L E X I EAPRIL PODIA TER TRAZIDO MUITAS NOVIDADES para a vida do Hunter, mas a chatice definitivamente não era uma delas. Eu podia afirmar isso com certeza porque, depois de tantos anos de perturbação mútua, eu já estava bem familiarizada com cada faceta encantadora de sua personalidade.
Meu celular vibrou com mais uma notificação e eu o joguei dentro da bolsa.
Será que esse cara não cansa?
— O que foi? — Heather jogou seus cabelos sobre o ombro para me encarar.
Nós caminhávamos sobre o gramado de St. Clair agarradas aos nossos materiais de educação física. O primeiro sinal estava a minutos de tocar e uma multidão de alunos se afunilava para passar pelas portas do prédio principal.
— Hunter mandou mensagem de novo.
Minhas palavras a atingiram como um raio.
Heather olhou para mim como se eu tivesse confessado um assassinato. Ela morria de medo que eu sofresse uma recaída maluca e cedesse ao meu comportamento autodestrutivo favorito: transar com Hunter pelos cantos em troca de migalhas de atenção até que ele surte e acabe tudo com um término muito público e humilhante para ambas as partes.
Pois é.
Eu não podia culpá-la por pensar assim. Quem segurou a minha mão durante todos esses términos tenebrosos foi a Heather. Ela era o tipo de amiga que poderia te ajudar a ocultar um corpo. Não. Eu precisava ser justa com ela: mais importante do que ajudar a cometer crimes, Heather era o tipo de amiga que poderia te ajudar a não cometer crimes — quer dizer, se não fosse por Heather e sua habilidade extraordinária de me fazer ver a razão, eu provavelmente teria virado uma assassina em série há muito tempo.
Subindo o primeiro degrau da escadaria, eu lhe lancei um olhar e meus lábios se repuxaram em um sorrisinho impossível de evitar:
— Ele está cobrando que eu e Finch devolvamos o busto roubado, então, pode relaxar. Não é o caso de uma intervenção.
Quando alcançamos a porta, meu ombro foi de encontro ao de outra pessoa. Eu me virei pronta para pedir desculpas e encontrei Nikki Thibault me encarando com seus lábios torcidos em insatisfação.
— O que você está olhando? — eu disparei na lata.
Qualquer um que ouvisse meu tom de voz e me dissesse que eu não precisava ser tão rude definitivamente não conhecia aquela garota.
Nikki era um metro e sessenta de pura maldade. Cabelos curtos, olhos escuros e nariz pequeno. Feições delicadas como as de uma boneca. Em termos de personalidade, ela fazia Regina George parecer agradável. Quer dizer, Regina George pelo menos tinha algum carisma a seu favor, enquanto a Nikki era apenas mimada e barulhenta.
Felizmente, dissimulada do jeito que era, a garota virou o rosto sem dizer nada. Ela nunca atacava seus alvos de maneira direta. Talvez por conta de sua baixa estatura e constituição frágil, Nikki teve que aprender desde cedo a usar os outros para suas ofensivas: mandando, manipulando e difamando...
Deus sabe que eu acabaria com a raça dela se ela cometesse o erro de-
— Chega. — Heather interrompeu meus pensamentos violentos, conduzindo-me pelo braço até as portas do pavilhão. — Nós estamos atrasadas.
Para o alívio da minha amiga, eu me permiti ser guiada porta a dentro. Por mais que eu adorasse a perspectiva de começar o dia com um acerto de contas, o maldito busto continuava no carro do Hunter. Se Nikki tivesse escutado essa parte da minha conversa com minha amiga, nós todos estaríamos correndo um sério risco de expulsão — bastava ela comunicar o paradeiro do busto roubado ao diretor que nossa próxima parada seria o olho da rua.
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BULLSHIT
Teen Fiction[EM ANDAMENTO.] April Wright tem um problema. O problema dela tem olhos azuis, um sorriso que faz suas pernas estremecerem e, principalmente, uma personalidade nem um pouco encantadora. Com muita apatia acumulada era tarde demais para qualquer coisa...