H U N T E R
NUNCA ME LEVANTEI TÃO rápido em toda minha vida. Meus tênis se afundaram nas almofadas de veludo e usaram o encosto do sofá como degrau, pulando para o outro lado. Talvez fosse a adrenalina ou o álcool correndo pelas minhas veias, não importava: meu corpo se movia em uma velocidade que jamais havia experimentado antes, tão leve que meus pés mal tocavam o chão.
Até consegui colocar uma boa distância entre eu e o irmão da April, mas no fim meus esforços se mostraram insuficientes. Simplesmente, não dava para competir. Enquanto eu corria cego pelo desespero, Cole contava com uma vantagem a seu favor: ele agia motivado pelo ódio.
Inferno.
O próprio satanás havia emprestado asas para aquele filho da puta voar.
— NÃO A MINHA IRMÃ!
Não consegui fugir. O braço dele envolveu meu pescoço por trás em uma gravata e eu joguei meu peso para frente na tentativa de me livrar do aperto. Nós caímos no chão enquanto April nos xingava aos gritos. Só não se intrometeu na briga porque suas amigas se prontificaram em cercá-la como uma força tarefa, prontas para imobilizá-la se fosse necessário.
Apesar dos protestos da irmã, Cole não parava. Ele estava determinado a me deixar sufocar.
Não podia culpá-lo. Se metade dos boatos que espalhavam a meu respeito fossem verdadeiros, eu também não iria querer uma irmã minha andando com um cara como eu. Cole me conhecia há tempo o suficiente para saber exatamente como eu agia e o tipo de merda que saía da minha boca — os rumores não estavam tão distantes da realidade: eu era mesmo um babaca.
Depois do que pareceu uma eternidade, Zack o segurou pelos ombros e conseguiu nos separar. Eu não desperdicei a chance de acertar um soco no estômago do Cole.
Ele urrou.
De dor ou de raiva, eu não soube dizer.
Por cima de seu ombro, Zack me lançou um olhar reprovador. Ele ainda lutava para refrear o baterista, parecia quase arrependido de ter se colocado entre nós — estava a um passo ou menos de concluir que merecíamos nos arrebentar sozinhos.
Enquanto isso, Cole fervia de raiva. Ele queria brigar, me bateria de verdade se tivesse a chance, mas eu não podia cair nessa. Eu não era louco. April havia me dado uma chance. Cole era o irmão mais velho dela e eu não podia dar uma surra nele — então que o cara se cansasse sozinho.
Devagar, deixei meu corpo cair para trás. Minhas costas encontraram a parede e eu deslizei para baixo, até sentir o chão debaixo de mim. Eu me sentei em um movimento bêbado, nada gracioso. Cole ocupava um banco alto ao meu lado e espiava a plateia pela cortina pesada do camarim. Ele, assim como eu, tinha uma garrafa de cerveja em suas mãos e parecia mais calmo — depois de muito resistir, o baterista finalmente havia desistido de tentar me matar.
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BULLSHIT
Teen Fiction[EM ANDAMENTO.] April Wright tem um problema. O problema dela tem olhos azuis, um sorriso que faz suas pernas estremecerem e, principalmente, uma personalidade nem um pouco encantadora. Com muita apatia acumulada era tarde demais para qualquer coisa...