XXVIII

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Sinto-me em uma entrevista de emprego. Charlie e Max estão ocupando uma das mesas encostadas na parede do Green Leaf com inúmeros papéis, listas de maternidades, planos de parto, finanças... É uma bagunça.

O mês de setembro anda resumindo-se a muitos afazeres caóticos, e ser madrinha de um bebê não é nem o maior deles. Estou tentando equilibrar os treinos pesados — muito mais do que o normal — para as Seccionais, a pressão diária de Andrew em minhas costas, meu emprego para conseguir manter-me de pé e pagar minha mãe, apoiar Charlie agora que o bebê completou quatro meses e... Alec.

Em relação a Alec, estou cumprindo o meu papel de melhor amiga, quer ele queira ou não. Deixei claro que sempre que possível, acompanharia ele nas consultas que tivesse — em segredo — e que ele precisa me deixar a par de todas as informações ou sobre seu estado de saúde. Não vou aceitar ser deixada no escuro novamente.

A parte ruim é que continuamos na mesma, apesar de apenas duas semanas terem se passado desde o meu aniversário. A parte boa é que ele continua estável, ou seja, não teve nenhuma alteração em sua saúde ou algum episódio. Por mais que o Campeonato Regional esteja se aproximando, entrei em consenso com Matteo e Dimitri que Alec precisa ao menos reduzir os treinos.

Alec sempre cuidou muito bem de mim quando ficava doente ou me acidentava nos treinos, e agora estou devolvendo o favor. Menti para os meninos do NYF dizendo que Alec precisava me acompanhar com mais frequência nos treinos, e por isso o sumiço. Na verdade, estávamos ocupados em por exemplo, exames de coleta de sangue — o que por sinal, o deixa muito rabugento ao fim, mas nada que um pedaço de pizza não ajude. E mando mensagem com frequência durante o dia para lembrá-lo de medir sua pressão, o que é uma das formas de prevenção imediata que encontramos caso algo venha a acontecer. Talvez se tivesse feito isso quando começou a sentir o primeiro sintoma em Barcelona, tivesse encontrado um jeito de controlar mais cedo.

"Atividades físicas não interferem em nada", ele repete isso toda hora, mas continuamos inseguros já que seu estado é muito inconclusivo. Por mim, ele pode resmungar e fazer birra como uma criança, vou continuar insistindo para que reduza seu comportamento de super-homem.

Ele ama jogar, é a sua vida. Nós atletas temos a insistente tendência a sermos teimosos, focando cegamente no gelo e esquecendo que nossos corpos não são feitos de aço. Briguei com ele, mas se tivesse que reduzir os treinos, seria ainda pior.

E para completar o circo, Aisha está na cidade há uma semana reinstalando sua vida e reunindo-se com seus advogados. Isaac é quem está mais a par do andamento das coisas já que está dando um apoio enorme para ela,  praticamente morando em seu apartamento.

Ainda não tive tempo de conhecê-la pessoalmente, mas isso não parece importar tanto, já que ela está comprometida em me ajudar. Seja lá o que Alec disse para convencê-la em Barcelona de ajudar uma desconhecida, funcionou.

Hoje inverti o meu turno pela primeira vez com a bartender vespertina, Kristen. Também expliquei a situação para Eve e pedi para que treinássemos de manhã e à noite, para que eu pudesse trabalhar de tarde. O meu turno está chegando ao fim, e por isso estamos no horário de troca, que fica entre o fim da tarde e o começo da noite, aonde fechamos o estabelecimento por uma hora para fazer a limpeza do local, manutenção e a troca de funcionários e cardápios. Como é a única uma hora que tenho livre, pedi para que Charlie, Max e Alec viessem fazer a "reunião" aqui.

O que, pensando bem, ficou meio estranho. Talvez os padrinhos de um bebê não devessem decidir sobre a guarda dele dentro de um bar. Mas é o que temos para hoje.

— Então, conversei com os meus pais, meus avós, os amigos da família, minhas irmãs, minhas tias, minhas primas, meus primos de segundo grau... — Max tagarelava sem fim, tentando organizar a pilha de papéis em cima da mesa. — E por mais que eu confie em vocês, preciso fazer algumas perguntas.

Shattered IceOnde histórias criam vida. Descubra agora