Capítulo V

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A P R I L


DEPOIS DE ARRASTAR UM Zack muito sem noção para longe do casal, eu tratei de achar um lugar livre de inspetores para conversarmos. Acabamos no mesmo lugar de sempre: sentados debaixo da árvore que virou referência no colégio por ser a mais antiga, enraizada no centro de um pátio pouco movimentado. O velho carvalho tinha o tronco retorcido coberto por musgo e por iniciais cravadas com a ajuda de canivetes. Em dias como aquele, em que a luz do sol rasgava o céu e atravessava as nuvens, a sombra daquela árvore era o abrigo favorito de fumantes que cabulavam aula. Eu e Zack não tínhamos o hábito de fumar nas dependências do colégio, mas definitivamente mataríamos aula ali.

Enquanto eu tinha minhas mãos apoiadas no chão atrás de mim, meu melhor amigo se concentrava em brincar com a grama. Ele destruía o caule da planta com a ponta dos dedos e sustentava um assunto banal para fugir das minhas possíveis perguntas.

Esse tempo todo Zack sabia da possível existência de um romance escondido envolvendo Indy e meu irmão. Eu me sentia deixada para trás na escala da inteligência. Minha cabeça trabalhava a todo vapor, rebobinando várias vezes cada momento em que Indy e Cole estiveram no mesmo cômodo nos últimos seis meses, tentando entender em que momento eles deixaram de ser estranhos e começaram a agir daquela forma perto do outro. Os sorrisinhos e os olhares... Simplesmente não entrava na minha cabeça a ideia de que uma das minhas melhores amigas estava aos amassos com meu irmão.

— Queria que você escutasse a nossa nova música.

O quê?

Zack Dempsey tinha as sobrancelhas franzidas pela claridade e observava meu rosto de forma cautelosa. Eu havia me distraído em algum momento da conversa e o deixei a falar com o vento, mas era importante que o garoto não soubesse disso. Em uma tentativa de confortá-lo, eu suavizei minha expressão.

Ele tinha uma banda com dois amigos, Finch e meu irmão. O nome era The F Word — os meninos ainda estavam em um período de adaptação ao mundo da música e não tiveram medo de abraçar a fase banda de garagem. Eu não tinha certeza do comprometimento do Cole, mas sabia que os garotos amavam a música e que Finch era tão devoto a banda quanto Zack.

— Tenho certeza que vocês vão arrasar.

— Sim. Por isso você vai no nosso ensaio aberto ao público na quinta.

Um sorriso ameaçou dar as caras.

— Eu?

— Você. Sem contar que uma mençãozinha poderia atrair uma galera para o nosso próximo show.

Os orbes castanhos da cor de chocolate carregavam a determinação de um cãozinho escoteiro. Eu sequer tinha visto um em toda minha vida, mas imaginava que fosse assim.

— Vocês são péssimos a ponto de precisarem pedir a minha ajuda? — eu provoquei, cutucando as costelas dele.

Zack revirou os olhos para a minha brincadeira. Ele ficava facilmente pilhado quando sob pressão. Depois de algumas experiências desagradáveis eu aprendi que, se não quisesse ser contaminada pelo nervosismo do garoto, era melhor evitá-lo na semana de provas.

— Eu estava brincando, Zack. Vocês são ótimos — em um impulso infantil estiquei minha mão livre e a embrenhei no cabelo dele, como se acariciasse um bicho de estimação — E mais... Você não me engana. Está na cara que só está me chamando porque quer que eu convide alguma garota bonitinha para você pegar.

O garoto permaneceu em silêncio por um tempo e eu senti meu sorriso diminuir enquanto esperava por uma reação. Era inquietante vê-lo apreensivo. Parecia fora do personagem que alguém tão alto astral como o Zack se sentisse assim.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora