Shattered Ice

XXXVII

ALEC

Cinco anos atrás.

— Safira, você tem essa mania incorrigível de não falar as coisas. — Estacionei o carro em frente à sua casa. — Uma hora atrás estava no meu colo me beijando e dizendo que aceitava todas aquelas coisas. — Suspirei, retirando o cinto de segurança e virando-me em sua direção. — Por favor, o que foi?

— Não é nada demais... Talvez, talvez devêssemos ir com calma.

Eu realmente estive apenas esperando pelo segundo em que ela mudaria de ideia. Gosto dela há mais de cinco anos e em um piscar de olhos, estamos nos beijando. Por mim, isso já estava claro há muito tempo, mas para ela? Conheço o quão insegura é, e não, não imaginei que fosse retribuir o beijo, muito menos falar do futuro Orion e coisas do tipo.

— Está arrependida? Não deveria ter te beijado? — Passei as mãos pelo cabelo e soltei uma risada nervosa. — É claro que não, céus...

— Eu não disse nada disso! Só acho que estamos decidindo coisas muito importantes em um espaço de tempo muito curto. Talvez devêssemos manter as coisas como estavam antes, só por alguns dias.

As sequelas de um casamento completamente desenfreado para o caos, uma perda familiar tão grande e tão cedo e uma mãe ausente transmitem dificuldades negativas para a vida de Safira. Não estou a culpando, mas era quase impossível que ela não desenvolvesse medos para se relacionar, estruturar compromissos e ver uma beleza — da maneira que vejo pelo menos — em um relacionamento.

Isso também me causava certa insegurança de dar algum passo para demonstrar meus sentimentos a ela, porque não sabia como ela reagiria. Mas aparentemente, talvez a euforia de tudo isso tenha sido demais. Eu realmente tenho que me lembrar de que o fato dela ter me beijado de volta e ter feito planos à flor da pele em duas horas não significa que está apaixonada, ou que sente o mesmo que sempre senti.

— É só... Um tempo. — Safira desafivelou o cinto de segurança e envolveu meu rosto em suas mãos, direcionando o meu olhar ao dela. — Uma respirada de ar, entende?

— Então vou deixar que respire de mim. — Disse, com um fundo de mágoa e honestidade.

Safira tem dezoito anos, e é uma pessoa que precisa de tempo para tomar as próprias decisões. Ela precisa formular e reformular cada hipótese de cada mínima situação para calcular os prós e contras e decidir se vale a pena ou não. Ela não teve segurança e uma fundação para apoiar-se durante a vida, então tenta direcioná-las para suas escolhas, tenta retomar o controle pessoalmente.

Eu sei que sou relativamente impulsivo. Na verdade, não encaro como impulsividade e sim liberdade. Eu faço as minhas escolhas e não volto atrás, e geralmente essas escolhas podem ter um caráter duvidoso para as outras pessoas ou serem arriscadas demais, mas não poderia me importar menos. Mesmo assim, claro que penso nas situações como um todo, então se decidi fazer algo para começo de conversa, há uma razão.

Minha família é extremamente unida. Sempre estive rodeado de tios, tias, primos, tataravôs entre outros membros, e nós realmente fazemos tudo juntos: almoços, reuniões de família, festas e viagens, por mais que grande parte more no interior dos Estados Unidos. Por isso, sempre participamos das decisões uns dos outros. O que todos achavam, ou esperavam, era que eu fosse jogar com uma bolsa de esporte em alguma faculdade de renome, como as da Ivy League, e também teria um bacharelado como consequência. Não importava se eu ia seguir a carreira ou não, mas seria parte de jogar em uma faculdade. O plano desde que eu era criança era de dar duro nos jogos interescolares, conseguir uma vaga, passar quatro anos dividindo o tempo como universitário e jogador, para então, seguir uma carreira 100% focada no hockey em um time de grande porte. Se tudo corresse como o planejado, isso seria alcançado até os meus vinte e dois anos e a vaga no time seria algo automático, já que os atletas que se sobressaem nessas faculdades geralmente recebem a grande sorte de terem o auxílio enorme da instituição e dos diversos olheiros que fazem rodízios nos campeonatos.