Capítulo VIII

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A P R I L


NO MOMENTO EM QUE Jackie Foster apareceu na minha frente, eu soube que havia algo de errado. Eu não esperava encontrá-la perambulando pelos corredores de St Clair em suas sapatilhas de boneca antes da metade do bimestre, quando — segundo Jackie — os professores largavam a moleza das férias e começavam a dar matéria para valer. Apenas algo realmente interessante a faria pendurar as roupas de festa antes de outubro.

Jackie abriu um sorriso assim que nossos olhos se encontraram e gloss rosa claro cobria seus lábios cheios. Os cachos castanhos estavam mais definidos desde a última vez que nos vimos, presos em um rabo de cavalo feito às pressas. Senti falta dos brincos de argola que sempre enfeitavam suas orelhas.

— Então, April — ela me saudou assim que pisei para dentro da escola — Você sabe que dia é hoje?

Eu a conhecia bem o suficiente para saber que havia algo subentendido naquela pergunta. Cansada de procurar por significados obscuros, eu me rendi a uma resposta segura:

— Quinta.

Jackie não se contentava com obviedades. Ela moveu a mão no ar, como se me estimulasse a desenvolver o assunto, e as correntinhas em volta de seu pulso fino acompanharam o movimento suave. Para a menina, o código de vestimenta de St Clair era mera convenção social. Ela transbordava individualidade em forma de pulseiras, unhas pintadas em cores desbotadas e tudo mais que conseguisse pensar.

— Isso mesmo — ela me parabenizou. Estava claro que não tínhamos o mesmo ânimo para charadas — O que acontece às quintas-feiras?

— Jackie — eu procurava meu armário pela numeração enquanto a menina me seguia — Você está me fazendo pensar e ainda não são nove da manhã.

Ela deveria saber que eu não era ninguém sem minha dose matinal de cafeína.

— É o ensaio da banda do Zack! Dessa vez você vai?

Eu nem lembrava disso. A banda do Zack também contava com outros membros ilustres como: Cole Wright, Finch Abberley e, recentemente, Hunter Campbell. Esse último dispensava comentários. Minha cara provavelmente deve ter denunciado minha falta de ânimo.

— Prometi ao Zack, então eu vou.

— Só assim mesmo. Você é boa demais para aparecer em um bar daquele lado da cidade — a morena revirou os olhos castanhos para mim — Deus nos livre se você for vista saindo com outros Thomas.

Jackie cruzou os braços, esperando uma resposta a altura, e nós paramos em frente ao meu armário.

— Mas é claro — eu franzi o cenho. — Em circunstâncias normais, eu precisaria de mais do que alguns copos de álcool para ser vista do seu lado.

O comentário arrancou uma risada debochada da minha melhor amiga. Eu pesquei meu chaveiro dentro da mochila, mas antes que conseguisse abrir o cadeado, fui surpreendida por uma aproximação repentina.

— Bom dia, March.

Aquela voz.

Eu reconheci quando era tarde demais.

O par de íris azuis veio antes, de modo que eu estava atordoada demais para dar conta do conjunto inteiro. Hunter estava muito próximo. Ele sussurrava ao pé do meu ouvido quando eu me virei assustada. O canto de sua boca sempre inclinado para cima, cheio de más intenções, me recepcionou de tão perto que nossos narizes quase se tocaram. O garoto me lançou um último olhar antes de se afastar e eu segurei meu chaveiro com força, sentindo o metal da chave pressionado contra a minha mão.

BULLSHITOnde histórias criam vida. Descubra agora