Capítulo XXV [PARTE TRÊS]

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H U N T E R


QUARENTA E CINCO MINUTOS HAVIAM se passado desde a última vez em que vira April. Ela desaparecera diante dos meus olhos como em um truque de mágica. Não estava atrás do palco, nem na pista e nem no bar. Chequei até a porra do banheiro feminino. Duas vezes. Não sei como não apanhei.

Misturado à multidão, meus olhos procuravam por ela. Um vislumbre de seus cabelos, o som de sua risada ou o contorno de seu corpo. Tudo que eu queria era um sinal de que April estava bem.

Eu não conseguia esquecer o maldito sorriso que ela tinha em seus lábios antes de sumir.

Ela me assombrava, mesmo sem saber.

Por que April tinha que deixar o backstage? Por que não continuar ali, como eu pedi?

Porra. A teimosia daquela garota era tão perigosa quanto qualquer outra arma. April havia encontrado uma maneira eficiente de me torturar, dessa vez sem seus caprichos habituais ou jogos de palavras. Minha mente não descansava, atravessava milhares de possibilidades desastrosas enquanto o alvoroço bêbado do bar se fechava ao meu redor.

Inferno.

Eu não podia continuar a enganar minha consciência: se qualquer coisa acontecesse a April, a culpa seria minha. Ela não tinha como saber que o irmão havia emputecido uma gangue de motoqueiros. Eu mesmo garanti que essa informação não chegasse aos ouvidos dela.

Espera.

Onde diabos estavam Milo e Ziggy?

Meu estômago se revirou na pior das expectativas.

Quando eu estava cogitando retornar ao backstage, o espatifar de uma garrafa contra a parede me fez estremecer. Procurei a origem do barulho, ombros rígidos e mãos cerradas em punhos. Poucos metros atrás de mim, espuma e bebida escorriam livremente sobre o balcão de madeira. Os clientes atingidos pelas lascas de vidro se levantaram desorientados, sem entender o que havia acontecido.

No próximo segundo, o som inconfundível de ossos colidindo contra carne atravessou o pub e gritos inflamados varreram a multidão. Curiosos abriram caminho à cotoveladas, atraídos pelo sangue como abutres. Bem no olho do furacão, havia um garoto do time de futebol cambaleando para trás com o rosto ensanguentado. Ele caiu sobre uma mesa e copos de vidro estouraram contra o chão. Um homem o agarrou pelo colarinho e desferiu outro soco, deixando a marca de seu punho em sua face direita. Não muito distante, um sujeito mal encarado avançava contra um adversário que não chegava a ter nem metade do seu tamanho.

Porra. Não precisava ser um gênio para entender o que acontecia ali. Os homens que instigavam o tumulto tinham a mesma insígnia costurada em suas jaquetas. Sick Rabbit. Eles queriam confusão. Qualquer um que estivesse no alcance de um braço poderia se tornar o próximo alvo.

O lugar era um maldito abatedouro.

Eu precisava encontrar uma saída.

Uma cadeira foi arremessada contra o bar e a multidão se dispersou como um bando de ratos. Os alto-falantes ficaram mudos e as vozes desesperadas se diluíram em um ruído indistinto. Era cada um por si. Com um ombro à frente do corpo, eu caminhei contra o movimento, em direção ao palco. Havia uma porta no backstage, meus amigos deveriam estar lá, transportando os últimos cases de instrumentos até o furgão.

April precisava estar lá.


April precisava estar lá

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