Capítulo XV

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NOS ÚLTIMOS QUINZE MINUTOS, Arthur Wright desfizera o nó da gravata mais vezes do que poderia contar, dobrando e ajustando a tira de tecido em volta de seu pescoço, às cegas, sem nunca estar satisfeito. Aquela peça vestia como a maldita corda de uma forca.

Ele afrouxou o aperto em torno da garganta e se postou de frente às janelas do quarto. Não era uma vista espetacular: no raio de oitocentos metros não havia nada a não ser grama, árvores e a solitária via pavimentada que ligava a mansão ao resto do condomínio. Quando o sol se punha, os arredores eram engolidos pela escuridão e as janelas se transformavam em grandes espelhos negros, refletindo o interior da casa. Arthur não pensou duas vezes antes de fechar as cortinas e servir uma dose de uísque para si.

Dias antes um envelope selado chegara a seu escritório, destacando-se entre a papelada burocrática espalhada em cima da mesa — era um convite para a festa anual da firma endereçado a ele e sua família. Sua resposta inicial seria um grande e gordo não, mas Paige, sua esposa, o fez repensar. Inspirada por forças maquiavélicas, a mulher viu naquela noite uma oportunidade estratégica para se manter a par dos acontecimentos dentro da empresa.

"As pessoas falam, Arthur" ela murmurou em mais de uma ocasião, empunhando sua tradicional taça de vinho pós-ceia, como sempre tentando a todo custo fazer a mente do marido. A verdade era que a empresa velejava por águas incertas desde Junho, quando surgiram boatos sobre a nova presidência. Meses depois, um ultimato dos contadores escapou da sala de conferências e os sussurros nos corredores da firma ganharam força — simples assim, semanas de trabalho foram por água abaixo. Quem diria que uma fofoca de escritório era suficiente para mudar o rumo de negociações com parceiros comerciais.

Esses não foram incidentes isolados, ele tinha certeza. Alguém tinha que estar tomando benefícios da situação. Foi daí que nasceu o plano — se é que poderia ser chamado de plano. Naquela noite, enquanto ele se infiltrava entre os colegas, Paige se aventuraria na multidão, longe dos olhos dos advogados da empresa. Haveria pontas soltas espalhadas por todo salão e ela tinha a intenção de atacar cada uma delas. A mulher era astuta como o próprio diabo e Arthur a amava por isso.

— Preparado para essa noite? — a esposa dele murmurou, se aproximando.

Ela envolveu o pescoço do homem em um abraço, embrenhando seus dedos no cabelo curto da nuca dele numa tentativa silenciosa de relaxá-lo. Aos poucos o semblante tenso de Arthur cedeu para dar lugar a um repuxar de lábios tranquilo.

— Apenas enfrentando alguns problemas técnicos.

Paige se permitiu admirar o marido por alguns segundos. Queixo forte e quadrado, cabelos cor de areia com princípio acinzentado e o mesmo sorriso torto de sempre destacado por algumas linhas de expressão. Era exatamente o homem com quem ela subira ao altar anos atrás.

— Eu adoraria te ajudar com isso — a mulher por fim quebrou o silêncio, indicando a gravata do marido — Mas você sabe que eu sou melhor em desfazê-las.

Ele riu fraco. Aquela maldita tira de tecido.

– O que eu faria sem você, Paige?



– O que eu faria sem você, Paige?

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