Memories On
— Há muitas especulações a respeito, mas estima-se de acordo com o testemunho do antigo historiador Hellanicus, que a primeira carta manuscrita registrado na história foi escrita pela rainha persa Atossa, por volta de quinhentos anos antes de Cristo. — Edward, o professor de inglês, trocou os slides. — Desde então, o manuscrito de cartas se tornou uma febre para ser o primeiro meio de comunicação, perdurando até os séculos seguintes, principalmente no século dezenove em que foi criada a Arte Epistolária, que constituía poemas, declarações de amor e liberdade de expressão por meio de tinta e pergaminhos.
O professor Edward começou a distribuir papéis de carta pela sala de aula.
— Então hoje vinte e três de janeiro, para comemorar o Dia Nacional da Carta, quero que todos escrevam uma carta de até trinta linhas. — Arrumou os óculos de grau. — E de no mínimo quinze. O tema é livre mas deverão ser escritas para alguém, não necessariamente um de seus colegas de classe. Um parente, seus pais... A lista é livre. Estão no nono ano e já tiveram aulas para aprenderem a como escrever uma carta decente, assim espero. Como não temos um pombo-correio, iremos enviá-las pelo correio, e isso contará como atividade para o fechamento da média trimestral, então não tem essa de "não quero fazer". — Ele olhou para o relógio de pulso. — Vocês tem quarenta minutos.
— Vai escrever o quê? — Alec cutucou meu ombro na cadeira traseira.
— Não sei. — Me virei. — Talvez uma declaração para Dylan Simpson ou Collin Emmins do terceiro ano.
— Está brincando, não está? — Alec ergueu uma sobrancelha.
— É claro, idiota. — Dei risada. — Eles que tem que escrever uma carta para mim.
— Que bom que não perdeu todo o juízo.
— E você vai escrever para quem?
— Talvez meu tio Jen que mora no Kansas. Seria bom ir visitá-lo, estou com saudades de Lou, Lia e Leo.
— O trio de cavalos?
— Não me olhe assim. — Alec me picou com a caneta. — Você gostou deles quando fomos lá no verão passado.
— São bonitinhos. — E apavorantes! — Espera, por que nunca escrevemos uma carta um para o outro?
— Porque estamos sempre um do lado do outro, mal mandamos mensagens de texto, quem dirá cartas.
— Mas cartas são importantes, Alec. Estão sendo esquecidas, sendo que são a forma de comunicação mais íntima e pura.
— Podemos escrever se não importar-se delas chegarem na velocidade da luz. — Alec abriu um sorrisinho de canto. — E o pombo-correio ser eu.
— Então melhor eu rezar para a carta chegar inteira. — Dei risada da careta de Alec.
— Cartas devem ser importantes, então só vamos enviá-las se o assunto for muito emergencial.
— Ou se estivermos longe um do outro, tipo do outro lado do oceano.
— Improvável pra caralho mas tudo bem. E nós poderíamos mandar mensagem.

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Shattered Ice
RomanceO DESTINO É FEITO DE GELO Quando se é uma patinadora artística, baseia-se na confiança. Nos outros, e em si mesma. O gelo é o nosso fiel confidente, um reflexo de nossa alma. Prometemos manter o gelo que nos desliza por nossos destinos intacto, ...