A P R I LHAVIA UM PEQUENO QUARTO ENTRE a cozinha e a porta dos fundos: a tábua de passar e os cestos de roupa diziam lavanderia, mas a escrivaninha munida de um computador e várias pastas contava outra história. Eu me aproximei do cantinho do escritório improvisado e, em meio a post-its coloridos e blocos de contas seguradas por grampos, encontrei os rostinhos sorridentes de Julie e Hunter — era um arranjo de fotos mais espontâneo do que os retratos pendurados no corredor, mas igualmente adorável.
— Hunter teria um ataque se soubesse que te mostrei essas fotos. — A voz de Lizzie me surpreendeu. Ela atravessou a porta carregando um novo cesto de roupas limpas e eu fui ao seu socorro, abrindo espaço sobre o móvel.
Quando o cesto atingiu a superfície livre, eu ergui meus olhos para encontrar um porta retrato sobre a prateleira: era um time de futebol mirim reunido sobre um gramado verde, quase azul pelas cores desbotadas da foto.
— Esse aqui é o Seth?
A pergunta escapou dos meus lábios antes mesmo que eu pudesse registrá-la.
Bom trabalho, April.
Nesse ritmo, a mãe do Hunter vai pensar que você é uma bisbilhoteira.
— Ele mesmo. — Lizzie sorriu para a foto, escolhendo uma blusa do topo do cesto para começar a dobrar. — Eles tinham acabado de se conhecer nessa época. Hunter estava começando a se comportar mal na escola. Ele respondia muito, então, nós decidimos colocá-lo no futebol para gastar toda aquela energia. Quer dizer, eu pensei que seria bom se ele aprendesse a trabalhar em grupo. Veja só como ele gostou.
Os meninos da equipe posavam para uma típica foto de equipe de futebol: alguns em pé no fundo e outros apoiados sobre o joelho na frente, todos vestindo o mesmo uniforme azul e vermelho. Encontrei um mini Hunter de pé em um canto, suas sobrancelhas franzidas por causa da claridade e seu rosto em uma expressão de profundo desagrado.
— Ele saiu com essa carranca feia em todas as fotos!
Um sorriso tomou meus lábios enquanto eu dobrava uma blusinha que, a julgar pelo tamanho e pelas estampas coloridas, só podia pertencer a Julie.
— Hunter sempre teve personalidade forte?
— "Personalidade forte"? — Apesar do brilho caloroso em seus olhos, ela massageou as têmporas devagar como se apenas a lembrança já fosse o suficiente para lhe causar uma dor de cabeça. — Você é muito gentil, April.
Minha risada involuntária preencheu o quarto e Lizzie puxou mais uma peça do cesto de roupas para si:
— Eu conheço meu filho, ele é terrível. — Ela me lançou um olhar cúmplice, abrindo uma camisa sobre a mesa. — Hunter e Seth começaram a se aproximar porque estavam na mesma sala da escola. Depois que se tornaram vizinhos, então... Eram o terror da vizinhança.
Na primeira fileira, ajoelhado sobre a grama desbotada, Seth sorria para a foto com uma carinha de atentado. Ele parecia prestes a sair correndo, seus cabelos curtos e alaranjados apontando para todas as direções como se tivesse levado um choque.
Jesus Cristo.
Ele devia ter sido uma criança incontrolável.
Eu estava separando pares de meias por tamanho quando o barulho de patas contra o chão interrompeu nossa conversa. Lua Nova caminhava vagarosamente em direção à lavanderia e sua respiração se tornava mais alta à medida em que se aproximava. Ele cruzou a porta distraído, farejando o carpete com interesse e Elizabeth abriu um sorriso para mim:
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BULLSHIT
Teen Fiction[EM ANDAMENTO.] April Wright tem um problema. O problema dela tem olhos azuis, um sorriso que faz suas pernas estremecerem e, principalmente, uma personalidade nem um pouco encantadora. Com muita apatia acumulada era tarde demais para qualquer coisa...