Capítulo XXIX

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A P R I L


— APRIL, QUERIDA, MAIS PARA ESQUERDA!

Primeiro, eu ouvi um estalo alto e, segundos depois, um clarão de luz atingiu o fundo da minha retina.

— Agora sorria!

Mais um flash.

E outro.

Quando eu pensei que a tortura havia chegado ao fim, a professora arrastou do tripé da Canon para trás e encarou o visor por um momento — algo em sua expressão me dizia que a nossa sessão de fotos não terminaria tão cedo.

Tudo bem.

Se eu desarmei Josh e evitei uma briga que causaria uma possível expulsão de Hunter, tirar uma maldita foto seria fichinha.

Obedeci às instruções da professora: dei um passo para esquerda, em direção a Josh.

Assim que eu me permiti relaxar ao seu lado e rir da situação, o braço dele deslizou sobre o meu ombro e o sorriso em meus lábios falhou. Josh estava muito próximo. Tão próximo que eu podia sentir o cheiro de amaciante. Definitivamente, aquela não era a situação ideal para mim — não quando Hunter parecia observar tudo de longe.

Santo Deus.

Na outra noite, um entendimento pareceu ter surgido entre mim e Hunter: nós estávamos dispostos a tentar, tentar de verdade. Podíamos não concordar em tudo, mas não havia razão para continuarmos a sofrer — não quando eu estava disposta a resolver as coisas e Hunter também. Eu não queria mais saber de joguinhos. Nós não precisávamos disso. O que precisávamos era de uma boa conversa.

E dividir uma cama, talvez.

Eu sentia falta da intimidade.

— Você precisa sorrir, querida. — A professora movia as mãos como um maestro. — Feliz, mas casual. É como conversamos: uma trajetória de sucesso começa aqui!

Atrás da câmera, o fotógrafo suspirou. Ele fazia parte do jornal da escola e, certamente, não devia aguentar mais aquela enrolação. Nenhum crédito extra valia todo aquele esforço. Entre conversas animadas e parabenizações, nós estávamos há pelo menos vinte minutos nas escadarias em frente ao ginásio.

— Isso não vai dar certo. — Dessa vez, a professora observava o visor junto ao menino e comentava baixo, certa de que não poderíamos escutar: — Eles estão tensos demais. Olha só. Dá pra manobrar um carro nesse espaço aqui.

Pelo menos, eu consegui tirar Josh do ginásio a tempo de evitar uma briga.

Convencê-lo foi fácil.

Todos já estavam sabendo dos alunos que foram parar no hospital, então, antes mesmo de cruzarmos a porta do ginásio eu havia explicado a origem dos hematomas — claro que eu deixei de fora a parte em que meu irmão era parcialmente culpado por ter arrumado problemas com bandidos locais, mas a história foi convincente o suficiente para Josh.

O que eu não estava esperando era passar uma sessão de fotos inteira grudada nele.

Após mais algumas tentativas em vão, a professora pareceu ter desistido de mim:

— Josh? Você poderia...?

Como se estivesse cansado da minha indecisão, ele me pegou pela cintura e me trouxe para perto. O pequeno troféu estremeceu entre minhas mãos e um clarão de luz me deixou cega momentaneamente.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora