Capítulo XXIII [PARTE DOIS]

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H U N T E R


QUANDO CHEGUEI EM ST. CLAIR, eu sabia exatamente para onde ir. Eu me despedi de Seth ainda no estacionamento e atravessei o campus sob uma garoa fina, mas insistente. A construção de pedra que abrigava a sede da nossa fraternidade ficava próxima ao campo de futebol. Cole Wright sempre começava seu dia lá, rodeado de gente, ouvindo opiniões criativas e atualizações sobre nossos últimos projetos — ele era o representante da Thomas e nossos colegas o respeitavam como uma autoridade dentro do colégio.

Eu queria voltar a ter o mínimo de respeito por ele, mas naquela altura do campeonato parecia impossível.

Noite passada, Cole havia colocado tudo a perder. Ninguém certo da cabeça se arriscava daquela maneira, o que me deixava com duas hipóteses: ou ele era um puta gênio incompreendido ou era um apostador compulsivo brincando com nossas vidas. Minha resposta dependia inteiramente do desfecho da situação em que havíamos nos metido.

Eu estava sentado em um canto da sala de jogos, próximo a uma janela. Bati as cinzas do meu cigarro diretamente no carpete. Minhas costas doíam contra o painel de madeira e minhas pernas estavam esticadas sobre o chão. Decidi que era melhor esperar por Cole ali mesmo, longe dos olhares inoportunos.

A "sala de jogos" era como chamávamos o espaço recreativo onde os estudantes da Thomas se reuniam para ficar de bobeira nos tempos vagos. A decoração contava com quadros antigos espalhados por um papel de parede de estampa vitoriana, cortinas vermelhas mofadas e um carpete velho que fedia a cigarro. Havia uma mesa de sinuca coberta de arranhões, uma televisão sem cabos e um piano com várias teclas faltando. Além de mim, três caras conversavam em voz baixa do outro lado do recinto — provavelmente planejavam matar aula ali mesmo.

Assim que o sinal que anunciava o início do primeiro tempo tocou, Cole surgiu no topo das escadas e seus inconfundíveis cabelos descoloridos se destacaram como um marca texto. Ele subia os degraus cercado por sua comitiva, discutindo os assuntos semanais.

— Por que não uma festa? — Finch insistiu — É muito melhor para arrecadar o dinheiro.

Quando a ideia do show surgiu, Finch foi o primeiro a apoiá-la. Ele adorava a adrenalina do palco e nunca dispensaria a chance de se exibir para uma plateia. Chegou a bater de frente com Zack em mais de uma ocasião e enfrentou a resistência do vocalista com a teimosia de um moleque de cinco anos.

Entretanto, no momento em que o show deixou de ser possibilidade e passou a ser nossa única alternativa, Finch deu para trás. Ele era um grande covarde, sempre amarelava no último segundo.

Cole não pareceu incomodado com a sugestão.

— Você se lembra do que aconteceu no ano retrasado?

Finch franziu as sobrancelhas.

— Nossa festa beneficente foi um sucesso — balbuciou agitado — Nunca vi tanta gente reunida no mesmo lugar. Nós podemos fazer isso de novo: cobrar o ingresso, alugar um ginásio, comprar as bebidas naquele armazém...

— Nunca vimos a cor daquele dinheiro, Finch — Cole o interrompeu — Trabalhamos como cornos na organização daquela festa, arrecadamos uma caralhada de dinheiro com os ingressos e a grana sumiu na mão dos veteranos.

O irmão de April estava certo.

Não havia me ocorrido na época, mas nós fomos roubados. Acho que estávamos tão envolvidos no evento que o dinheiro sequer passou pelas nossas cabeças.

— A existência de uma tesouraria faz mais sentido agora — Finch murmurou e o resto concordou solenemente.

Eles se aproximaram dos sofás e se jogaram sobre os assentos. Eu me pus de pé e puxei minha mochila sobre os ombros, apagando o cigarro no chão de qualquer jeito. Não podia perdê-los de vista.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora