Capítulo XII [PARTE DOIS]

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A P R I L


O REFEITÓRIO DE ST. CLAIR era um salão espaçoso, com mesas largas e paredes de pedra. Se eu olhasse pelas janelas, veria o topo de algumas árvores e apenas parte do gramado úmido. Todo o resto da paisagem fora engolido por uma neblina espessa, que transformara os arredores do colégio em silhuetas cinzas e sombras sem forma.

Dentro do salão, os alunos foram forçados a vestir seus casacos e a abotoar suas camisas até a última casa. Eu estava prestes a me levantar para buscar um agasalho quando uma risada escandalosa me desconcentrou. Era Seth Montgomery. Ele sorria de orelha a orelha para os meus amigos, envolvido em uma conversa animada. Aquele deveria ser o terceiro ou quarto dia seguido em que Seth e Hunter se sentavam na nossa mesa e eu já havia perdido a conta de quantas vezes ouvira o som de sua gargalhada alta e melodiosa.

Por mais barulhento que fosse, o novo arranjo da nossa mesa não era tão ruim quanto parecia. Na verdade, eu me perguntava por que nunca havíamos sentado todos juntos antes. Eu e as meninas fomos superadas em número, mas estávamos tranquilas com as novas adições.

Com exceção de Jackie, claro.

— Eu assisti essa série semana passada — Seth murmurou, sacudindo a caixinha de suco para checar se havia mais. Ele e Jackie conversavam sobre séries de televisão, mas nem esse assunto conseguia ser neutro o suficiente para evitar brigas. — Parece uma versão fracassada de Friends.

— Não, a versão fracassada de Friends já existe — ela sorriu maldosa, saboreando o impacto de suas próximas palavras; — E se chama How I Met Your Mother.

— Você não disse isso — Seth estava horrorizado.

O tom da dramático da discussão chamou a atenção de todos na mesa. Eu e Finch nos calamos para observar os dois se digladiando como cão e gato.

— Porra — ouvi meu amigo suspirar ao meu lado. — A Jackie tinha que mencionar How I Met Your Mother, não é? Agora ele vai ficar histérico.

Eu avaliei os dois. Cheguei a cogitar sentar entre eles para impedir que se batessem ou algo assim, mas não precisei a fazer isso — fomos salvos pelo gongo, por assim dizer. O sinal tocou, anunciando o fim do almoço e os recém declarados inimigos mortais se separaram.

Aos poucos os alunos se levantaram, retornando as bandejas para as pilhas acumuladas próximas às lixeiras. Eu catei minhas coisas e estava preparada para me despedir quando uma movimentação do outro lado da mesa me chamou a atenção.

— Bom — Hunter se pôs de pé, espreguiçando os ombros relaxado —, eu tenho um trabalho de biologia para fazer. Você vem, Wright?

Naquele momento, congelei. Demorei vários segundos para levantar a cabeça e encarar o rosto dele, cheia de desconfiança. Eu precisava me certificar de que Campbell não falava com meu irmão, que atendia pelo mesmo sobrenome.

Quando Hunter percebeu meu olhar questionador, ele ergueu uma sobrancelha espessa, livre de preocupações. Aparentemente, um de nós não era tão bom em improvisar. Eu por procurei algo ácido para dizer em retorno, mas não encontrei.

Para minha felicidade, o resto dos meus amigos não reparou. Apenas Cole e Jackie notaram a atividade suspeita. Eles alternavam o olhar entre nossos rostos, cada um por um motivo diferente: enquanto meu irmão não escondia a confusão, Jackie sorria abertamente. Ela movimentava os lábios em silêncio, frisando cada sílaba do xingamento: "PUTA MERDA".

— Claro. — Eu respondi hesitante, me afastando da mesa. Passei as alças da mochila entre os braços e me despedi, pronta para seguir Hunter.


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