Paige Wright entrou no escritório do marido sem bater, como era de costume. As estantes repletas de livros, as pesadas cortinas cor de carmim e o carpete creme que ela mesma havia ajudado a escolher — tudo isso lhe era familiar.Tudo menos a cena que estava presenciando naquele momento.
Apenas segundos atrás, ela havia interrompido os avanços desesperados do jovem casal. April e o rapaz estavam prestes a fazer deus-sabe-o-quê quando ela abriu a porta. Os dois continuavam paralisados no mesmo lugar com expressões de puro choque estampadas em seus rostos. Certamente, eles não esperavam ser pegos no flagra pela dona da casa. Paige reconheceu o garoto como um dos membros da banda de Cole — Hunter Campbell era seu nome. Ele havia tomado a frente e parecia se esforçar para falar algo.
Paige tinha certeza que o garoto falaria, assim que se recuperasse do susto.
A matriarca cruzou os braços, se preparando para ouvir uma sessão de desculpas esfarrapadas. April copiou o movimento constrangida, escondendo o próprio corpo.
Quando nenhum deles tomou iniciativa, Paige limpou a garganta:
— Perdoem-me, crianças. Eu ouvi vozes e achei que Arthur já tivesse chegado.
Paige avaliou Hunter da cabeça aos pés. A firmeza em seu olhar o atravessou como uma faca. Ela ergueu sugestivamente uma sobrancelha para o menino e deu um passo para o lado, deixando o caminho livre até a porta.
Como se as engrenagens de sua cabeça tivessem voltado a trabalhar, Hunter finalmente se afastou de April:
— Eu vou... — a voz dele era rouca e oscilante — Checar a banda.
Hunter hesitou antes de passar pela porta, olhando para trás uma última vez. No mesmo instante, April estreitou os olhos em uma ameaça silenciosa. A menina claramente não o queria ali e aquele pareceu ser o último empurrão que o baixista precisava para ir embora.
— Senhora Wright — ele a cumprimentou ao passar e a matriarca assentiu.
Paige tinha o peito inflado como se segurasse o fôlego e os lábios pintados de batom pressionados em linha reta. April sentia o rosto arder de vergonha. Preferia morrer a passar mais um segundo naquele cômodo. A menina queria apenas seguir Hunter e desaparecer.
— É melhor eu ir — April murmurou com a cabeça baixa, sem conseguir encarar a mãe nos olhos — Vou voltar a estudar.
— April — Paige a chamou. A mais nova congelou assim que ouviu o próprio nome, implorando silenciosamente por misericórdia a qualquer força superior que a escutasse. Seus pedidos, porém, não foram atendidos: — Encoste a porta e venha cá.
A matriarca caminhou até a mesa de madeira do escritório, gesticulando para que April a seguisse. Seus passos eram elegantes e graciosos, quase flutuavam sobre o carpete creme. Paige se sentou na beirada do móvel, observando a filha se aproximar toda desconfiada, e sorriu. Tinham um sorriso parecido, mãe e filha. Não se tratava de estrutura óssea ou do formato de seus lábios. Era mais do que pura genética. Talvez April tivesse lhe roubado o segredo de todas as suas artimanhas ainda no útero.
— Sabe... — ela começou e o coração de April perdeu o compasso. Paige tinha os olhos esverdeados perdidos no chão e a sombra de um sorriso brincava em seus lábios — Às vezes eu acho que você e seu pai brigam tanto justamente por serem tão parecidos.
A mãe fez uma pausa e uma ruguinha surgiu em sua testa. Era como se reorganizasse seus pensamentos antes de continuar.
— Ele leva a vida tão a sério e eu vejo isso em você, filha. Tão orgulhosos e certinhos. Vocês se cobram tanto. É sempre tudo ou nada para vocês dois — fitou a menina com carinho — Viver com tanto medo de errar não é bom. Eu estava preocupada com você, April. Eu tive medo que você deixasse sua juventude passar, ocupada demais pensando nos seus planos para o futuro — a mais velha riu, recordando uma conversa que as duas tiveram semanas antes — Eu não pensava nisso quando tinha a sua idade e, por incrível que pareça, seu pai também não. Você se esforça demais para ser adulta. — Paige sorriu de novo, dessa vez um pouco triste — Por Deus, April. Seja você mesma! Intensamente. Você vai viver essa fase apenas uma vez e precisa se soltar, não importa o que isso signifique para você. O tempo de errar é agora, filha.
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BULLSHIT
Genç Kurgu[EM ANDAMENTO.] April Wright tem um problema. O problema dela tem olhos azuis, um sorriso que faz suas pernas estremecerem e, principalmente, uma personalidade nem um pouco encantadora. Com muita apatia acumulada era tarde demais para qualquer coisa...