Depois de cinco horas de treino e academia, tive tempo apenas para uma pequena pausa para almoçar, antes de ir até a região central de Nova York, para continuar minhas aulas de dança do ventre.
— Que molho ruim. — Remexi minha salada caprese com molho de mostarda.
— Quer trocar? — Charlie ofereceu sua salada de folhas verdes, grão de bico, tomates cerejas e queijo branco com molho shoyu.
— Eu te amo. — Sorri, pegando sua tigela de cerâmica e entregando a minha.
Não era sempre que almoçávamos juntas, já que raramente nossas agendas coincidem. Mas quando é o caso, gostamos de vir até um café saudável ao lado do Hamerson Rink, chamado Honey Seed.
Enquanto tomava um gole do suco de acerola, uma fruta brasileira, olhei curiosa para Charlie, que digitava algo em seu celular enquanto soltava sorrisinhos bobos.
— É o cara altamente secreto que você não quer me contar a respeito?
— Existem limites na vida, sabe. — Charlie colocou o celular em cima da mesa.
— Por que não me conta? Elijah é fofoqueiro, eu até entendo, mas eu? — Toquei em meu coração, fazendo drama.
— Não é nada demais. Nós nem ficamos ainda, ele estava na festa do West na semana passada. Não tem muito o que contar, e se eu contar... enfim.
— Hm... — Comentei garfando um quadradinho de queijo branco. — Você me enrola muito fácil, mas vou deixar quieto por enquanto.
— Obrigada. — Ela deu um gole em seu suco de abacaxi e hortelã. — E não estou enrolando, é a plena, simples, e totalmente entediante verdade.
Meu instinto sabia que havia mais nessa história do que ela realmente deixava transparecer. Charlie não se envolve com muitas pessoas, prefere que as coisas não sejam sérias então costuma fugir de compromissos. Mas sempre foi aberta a respeito de suas paqueras.
— Bem, já eu risquei Jordan da minha lista. Ele é lindo, encantador e galanteador. Mas extremamente...
— Homem? — Completou rindo.
— É! — Dei risada. — E foi desrespeitoso, vai saber como deve ser depois, perdi toda a vontade de beijá-lo.
— E você... Brigou com Covington? — Charlie perguntou olhando para o canudinho de seu copo.
— Não. Ele só disse umas bobagens bêbado, nada coerente, aquilo que te contei no Uber. — Será que eram bobagens mesmo?
— Aham... — Charlie engoliu um tomate.
— O quê? — Parei de comer.
— Só falo se prometer não ficar brava.
— Como vou prometer se não sei o que é? — Charlie encarou-me. — Tudo bem, tudo bem! — Cedi, e ela respirou fundo.
— Dois anos atrás, 15 de fevereiro? Não sei direito mas enfim, — Eu sei. — Lembro-me de sentar-me com você nas escadas de incêndio do seu apartamento com uma garrafa de tequila. Éramos próximas mas você tinha essa ferida aí dentro que não mostrava para mim, e Elijah tinha muito medo de você para me contar. — Charlie suspirou. — O meu ponto é: depois de meia garrafa, você deitou no degrau e relatou tudo sobre aquela bendita noite e me colocou em dia a respeito de Covington.
Me remexi inquieta. Meus amigos sabem que não costumo cair e demonstrar fraquezas, mas naquele dia perdi minhas estruturas. Não sei se contei porque senti que confiava cegamente em Charlie, o que provavelmente não devia ser o caso já que criei problemas de insegurança, ou se contei porque esse dia, em específico, não é fácil para mim.

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Shattered Ice
RomanceO DESTINO É FEITO DE GELO Quando se é uma patinadora artística, baseia-se na confiança. Nos outros, e em si mesma. O gelo é o nosso fiel confidente, um reflexo de nossa alma. Prometemos manter o gelo que nos desliza por nossos destinos intacto, ...