Capítulo XX

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A P R I L


O VESTIÁRIO FEMININO DA THOMAS estava vazio. Não havia conversas sussurradas, risadas escandalosas ou bater de armários. Eu estava sozinha entre azulejos sujos e paredes mofadas, livre de olhares curiosos e pronta para tomar meu banho da maneira que quisesse.

Debaixo dos meus pés, o piso quadriculado acumulava poças de água do banho de alguém. A única fonte de iluminação do box comunal provinha de uma fileira de basculantes escondidos no topo das paredes. Eu já havia me conformado com aquele cenário saído de filme de terror, mas não deixava de ser deprimente toda vez.

Me despi enquanto a água do chuveiro aquecia. Coberta de terra como eu estava, foi difícil não espalhar a sujeira por aí. Meu consolo foi pensar que, pelo menos, eu tinha o vestiário só para mim. Eu me sentia mais segura assim.

Encostei minha testa contra a parede gelada por vários minutos. Cada jato de água contra minha pele era um alívio. Gotas corriam pelas minhas costas e desciam pelo meu corpo. Não foi fácil deixar a espuma do banho lavar meus joelhos. Estavam ralados e ardiam para caramba.

Eu tentei não pensar no porquê.

Não queria me sentir patética.

Quando as primeiras meninas chegaram, eu já estava vestida. Elas entraram no vestiário, fizeram uma pausa silenciosa e depois voltaram a conversar, como se não tivessem me visto. As que não foram gentis o suficiente para me ignorar, trocavam piadas entre si.

Não demorou muito para Jackie me encontrar. Ela usava seu maiô azul de natação e sua pele tinha um cheiro forte de cloro. Tentou falar comigo enquanto eu terminava de pentear meu cabelo, mas não dei atenção. Por sorte, Jackie não insistiu.

Eu amava minhas amigas. Daria minha vida por aquelas meninas sem nem pestanejar. Porém aquela cautela superprotetora surtia um efeito contrário sobre mim. Cada palavra suave me deixava pior. Mais frágil. Eu me sentia amolecer com todo esse carinho.

Por isso, eu fugia de consolos e abraços. Eu gostava de espaço.



Dessa vez, não era paranóia: as pessoas realmente estavam falando de mim

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Dessa vez, não era paranóia: as pessoas realmente estavam falando de mim. April Wright, a garota estúpida da Thomas, vítima de um trote cruel do time de futebol feminino. Em apenas uma tarde, eu havia conseguido me tornar o assunto do momento em St. Clair. Tinha até apostas circulando por aí em meu nome! Todos queriam saber se eu me debulharia em lágrimas ou se armaria uma cena para o colégio inteiro ver.

Só não dei o dia por encerrado porque precisava dos meus livros para estudar. Lexie poderia ter me derrotado no gramado, mas eu me recusava a deixar essa bobagem afetar meu rendimento em química. Se eu perdesse o controle sobre minhas emoções, ela venceria de novo.

Assim que alcancei meu armário, troquei os livros de mão e comecei a tatear os bolsos do meu casaco em busca das chaves. Não me surpreendi ao ouvir o som de passos ecoando no corredor atrás de mim.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora