinha vontade: eu não podia reclamar, sequer podia "terminar" com ele por aquele motivo. Não era como se tivéssemos um compromisso baseado em fidelidade.

Caralho.

Nós nem ao menos tínhamos um relacionamento.

Raspei a língua nos dentes, tentando me concentrar no presente.

Foco.

O vestiário estava quase vazio e eu não havia terminado de me trocar. A inspetora apareceu na porta e levou um apito aos lábios, seu aviso final. Ela precisava fechar o banheiro e entregar a chave na seção desportiva — sua última tarefa antes de encerrar o dia. Eu troquei a camisa social por um moletom cinza, que fazia parte do uniforme de educação física, e subi as meias grossas pelas minhas canelas. Lá fora estava frio, mas bem mais agradável se comparado ao último treino. Dei graças aos céus por ter aquele agasalho velho. Por fim, vesti um short que abraçava minha bunda como uma luva. Retirei o resto do meu equipamento do armário, travei o cadeado e vesti o cordão de fita que segurava meu chaveiro.

Tudo bem.

Futebol. Eu tiraria essa de letra.


Uma brisa atravessou o gramado, varrendo as folhas do chão

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Uma brisa atravessou o gramado, varrendo as folhas do chão. Eu deixei minha garrafa de água no banco, ignorando os assobios distantes de algum babaca, e me aproximei das meninas como da última vez. As conversas, antes animadas, caíram no silêncio. Não consegui decifrar se elas evitavam meu olhar por medo ou por vergonha. Todas pareciam se esconder de mim como se eu tivesse uma doença contagiosa. Todas menos Lexie, é claro. Ela conversava com uma amiga, mas fez questão de parar assim que me viu. Seus olhos verdes faiscaram para os meus em uma satisfação silenciosa.

— Já terminaram o aquecimento? — eu disse, quebrando a distância.

Depois do que pareceram minutos, percebi que não receberia uma resposta.

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