Capítulo XVI [PARTE DOIS]

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ATENÇÃO: Se o capítulo estiver com bugs, palavras/parágrafos incompletos, recomendo que retirem o livro da biblioteca e adicionem novamente! Caso o problema persista, desloguem aqui do wattpad e loguem de novo. Só assim pra consertar :/



A P R I L


DEPOIS DOS ÚLTIMOS SUSPIROS de ruído estático, a antena do rádio finalmente deixou de captar qualquer som e nos entregou ao silêncio da estrada. Em algum momento da viagem meus olhos deviam ter se fechado, pesados devido ao cansaço acumulado no dia anterior, e eu só me dei conta de que havia adormecido quando minha cabeça despencou para o lado, assustando toda sonolência para longe.

A paisagem ao meu redor não havia mudado: mais asfalto molhado e névoa. Descansei a testa no vidro frio enquanto o sono não voltava, observando uma manchinha embaçada surgir na janela, aumentando com a cadência da minha respiração. Só de vislumbrar o borrão verde das árvores à beira da rodovia, um princípio de mal estar começava a se manifestar no meu estômago.

Aparentemente, nem todas as leis do código de trânsito foram feitas para serem ignoradas – eu estava quase dormindo de novo quando o veículo na nossa frente ligou a seta, sinalizando que pegaria a próxima entrada à esquerda. Nosso carro deu um gentil solavanco para a mesma direção, seguindo o exemplo do primeiro, serpenteando para dentro de mais uma das inúmeras curvas daquela estrada. Aos poucos nós nos aproximávamos do acostamento, a velocidade que nos movíamos se quebrando pela metade.

– Por que estamos parando? – eu murmurei.

Hunter me checou rapidamente antes de voltar os olhos para o asfalto. Ele parecia surpreso por me ver acordada.

– Não estamos parando – acompanhei os braços dele tencionarem contra o volante, guiando o carro por mais uma curva – Tem um restaurante com panquecas incríveis por aqui. Vamos pegar uma entrada no quilômetro quarenta e um.

Eu assenti e, talvez por causa da fome ou do enjôo, comecei a sentir minha cabeça leve. Seria bom um pouco de ar fresco.

No banco do motorista, apenas silêncio. Seja lá quais fossem os pensamentos que o deixavam disperso naquela manhã, Hunter não fazia questão de compartilhar. Eu o observei correr uma mão nos cabelos escuros, desarrumando-os em toda sua glória matinal, enquanto a outra segurava o volante. Sem nenhum aviso prévio o cantinho da boca dele se repuxou para cima e eu simplesmente soube que nenhuma panqueca no mundo poderia trazer aquele ar debochado ao rosto do baixista.

– O que é?

A expressão dele se suavizou quando ele me olhou de relance. Pouco sonso.

– Nada – quando achei que cairíamos no silêncio, Hunter respirou fundo e completou: – Você só para de discutir quando está dormindo.

Não era bem uma mentira, mas eram necessárias duas pessoas para haver uma discussão.

– Sabe que eu também tive essa impressão? – eu retribuí o sorriso – De olhos fechados você é bem menos irritante, Campbell.

O silêncio dentro do carro foi pontuado por uma risada maldosa. Era o tipo de risada que me fazia analisar duas vezes o que eu havia dito em busca de alguma burrice.

– Olhos fechados, mãos subindo pelas suas coxas – a voz dele era baixa, provocativa na medida certa. – Por favor, continue. O que mais você sonhou, princesa?

Minhas mãos foram para longe do corpo imediatamente, como se tivessem levado um choque – aquela poderia muito bem ser uma descrição do que acontecera noite passada. Meu corpo, desperto e traidor, estava bem ciente disso e vibrava com a memória. Sorte minha que eu não pensava com a vagina. Com as narinas infladas eu voltei a olhar para frente, tendo a certeza de que bateria no braço do Campbell se ele não estivesse dirigindo.

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