Shattered Ice

XXIII

Uma das coisas mais terríveis que podem acontecer é, em um dia em que está exausta e com sono, não conseguir dormir profundamente por conta de sua própria mente.

Fui dormir logo após o jantar no quarto de hóspedes ao lado do de Jacob e acredito que tenha dormido por três horas, até que mesmo forçando, não conseguir pegar no sono outra vez. Peguei o meu celular na cabeceira ao lado e vi que são 3:05. Deveria acordar em uma hora e sair até às 4:30, já que hoje meu treino começará às 6:00.

Desisti de rolar incansavelmente pela cama e levantei-me, caminhando até o lavabo da suíte para realizar minhas higienes matinais. Toda a situação envolvendo Jordan deixou-me verdadeiramente apreensiva, e por alguma razão, nesta noite pensei mais em Alec do que em qualquer uma antes.

Prometemos meses atrás não tocar no assunto daquele dia. Não comentar nada a respeito, e muito menos jogar farpas um no outro novamente. Por mais que não tenha parado de sentir-me aflita com a situação, não quero voltar a passar os meus dias odiando e brigando com ele. Querendo admitir ou não, havia uma parte de mim que estava com abstinência de sua presença.

Mas nem sempre podemos evitar tudo que queremos na vida.

Ao sair do lavabo, decidi ir até o lado de fora já que a chuva havia passado, a fim de correr ou treinar um pouco. Além de obrigatório, especialmente após o desempenho anterior, é um dos meus escapes para desocupar a cabeça em tempos nebulosos.

Fiz uma trança embutida em meus cabelos que secaram naturalmente da forma mais desalinhada possível e dei o meu máximo para sair do quarto de maneira silenciosa. A casa estava com as luzes totalmente apagadas e tão quieta quanto jamais poderia estar.

Caminhei até a porta de vidro da cozinha e agradeci mentalmente por não ser barulhenta. Então pisei do lado de fora e tive que levar alguns segundos para que minha ficha caísse. O terreno livre da casa realmente é astronomicamente enorme, como uma colina privativa. Grandes e altas árvores e pinheiros adornam os arredores enquanto uma grande piscina feita de pedras brutas ao redor da borda, centraliza-se ao meio do jardim. Atrás em uma distância e altura menor enxerguei uma construção, provavelmente algo como um pequeno... celeiro. E a parte impressionante estava escondida entre alguns arbustos de flores roxas, lavandas. Uma trilha modernizada com cascalhos de madeira para ajudar no trajeto e um corrimão de madeira. É longa e vai até muito abaixo da latitude. Vi uma ou duas lâmpadas soltas durante a trilha para iluminar o caminho mas creio eu que quem resolve utilizá-la à noite, sempre esteja carregando uma lanterna ou lampião.

Porém, curiosa, resolvi descer. Liguei a lanterna do celular e comecei a descer os degraus de madeira, enquanto as únicas coisas ao meu redor eram a natureza e o próprio céu. Demorei provavelmente cerca de cinco minutos contados no relógio para descer toda a colina, mas finalmenre cheguei ao misterioso destino.

Pensei que fosse outro campo, mas é, na verdade, uma praia. Ouvi as ondas batendo e li o que estava escrito em uma placa ao lado do fim da escadaria.

"Aurora East Beach."

Antes que pudesse pensar na origem do nome, o que vi fez com que meus joelhos quase cedessem. A praia contém pouca, mas existente, iluminação. Porém mesmo se não houvessem postes de luz, isso já iluminaria o local da maneira mais fascinante e fantasiosa possível.

As ondas do mar são cintilantes. Fosforescentes e realmente brilhantes. Como se fosse um efeito cinematográfico desses que vemos em Hollywood. A água é de um tom de azul-marinho, porém assim que as ondas aproximam-se da costa, tomam uma coloração mais clara e marcante. Um azul nítido com pequenas bolinhas — semelhantes a um pó de contos de fadas ou partículas mágicas — bioluminescentes.