Memories On
— Gelado, gelado! — Gritei, aproximando-me do rio congelado.
Como tinham tantas pessoas patinando?
— É óbvio que é gelado! — Alec suspirou, amarrando os cadarços dos patins. — Achava que era quente?
— Eu sei como deve ser! — Franzi o cenho, olhando ao redor. Mamãe estava tomando chocolate quente em uma das barraquinhas da feira de inverno, lançando-me um olhar de reprovação.
Estralei o dedo indicador de nervoso e logo me corrigi, mamãe sempre diz que isso deixa os dedos mais grossos.
— Safy, vamos! — Alec estendeu a minúscula palma da mão direita em minha direção. — O gelo não é do mau, boba.
Arrumando meu agasalho com flores azuis que vovó costurou no meu aniversário de sete anos, peguei a mão de Alec.
O garotinho de cabelos loiros como o nascer do sol abriu um sorriso que fez com que me sentisse aquecida, mesmo em meio ao rigoroso inverno canadense.
No Canadá é difícil encontrar alguém que não patine, porém Alec faz isso tão bem e ele só é seis meses mais velho do que eu! A única coisa que sei fazer é andar de patins com papai fora do gelo. Não sei como ele é tão bom em tudo.
Alec foi até o lago e ajudou-me a subir. Imediatamente segurei em seu braço com o rápido deslize e falta de segurança em meus pés.
— Finja que está andando, dê passos abertos para a esquerda e entao, direita... É como nadar!Pensa naquele peixe bagre que você acha engraçado.
Dei risada lembrando de quando fomos ao aquário com a escola e vimos o peixe bagre. Alec e eu discutimos durante todo o caminho para casa sobre qual era o mais estranho, e fiz o peixe bagre ganhar.
Voltando ao foco, coloquei força nos movimentos, mas mal consegui sair do lugar e me apoiei em Alec, que mesmo sendo apenas alguns meses mais velho, já era bem mais alto.
Ele me deu um olhar reconfortante. A espiral azul,
como o mar de seus olhos parecia mais forte com os flocos de neve caindo ao redor.— Feche os olhos e segure em minha mão.
Fiquei confusa mas não desconfiada, jamais poderia desconfiar de meu melhor amigo.
Fiz o que pediu e Alec segurou em ambas as minhas mãos. Minhas pernas pareciam feitas de pedra e meus pés de gelatina, isso faz sentido? Não sei, mas mal conseguia me mover. Então respirei fundo e lembrei que suas mãos estavam ali, comigo.
Logo senti a brisa gelada em meu rosto. Meus cabelos começaram a escapar da touca azul e felpuda, como o meu agasalho. Ao abrir os olhos, percebi que estava do outro lado do lago, e uma mão minha estava livre.
Sorri e alegremente resolvi soltar a outra mão de Alec. O gelo já não me parecia tão apavorante assim. Patinei lentamente e virei-me para acenar para minha mãe, mas ela estava de costas e não me viu.
— Menina, cuidado! — Ouvi um homem gritar alarmado enquanto patinava rapidamente em minha direção.
Tentei correr ou patinar de costas como Alec mas não sabia o que fazer, então em pânico apenas desviei, perdendo o equilíbrio em meu tornozelo.
Fechei os olhos, esperando a queda inevitável.
— Ei! Está tentando beijar o gelo? — Alec perguntou, forçando uma risada, mas com o peito acelerado e com as bochechas mais rosadas do que o normal.
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Shattered Ice
RomanceO DESTINO É FEITO DE GELO Quando se é uma patinadora artística, baseia-se na confiança. Nos outros, e em si mesma. O gelo é o nosso fiel confidente, um reflexo de nossa alma. Prometemos manter o gelo que nos desliza por nossos destinos intacto, ...