Capítulo II

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A P R I L


DE DOIS EM DOIS MINUTOS Seth Montgomery bocejava alto, mais alto do que uma pessoa normal faria, esticando-se como um gato. Algumas fileiras para o lado, uma garota meio popular não parava de tirar fotos dos alunos adormecidos para postar na hashtag do colégio — ouvi dizer que havia um álbum inteiro dedicado aos sonolentos e eu precisava me policiar para não virar um alvo.

Estávamos todos presos na aula de ciências políticas — o último tempo antes do almoço — e cada um achava seu jeito de combater o tédio. As primeiras semanas de aula eram sempre assim: o colégio não funcionava. Nem mesmo o senhor Richards escondia estar mexendo no celular para matar o tempo. Por sorte, a insistência não muito discreta de Seth surtiu efeito porque o professor olhou para o relógio da parede e logo em seguida para a miniatura em seu pulso:

— Quem entregou o exercício feito pode sair — sinalizou a mesa dele, onde uma pilha de papel se localizava. — Só não causem tumulto, por favor.

Assim que ele terminou a frase, cadeiras começaram a se arrastar e eu cutuquei Zack, que dormia — longe de mim querer perturbar o sono do meu amigo, mas precisávamos ir. Ele levantou minimamente a cabeça, mostrando que estava ouvindo.

— Você vai sentar com a gente no intervalo? — perguntei e, mesmo com a cara enfiada no caderno, ele mexeu a cabeça de forma negativa — Te vejo depois, então.

O senhor Richards poderia não ser o mais brilhante dos professores, mas pelo menos tinha a decência de liberar os alunos antes do sinal tocar. No alto da parede, um relógio indicava que eu teria tempo de sobra para escolher uma mesa boa no refeitório. Eu não fazia ideia de quem poderia almoçar comigo hoje, mas em todo caso mandei uma mensagem para Indy e Jackie. Jackie era a terceira parte da santíssima trindade do caos, mas ela raramente aparecia no colégio antes do meio do bimestre. Com tantas festas selvagens acontecendo por aí, quem poderia culpá-la por perder algumas aulas? Se eu pudesse dormir até o meio dia sem ser enxotada para fora de casa, eu certamente o faria.

Infelizmente, essa coisa de digitar e andar nunca deu muito certo para mim. Eu estava no caminho para o refeitório, dobrando um dos inúmeros corredores de St Clair, quando dei de cara com uma figura sólida. O impacto da colisão foi tão poderoso que eu me preparei para cair no chão como um saco de batatas. Porém, antes que eu atingisse o piso gelado, um par de mãos me puxou para perto. Recuperando meu equilíbrio, eu finquei meus pés no chão e olhei para cima. Duas pedras de safira me observavam de volta cheias de cautela, próximas demais para o meu gosto. Elas pertenciam a um rosto de traços fortes e masculinos: um maxilar definido, nariz reto e sobrancelhas escuras.

Eu me afastei assim que me dei conta.

Não pode ser. Duas vezes no mesmo dia.

— Olha por onde anda — murmurei, desviando do obstáculo à minha frente.

Hunter me segurou pelo pulso gentilmente, o que me fez voltar alguns passos. Eu estava pronta para acabar com a brincadeirinha dele com um tapa quando o garoto começou a falar:

— April — ele me soltou e voltei a fitá-lo — Justamente a pessoa que eu procurava.

— Estou atrasada, Campbell — eu resmunguei mal humorada, apertando o passo para deixá-lo para trás. Porém, antes que eu conseguisse escapar, ele bloqueou a minha passagem com o corpo — Qual seu problema?

— Acredite em mim, não estou aqui porque quero — Hunter esclareceu, fazendo questão do contato visual — Estou aqui porque me mandaram te chamar.

Levantou uma mão ao alcance dos nossos rostos e, entre seu dedo indicador e o médio, havia um papel retangular que eu já conhecia bem. Campbell arqueou as sobrancelhas para mim, seus olhos brilhando em uma curiosidade atípica, e eu o ignorei, pegando a folha.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora