XXVII

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Virei-me para trás e enxerguei Alec apoiado em uma pilastra envolvida de vigas de rosas vermelhas. Estava vestindo um par de jeans claros e um pouco rasgados com uma camisa, provavelmente de seda, branca enfeitada de flores pretas.
Calçava um all star branco e incrementou o visual com uma corrente prateada com uma pedra ônix como pingente.

Me levantei do puff de imediato e praticamente corri em sua direção. Talvez seja apenas impressão por não vê-lo há três meses, mas parece diferente. Suas longas e selvagens ondas deram adeus, e agora seus cabelos estão bem curtos, quase raspados, formando apenas uma coroa dourada em sua cabeça. E seu rosto parece mais magro, e consequentemente maduro. Seu maxilar, afiado como um estilete, está mais enfatizado. Suas maçãs do rosto mais salientes. E com a falta de tanto cabelo, seus olhos parecem ainda maiores, ainda mais azuis e impressionantes.

Alec parece ter sido esculpido com uma régua e a precisão perfeita. Milimetricamente e matematicamente simétrico. Um rosto que uma vez que enxerga, é incapaz de esquecer.

A única coisa é que seus olhos pareciam, talvez, um pouco cansados. Olheiras com fundos arroxeados que não são comuns de se enxergar abaixo de seus olhos, além de algumas recentes linhas de expressões nos mesmos lugares. Provavelmente frutos de rotina extensa que levou nos últimos meses.

Mais uma vez, parecemos ter tido o mesmo reflexo, e por isso, não sei quem abraçou quem primeiro.

Mas foi um abraço diferente. Não foi eletrizante, desesperado, amigável ou romântico. Foi terno, até mesmo um pouco melancólico. Alec pressionou a palma da mão em minha nuca, enquanto meu rosto repousava em seu peito. Sua outra mão agarrava, com um pouco de força e urgência, minha coluna. Sinto o vício e o calor emanado de seu corpo em minha espinha.

Era como se tivesse acabado de voltar da guerra ao invés de uma temporada de jogos.

Não tivemos a oportunidade de conversar tanto durante esses meses, já que nossas agendas não batiam e o fuso horário atrapalhou. No máximo durante a madrugada, quando perguntava sobre os jogos, e após Alec encontrar Aisha, mantínhamo-nos a par da situação um do outro para ter certeza de que tudo estava correndo como o planejado.

Mesmo assim, sinto que talvez, os cinco anos em que ficamos longe um do outro possam ter, de alguma forma, fortalecido o significado de distância para nós. Três meses não pareceram terem sido suficientes para mexer negativamente em nossa relação, seja ela qual for. O tempo e o espaço parecem coisas distantes, e incapazes, de alcançar o nosso laço.

Achei até mesmo estranho Alec, do jeito que é fofoqueiro e estava tão ansioso por isso, não ter me contado por ligação sobre Aisha. Um dia antes de avisar-me, por mensagem, ele me ligou, mas no dia seguinte disse que foi sem querer e que não era nada demais. Lembro-me de ter atendido no meio do treino mas não escutar sua voz, até a ligação ser interrompida bruscamente.

Nos separamos do abraço de forma suave e lenta, e então tive a oportunidade de olhar rente em seus olhos. Ele piscou algumas vezes e abriu o seu original e encantador sorriso, afastando a angústia que parecia estar sentido para longe.

Estou cansada de ficar longe dele.

Bom dia. — Estudou o meu rosto. — Gostei da franja. Não é todo dia que Safira Varson resolve mudar.

Sorri com o bom dia, já que não achava que ainda lembrava-se. Isso confortou um pouco o meu coração.

— Aquele aplique falso mudou a minha vida. — Sorri, lembrando-me do aplique de franja que utilizei no último programa. — Não acredito que não tive a chance de despedir-me do seu cabelo.

Shattered IceOnde histórias criam vida. Descubra agora