XXXIV

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Memories On

— Há muitas especulações a respeito, mas estima-se de acordo com o testemunho do antigo historiador Hellanicus, que a primeira carta manuscrita registrado na história foi escrita pela rainha persa Atossa, por volta de quinhentos anos antes de Cristo. — Edward, o professor de inglês, trocou os slides. — Desde então, o manuscrito de cartas se tornou uma febre para ser o primeiro meio de comunicação, perdurando até os séculos seguintes, principalmente no século dezenove em que foi criada a Arte Epistolária, que constituía poemas, declarações de amor e liberdade de expressão por meio de tinta e pergaminhos.

O professor Edward começou a distribuir papéis de carta pela sala de aula.

— Então hoje vinte e três de janeiro, para comemorar o Dia Nacional da Carta, quero que todos escrevam uma carta de até trinta linhas. — Arrumou os óculos de grau. — E de no mínimo quinze. O tema é livre mas deverão ser escritas para alguém, não necessariamente um de seus colegas de classe. Um parente, seus pais... A lista é livre. Estão no nono ano e já tiveram aulas para aprenderem a como escrever uma carta decente, assim espero. Como não temos um pombo-correio, iremos enviá-las pelo correio, e isso contará como atividade para o fechamento da média trimestral, então não tem essa de "não quero fazer". — Ele olhou para o relógio de pulso. — Vocês tem quarenta minutos.

— Vai escrever o quê? — Alec cutucou meu ombro na cadeira traseira.

— Não sei. — Me virei. — Talvez uma declaração para Dylan Simpson ou Collin Emmins do terceiro ano.

— Está brincando, não está? — Alec ergueu uma sobrancelha.

— É claro, idiota. — Dei risada. — Eles que tem que escrever uma carta para mim.

— Que bom que não perdeu todo o juízo.

— E você vai escrever para quem?

— Talvez meu tio Jen que mora no Kansas. Seria bom ir visitá-lo, estou com saudades de Lou, Lia e Leo.

— O trio de cavalos?

— Não me olhe assim. — Alec me picou com a caneta. — Você gostou deles quando fomos lá no verão passado.

— São bonitinhos. — E  apavorantes! — Espera, por que nunca escrevemos uma carta um para o outro?

— Porque estamos sempre um do lado do outro, mal mandamos mensagens de texto, quem dirá cartas.

— Mas cartas são importantes, Alec. Estão sendo esquecidas, sendo que são a forma de comunicação mais íntima e pura.

— Podemos escrever se não importar-se delas chegarem na velocidade da luz. — Alec abriu um sorrisinho de canto. — E o pombo-correio ser eu.

— Então melhor eu rezar para a carta chegar inteira. — Dei risada da careta de Alec.

— Cartas devem ser importantes, então só vamos enviá-las se o assunto for muito emergencial.

— Ou se estivermos longe um do outro, tipo do outro lado do oceano.

— Improvável pra caralho mas tudo bem. E nós poderíamos mandar mensagem.

Shattered IceOnde histórias criam vida. Descubra agora