XIII

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Por um segundo, ou talvez até mais de um minuto, pensei que iríamos escapar dos limites mais uma vez. Estaria mentindo se dissesse que quando adormeci longe dele, não fiquei matutando em minha cabeça como seria sentir o gosto dos seus lábios, seu toque em minha pele, por pelo menos mais uma vez.

Duas estruturas cerebrais em particular — a ínsula e o estriado — são responsáveis pela progressão de nossos desejos sexuais, e do amor. Se tivesse que escrever uma tese sobre elas, baseando-me no desempenho de ontem à noite, acredito que teria 100% de confirmação de que elas estavam rodeadas de caos.

Mas é como se na última noite um raio tivesse realmente acertado-me na floresta e eu tivesse perdido a noção, ou meu cérebro tivesse, de fato, derretido. Ele disse tudo aquilo mas não explicou plausivelmente o ocorrido. Eu não fui embora, mas ele sim. Posso apagar isso afinal sem um pedido de desculpas? Quem está dormindo ao meu lado?

Não somos as mesmas pessoas de cinco anos atrás, mas preciso decidir se isso é uma coisa boa ou ruim.

Acordei sentindo-me sufocada. Literalmente, parecia que além de não conseguir me mover, não tinha como o ar circular em meus pulmões. Abrindo os olhos lentamente, lutando contra a claridade do sol que começava a adentrar a sala, percebi o motivo do sufocamento.

Estava coberta da cintura para baixo, e deitada de barriga para cima, com uma enorme bola de pelos em cima de mim. Orion estava totalmente desmaiado, e sua cabeça aninhava-se abaixo do meu queixo. Ele é tão grande que consegue ocupar mais da metade de meu corpo. E para completar, Alec estava ao meu lado, com apenas uma perna no sofá — que era o que cabia — e a outra no chão, enquanto seu braço direito abraçava Orion por cima do meu corpo, e o esquerdo aninhava minha cabeça.

"É melhor mantermos uma distância segura". Não sei se adiantou muito eu ter dito isso ao nos separarmos na noite passada — com muito esforço — se agora acordei dessa forma, sem nem saber como.

Quando pensei em tentar mover-me ou acordar Alec, escutei um barulho. A porta estava se abrindo. Orion acordou em um pulo e deu um impulso com tudo no meu corpo, latindo feito louco enquanto corria para a porta, em seu modo de defesa.

Com isso, uma mulher de cabelos grisalhos usando um avental com a logo do Chinchester Village derrubou o balde de água com sabão no chão e deu um grito alarmante.

Assustei-me e sem querer dei um murro na cara de Alec, que gritou "porra" e terminou de ficar completamente fora do sofá, rolando para o chão.

— Vou chamar a polícia! — A funcionária exclamou contra a parede, já que estava sendo bloqueada por Orion. — Adolescentes insuportáveis!

— Ainda tenho cara de dezoito anos mesmo, tem razão. — Um sorriso preguiçoso escapou dos lábios de Alec. Ele permanecia no chão cobrindo os olhos com o braço.

Levantei-me pegando um cobertor para me cobrir e joguei uma almofada na cara de Alec.

— Levanta agora!

Orion ainda estava latindo e assustando a funcionária. Deveria achar que ela é uma ameaça.

Alec suspirou e levantou-se, batendo duas palmas para Orion.

— Filho, aqui!

Orion foi até o lado de Alec e eu me aproximei da funcionária.

— Se quiser sentar, podemos explicar tudo.

Desconfiada, tocando em seu peito, ela concordou.

E lá vamos nós.

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Shattered IceOnde histórias criam vida. Descubra agora