Shattered Ice

XI

Memories On

— Amanhã nós temos um voo para Toronto e você quer falar sobre cachorros?

— Tenho que beijá-la outra vez para convencê-la que um cachorro, fofo, dócil e inofensivo não vai fazer nada? — Alec mordeu o lábio inferior, me olhando.

Abandonamos a formatura — e os nossos pares, que no fim das contas estavam com outras pessoas fumando — e decidimos pegar algo para comer. Então Alec dirigiu até o drive-thru do Tim Horton, o café mais famoso e tradicional do Canadá, e pedimos alguns bagels de baunilha e dois cafés gelados.

Ainda estava ensopada da chuva, então Alec entregou-me um cobertor que tinha no porta-malas. Não fazia nem uma hora que havíamos nos beijado e eu já ansiava por mais. Porém ainda estou presa no mundo imaginário aonde tudo é perfeito. Estou ignorando o fato de não saber se estraguei nossa relação e que amanhã nossas vidas mudarão para sempre.

E que tenho que convencer Eve que vou morar com Alec, e não com ela.

Posso pensar nisso tudo depois. A noite do baile é a última em que seremos apenas dois adolescentes em Barrie.

— Eu sou meio alérgica... — Fingi tossir. — Viu?

— Você é péssima. — Alec jogou um pedaço de bagel em mim. — Vou lhe mostrar o filhote e quero ver se vai achar tão horrível assim.

Alec largou o café no apoio do carro e me mostrou uma foto em sua galeria do celular.

Era um filhote muito pequeno e peludinho de husky siberiano. Os olhos eram da mesma cor dos meus, e a pelagem era preta e branca. Ele parecia um pequeno lobo da neve.

— Bem, é fofinho. — Tomei um gole de café e coloquei as pernas no colo de Alec, apoiando as costas na porta do carro.

— Eu te conheço, sei que está revirando-se por dentro, coração de gelo. Ninguém resiste a esse cachorro. Vamos lá, ele se dá bem com temperaturas baixas, o que é melhor para uma dupla do gelo?

Alec ainda estava me mostrando a foto do filhotinho e imaginei vários cenários com o cachorro no meio. Estava mesmo cedendo.

— Se encontrarmos o nome perfeito eu deixo, é menina ou menino?

— Menino. Que tal Tuty?

— Que nome é esse? Olhe para esse cachorro, ele merece algo melhor! — Pensei um pouco. — Zeus?

— Todos os cachorros do mundo chamam Zeus. — Alec franziu o cenho e mordeu o bagel, acariciando minha perna, o que devolvia arrepios ao meu corpo.

— Eu sou horrível em dar nomes-

— Neve! — Interrompeu-me.

— Você xinga Zeus e propõe Neve?

— Não! — Alec exclamou apontando para a janela. — Está nevando!

Virei-me para a janela e vi que vários flocos de neve começavam a cair. Era a primeira vez que nevava em Barrie em dezembro. Só costumávamos ter geadas e muita chuva.