Capítulo XI [PARTE DOIS]

43.7K 2.9K 4.6K
                                    







A P R I L


O BANHEIRO ERA UM ESPAÇO AMPLO, dividido em dois ambientes. No primeiro, um enorme balcão de mármore e um espelho de mesma extensão cobriam a parede. No outro, eu podia ver um longo corredor com seis cabines privativas de cada lado. Contrariando as minhas expectativas, não havia mau cheiro no ar ou atividades suspeitas acontecendo ali. Talvez o lugar se tornasse sombrio no mais tardar, mas, naquele momento, quando a luz matinal se infiltrava pelo vidro opaco do basculante, o banheiro parecia um bom esconderijo.

Enquanto o perigo desfilava para longe em sapatos ortopédicos brancos, eu e Hunter estávamos a sós e mais conscientes do que nunca da distância que separava nossos corpos. Mesmo de costas para Hunter, eu sabia que ele estava atrás de mim. Céus! Até de olhos fechados eu seria capaz de reconhecê-lo. Hunter me atraía como um ímã. Cada um de seus movimentos me puxava para perto, como se cordas invisíveis o ligassem a mim. Minha pele ardia por um pouco de contato e eu só queria conseguir disfarçar melhor.

Meu coração ainda batia acelerado contra a costela, ainda cambaleante por causa do susto. Aos poucos, eu senti as rédeas da situação voltarem para as minhas mãos, de onde nunca deveriam ter saído. Eu tentei me acalmar da melhor forma possível antes de encará-lo. Estávamos a sós naquele banheiro e não havia sequer um motivo razoável que justificasse toda agitação que eu estava sentindo. Fingi apreciar a pia de mármore uma última vez e me voltei para ele, sem aguentar mais um segundo daquele maldito suspense.

A primeira coisa que notei foi que, assim como os primeiros botões de seu uniforme, seus cabelos escuros estavam desalinhados. Tinha certeza que ele havia passado os dedos entre os fios na tentativa de se manter calmo. Observei seu pomo de adão descer por sua garganta rapidamente e seu maxilar saltar delicioso sob a pele. Para mim, Hunter era como um livro aberto. Eu conseguia interpretar cada linha de seu corpo tenso. Talvez por isso soasse tão absurda a ideia de me afastar: eu queria tudo aquilo, desde seus ombros largos à seus dedos calejados. Meu coração deu pulos no peito com o pensamento e eu soube que precisava ir embora imediatamente. Se ficasse, eu perderia a razão e a dignidade em uma tacada só.

Hunter umedeceu os lábios e me encarou. Seus olhos eram azuis selvagens, me devoravam com gosto. Eles passearam pelo meu rosto e se detiveram sobre a minha boca.

— Você está com ele?

Eu forcei uma risada. Precisava parabenizá-lo pelo maravilhoso senso de oportunidade. Naquele instante, meu relacionamento com Josh Halden era a última coisa que se passava pela minha cabeça. Eu não estava a fim de me tornar um prêmio nessa disputa de egos ridícula entre ele e Hunter. A resposta estava na ponta da língua, mas qualquer resquício de humor morreu assim que mirei o rosto dele novamente.

Eu estava brava, certo?

Qualquer palpitação no meio das minhas pernas definitivamente não era bem vinda agora.

Tentei desviar dele, mas Hunter aproveitou o momento para dar mais um passo à frente, me obrigando a recuar. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, fiquei a centímetros de ser pressionada contra o corpo dele. A parede atrás de mim era o apoio extra que minhas pernas não forneciam.

— Você está?

Ele irradiava calor e a minha cabeça estava girando com a fragrância masculina. Estávamos tão próximos que a respiração dele soprava alguns fios do meu cabelo para longe. Seu hálito quente fazia cócegas no meu pescoço e arrepiava minha pele. Nós ofegávamos. Era como se ele bebesse do meu fôlego.

A sensação era inebriante.

Hunter inclinou seu rosto para perto, até nossas testas se encontrarem. O contato fez minhas pálpebras pesarem. Eu não conseguia lembrar qual era a maldita resposta para sua pergunta.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora