Capítulo XIV

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A P R I L

MINHA MENTE ESTAVA GIRANDO de cansaço. Meus músculos, pesados contra a cama, relaxaram até que eu não cogitasse mais me mexer. Cada pequena célula do meu corpo parecia ter derretido e se transformado em geléia. Se eu me concentrasse bem, poderia sentir o cheiro de amaciante impregnado no cobertor grosso. Ele me envolvia em uma oferta irrecusável — mais que irrecusável: era impossível sair dali. A gravidade parecia exercer uma força extra sobre mim, me aprisionando contra o colchão.

Eu me deixei naufragar no escuro por trás das minhas pálpebras, flutuando até as beiradas da inconsciência em um sono tranqüilo e sem sonhos. Quando recobrei meus sentidos, passarinhos cantavam em algum lugar próximo à janela. Uma claridade acinzentada atravessava a cortina translúcida, revelando um quarto silencioso nas primeiras horas da manhã.

Se fazia frio lá fora, eu não tinha como saber.

Eu estava encaixada a Hunter Campbell em um abraço.

— Merda.

— O quê? – ele resmungou.

— Nós dormimos agarrados.

E foi bom.

— E daí?

— E daí que nós não podemos dormir de conchinha, Hunter. A gente não faz isso.

O peito dele vibrou em uma risada silenciosa e o corpo masculino se ajeitou preguiçosamente entre os lençóis, me trazendo pra perto. Os lábios dele se grudaram no meu ouvido e ele murmurou, rouco:

— Isso aqui – ele pressionou seu volume matinal contra a minha bunda, colando nossos corpos, e de repente eu me esqueci do que falávamos – Isso não é bem uma coisa romântica, April – os dedos dele trilharam um caminho pela minha pele arrepiada e se engataram no meu quadril, me puxando para si – É uma conchinha pornô.

Tinha um sorriso escondido na voz dele que me fez gargalhar.

— Tem razão – eu levantei o queixo para encontrar as íris azuis me encarando de volta – Isso é definitivamente permitido.

Hunter tinha o rosto de quem passou uma noite mal dormida, mas uma satisfação invejável moldava um sorriso em seus lábios. Eu me inclinei para depositar um beijo em sua barba rala, evitando a boca por motivos óbvios e ele fechou os olhos.

O sol se erguia vagarosamente no horizonte e nós ficamos ali, deitados em silêncio por um tempo incalculável. Não demorou muito para que raios matinais desenhassem um rastro de luz na parede, trespassando as cortinas finas para tingir tudo de um tom alaranjado. Se eu não me movesse, passaríamos a manhã inteira suspirando em contentamento, nos ajeitando um contra o outro até dormirmos novamente.

Parecia um sonho. Um delicioso fruto do subconsciente de uma mente cansada. Aquele momento preguiçoso estava longe de acabar, mas já escapava por entre os meus dedos como névoa desvanecendo na luz do dia. Resistir era inútil. Eventualmente, eu despertaria e minhas lembranças iriam embora.

Eu não vi mal algum em aproveitar um pouco antes de levantar e deixar tudo aquilo para trás. Meus olhos se fecharam e meus músculos amoleceram e relaxaram contra o colchão. Segundos se transformaram em minutos, e minutos se transformaram em uma fração imensurável de tempo. Peguei no sono junto a Hunter.

Quando acordei de novo, estava pronta para partir.


Quando acordei de novo, estava pronta para partir

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