Capítulo XXV [PARTE QUATRO]

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A P R I L


O MOVIMENTO ERA INDOLOR, quase instintivo. Meu polegar se arrastava sobre a unha quebrada, dobrando-a para cima e para baixo. Queria arrancá-la fora. Faria isso se tivesse um alicate ao meu alcance. Cortaria curta, rente ao sabugo. Ou talvez não. Eu gostava da pequena agonia envolvida em dobrar uma unha quebrada e, naquele momento, qualquer distração era bem vinda — tudo para tirar meus pensamentos da confusão que deixamos para trás.

Quando os meninos inventaram de fazer uma última parada antes de encerrar a noite, eu não quis ser a estraga prazeres a implorar para ir para casa. Não conseguia entender onde eles encontravam apetite. Por mais que meu estômago estivesse embrulhado e eu não suportasse a visão de um prato de comida na minha frente, permaneci em silêncio, dedos afundados no braço de Hunter. Eu estava assustada. Qualquer barulho mais alto que uma risada me fazia saltar. Era como se meu corpo antecipasse o ataque do próximo desgraçado bêbado.

Se Hunter estava minimamente abalado com o que havia acontecido momentos atrás, ele fazia um ótimo trabalho em não deixar transparecer. Quanto mais nos afastávamos do maldito pub, mais relaxada sua postura se tornava. É claro. Campbell se metia em tanta confusão que deveria estar acostumado a atingir em uma semana a mesma quantidade de picos de adrenalina que eu atingia em um mês.

Ele me envolveu pelos ombros e sussurrou em uma voz rouca:

— Sua amiga vai enlouquecê-los.

Minha testa se encrespou em confusão.

Nós caminhávamos em direção à lanchonete, uma distância considerável já que a única vaga do quarteirão espaçosa o suficiente para comportar a van ficava na outra rua. Zoe andava ao lado de Zack enquanto Seth abria caminho com Lexie pendurada em suas costas — a menina ria, seus braços içados ao redor do pescoço dele.

Não encontrei Jackie.

Quando comecei a me remexer demais, Hunter fez um sinal para algo atrás de nós: Finch e Jackie nos seguiam de perto, caminhando em seu próprio ritmo. Deus do céu. Os olhares furtivos e sorrisos tímidos não negavam: eles estavam flertando. Assisti boquiaberta o momento em que Finch tirou um sutiã de renda branco do bolso e entregou a ela — o mesmo sutiã que minha amiga havia jogado no palco mais cedo.

Com muita dificuldade, voltei meu rosto para frente.

Meu Deus!

Será que Hunter viu a mesma cena que eu?

Eles mal conseguiam se encarar sem sorrir.

— Eu li seu blog — a voz de Finch vinha de algum lugar atrás de mim, soava cada vez mais próxima — Tive uma ideia de post.

Jackie riu pelo nariz, seu par de Air Jordan se destacava em seus pés, esmagando pedrinhas soltas no chão:

Stalker.

— Quer calar a boca? — ele a empurrou com o ombro, suas mãos enfiadas no bolso enquanto nos ultrapassava.

Quando uma risada ameaçou escapar pela minha boca, meus olhos encontraram os de Seth. Ele carregava uma expressão difícil de encarar: seu maxilar se destacava sob a pele e um cigarro apagado pendia de seus lábios. Mirava a dupla que andava lado a lado. Depois de vários segundos, voltou sua atenção para o isqueiro em suas mãos e para Lexie, que havia descido de suas costas.

Meu sorriso morreu na mesma hora.

Eu sabia que ele tinha alguma coisa com minha amiga, mas nada sério. Pelo menos, não da parte de Jackie — ela jamais corresponderia aos sentimentos de alguém como Seth. Jackie precisava de alguém que a desafiasse, que tivesse objetivos parecidos com os dela e fosse capaz de sustentar uma conversa por mais de cinco minutos sem enfiar bebidas ou festas no assunto.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora